segunda-feira, novembro 21, 2005

Uma Entrevista Imaginosa - Parte II

Continua aqui a entrevista a Rio da Graça, conforme prometemos. Relembremos que interrompemos a transcsrição quando o nosso estagiário se tentava, atrapalhadamente, justificar perante o senhor super-vereador por uma observação menos feliz.

RG: Mas de que carências fala ? A Omita do Tejo de Cima é uma nova centralidade e como tal não tem carências que interesse destacar, mas do que é que fala ?
AV3: Muitas desculpas, senhor vereador, excelência, eu apenas estava a pensar em...
RG: Não pense ! É o que lhe está a fazer mal. Eu já proibi os meus subordinados de pensarem. Olha que lindo resultado seria se pensassem e se começassem a duvidar da justeza das minhas decisões ?! É que um eleito tem a legitimidade do voto que esclarece e santifica o seu pensamento !
AV3: Volto a pedir desculpas, senhor da Graça !
RG: E pede muito bem, vamos lá... que essa de começar a pensar não se repita. Pergunte o que veio perguntar e ficamos bem !
AV3: De acordo, excelência. Então, vejamos, onde é que eu ia ? Ah.... já sei... Falávamos do PDM...
RG: Sim, sim... o PDM essa peça estruturante do desenvolvimento sustentado da Omita como nova centralidade.... confesso que sinto por esta proposta de PDM um carinho muito especial.... quase como um filho... só que com uma gestação mais longa e um empenho maior do pai. É como se tivesse sido eu a gerá-lo.
AV3: pois, mas não teve uma equipa a acompanhá-lo e a ajudá-lo em todo este processo ?
RG: Sim, mas como lhe disse os meus subordinados, todo o pessoal técnico não passa de um prolongamento de mim próprio, os membros execuutores dos desígnios por mim transmitidos, responsáveis pela passagem ao papel da minha visão de Progreesso e Modernidade.
AV3: E então poderia dizer aos nossos leitores de que forma a sua criação, o PDM, permitirá o desenvolvimento sustentado do concelho.
RG: Mmmmm ?? Desculpe ???
AV3: Não quer concretizar de alguma forma as suas afirmações ?
RG (com ar desconfiado): Cá para mim voltou a pensar mas... eu concretizo, eu concretizo, deixe estar !
AV3: Muito obrigado...
RG: Como lhe disse a Omita irá tornar-se uma nova centralidade nesta grande região que é o arco ribeirinho da margem de cá do rio e, dessa forma, graças aos novos acessos e infraestruturas essa centralidade afirmar-se-á de forma inequívoca na grande Área Metropolitana em que nos inserimos, a qual, por sua vez, está carente de uma nova centralidade que só a Omita lhe poderá trazer.
AV3: ????
RG: Então.... não pergunta mais nada ?
AV3: Ahhhhh.... estava à espera da concretização das suas propostas....
RG: Mas não fui suficientemente claro e específico ?
AV3: Bem... foi, foi.... mas se pudesse ir ainda um pouco mais fundo nas questões talvez os leitores menos conhecedores pudessem entrar melhor no assunto.
RG (de cenho franzido): Não sei como posso ser mais claro !
AV3: Bem.... senhor vereador, excelência, que tal começar por identificar as principais iniciativas ou obras com que pretende afirmar essa tal centralidade de que fala.
RG: Ahhh ! Isso ! Obras !!! Pos, eu de obras gosto. Podemos falar nisso, sim....
AV3: Então, faça favor.
RG: Pois, eu começaria por dizer que o Poder Central tem desprezado o investimento nesta zona e que tudo o que tem corrido mal é da sua responsabilidade. Já tudo o que tem sido feito sob a minha coordenação e do senhor Presidente tem sido feito sempre de forma oportuna, atempada e atendendo às necessidades das populações.
.....
....
AV3: O senhor vereador não quer concretizar essas obras por si coordenadas ?
RG: Se faz mesmo questão.
AV3: Já agora...
RG: Então a coisa é assim: onde há coisas velhas é deitar abaixo e fazer novo. Onde há espaço, tipo campos, pinhais ou outras coisas do género é desmatar, cortar e construir, enfim,, aquilo que é normal para o Progresso avançar.
AV3: E quanto ao património histórico edificado ?
RG: Quanto ao quê ?
AV3: O património histórico, coisas que revelam o passado das terras do concelho.
RG (de nariz torcido): Isso é para ir abaixo, não interessa a aninguém. Aquilo é só velharia, os mortos são para enterrar.
AV3: Ahhh.... e quanto ao património natural, à paisagem, às espécies de árvores protegidas, às margens do rio....
RG: O que é que tem isso tudo ?
AV3: Pergunto se devem ser preservados ?
RG: Se devem ser o quê ? Você está um pouco confuso...
AV3: Pergunto-lhe se não se deveriam proteger zonas com vegetação nativa e construir só em zonas urbanas onde o espaço já está meio ocupado e a precisar de consolidação.
RG: Não percebo. Você queria que fossemos construir onde não há espaço ? Ou onde é preciso integrar as novas construções no que já existe ? Isso não faz sentido. Só se for em zonas onde renda o investimento. Se formos para o campo, é só cortar as árvores e fazer a coisa a nosso gosto, já viu a Vila Lilás ou aquele loteamento da Quinta da Francesa Feia, aquilo é que é... e dá muito menos trabalho aos empresários com quem trabalhamos e que são pessoas empreendedoras e simpáticas.
AV3: Mas não acha que....
RG: Lá está você outra vez a pensar no que não devia.
AV3: mas sabe que há críticas a essa sua maneira...
RG: Gente invejosa, tipos com quem andei à escola e que não suportam o meu sucesso.
AV3: Mas... serão só....
RG: Claro, claro, gente invejosa, gente sem qualificações, sem ética, sem moral, gente que nunca fez nada pela sua terra como eu, que tenho um passado de dedicação à causa comum, um logo percurso de serviço ao Partido, digo, desculpe, à comunidade. Os meus críticos são pessoas que acreditam que se deve protestar de forma impune em relação aos poderes instituídos, sem seguir os trâmites legais da burocracia.
AV3: Mas não é o que senhor fez ainda há pouco quanto ao Poder Central.
RG: Mas isso é completamente diferente !

(Continua...)