terça-feira, maio 09, 2006

Antropologia Taurina - O Léxico

Uma coisa maravilhosa do mundo taurino é o código linguístico em que os iniciados/aficionados se expressam entre si.
É assim a modos como os surdos-mudos com a linguagem gestual, sem desprimor para estes. Ninguém percebe nada, mas um tipo gosta de apreciar.
Ele são os termos coloridos e as expressões enigmáticas; ele é a retórica agressiva e o emaranhado pleonásmico das frases. Ele é o rabejar mais arrastado do que pensávamos ser a língua portuguesa, transformada num dialecto digno dos indígenas do Kalahari, ou mesmo da ribeira de Gaia.
Enfim, tal como o Porto, aquilo é um mundo.
No caso em apreço, que surge em 1ª página do nº 326 do jornal Farpas, a nossa Bíblia antropológica do momento, ficamos a saber que há mais verdade quando o toiro está desembolado.
Ora, desculpem lá, perdoem-me os especialistas, mas um toiro desembolado já nem é touro, nem nada.
Então se lhe tiram as bolas, o que lhe resta senão uma triste murchidão onde devia estar uma pujante bovinidade ?
Pouco mais do que uma vaca lésbica!
É o que eu penso e opinião minha é tão legítima como qualquer outra.
Pode vir lá o senhor dos forcados, no meio do jornal, a dizer que tal e coiso, o touro desembolado é um perigo maior para os artistas e assim é que se veria a coragem desses "artistas".
Desculpem-me lá, mas "desembolado" o toiro, passa ele a ser o "artista" e duvido que represente perigo para quem quer que seja, mesmo para a vaca teenager com o cio mais violento da lezíria ribatejana e arredores.
Eu cá custa-me que se desembolem os toiros.
Já com os gatos é a mesma coisa.
Eu sei que eles ficam mais sossegados e deixam de fazer aquelas mijinhas irritantes e mal-cheirosas pela casa, mas a desembolação é uma crueldade que se faz aos animaizinhos.
E até lhes pode provocar traumas do caraças e nós sabemos bem a rareza e o preço a que estão os veterinários psiquiatras.
E a questão da verdade também é muito relativa, já lá dizia o outro.
Se o touro já era um pouco abichanado, pode ser que desembolado fique mais próximo do vitelo alegre que já tem dentro de si.
Mas só nesses casos.
Nos outros deixem-nos lá com as bolas, que um toiro sem bolas é como um aficionado sem cornos.

Zé Tércio

5 comentários:

Anónimo disse...

Vamos todos ao Campo Pequeno pelas 20 horas dar força à "ANIMAL" e lutar contra os toiros de morte!
afficcionados p'rá arena, já!

Meu caro e distinto amigo con esta prosa e esta analise vai ser convidado na certa para orador da apresentação da Revista Tauromaquia, cujo novo número sai para as mãos da afficion no próximo dia 20 de Maio, pelas 22.00 h num burladero da Moita.
Os convites já estão a seguir por express mail para os felizardos que ouvirão deliciados a sua prédica a fovor desse nobre animal que é o toiro.
Toiro sim, mas inteiro!

AV disse...

O dia 20 de Maio representa uma efeméride cá em casa de natureza conjugal pelo que, com lágrimas a escorrerem-me pelo rosto, terei de declinar eventual e honroso convite.
Chuifffff....

(mas quardem-me uma revista!)

Anónimo disse...

Ironia cáustica muito conseguida.

É um prazer pertencer ao grupo dos 250 que por aqui passa diariamente.

Mas, olhe lá, ó Senhor Tércio, o que é que o Porto tem a ver com as suas touradas, ou a ribeira de Gaia ?

Aliás, se quer estabelecer paralelismos geográficos, mais vale assumir que Gaia está para o Porto, como Alhos Vedros para Lisboa.

Só que em Gaia não há touros. Bois não faltarão seguramente - acredita-se que a sua distribuição pelo continente e ilhas seja equilibrada.

(É o ressabiamento do 2º lugar. Certo ?)

Já que aí para cima se falou na "Animal", não quer versar numa sua crónica estes "defensores" dos animais ? Olhe que também estamos perante um linguajar próprio...

Abraço ou, como se diz antes da faiena "sorte".

AV disse...

Bom dia amigo Carneiro,

A referência a Gaia deve-se ao facto de, em meados dos anos 80 quando lá passei pela 1ª vez em "roda livre", digamos assim, ter tido direito a apreciar aquele falajar em que saiem naturalmente quatro palavrões a cada três palavras.

Quanto aos "animalistas" também não lhes tenho assim uma grande admiração pois, não sendo apreciador de boiadas, não tenho grandes problemas com os toiros de morte.
E não acho isso paradoxal.
Porque até acho que antes morto da praça de toiros do que no matadouro.
Só os queria era a lutar de igual para igual com os outros, todos "desembolados".

k7pirata disse...

Boa prosa, eh eh eh.