Esta passou-se em 1989 e é mais do campo da anedota.
Já tinha acabado a tal pós-graduação que tanta falta faria a alguns técnicos locais, e fui trabalhar para um organismo público, através de concurso, tendo entrado graças ao currículo e à desistência do tipo que era suposto lá ter ficado, mas que arranjou coisa melhor.
Comigo entraram mais duas pessoas para um departamento em que toda a outra malta era efectiva.
Nós éramos contratados por 12 meses, à experiência.
Passado um par de meses lá veio a greve da praxe, acho que pela Páscoa ou pelos feriados desta época, garantindo uma daquelas "pontes" apetecíveis como as deste ano.
Confesso que era novo no sítio, não queria chatices, as "reivindicações" relativas ao escalonamento da carreira não tinham nada que ver comigo e, numa atitude de perfeito "reaccionário", apareci no local de trabalho com mais um ou outro colega.
Estupidez e ignorância profundas.
Então não é que o delegado sindical era - coincidência do caraças - o mesmo tipo que tinha as chaves que abriam a porta lá do sítio e que estava no "piquete" a garantir a certeza de que ninguém arranjava uma gazua ?
Perguntei-lhe se ele achava que fechar a porta e impedir-me a mim e a mais alguns outros de trabalhar era uma forma de respeitar a nossa liberdade ?
Não tendo chegado à tradicional ameaça física em que era useiro, porque não me conhecia muito bem e eu até tinha na altura um ar pouco amigável, mimoseou-me com os qualificativos da praxe, desde o singelo "reaça de merda" à acusação de falta de solidariedade com os colegas de trabalho em greve.
Enfim sou pessoa de não me chaterar a sério, apesar do que parece.
Virei-lhe as costas e cumprimentei-o pela acumulação de funções (delegado sindical+chaveiro).
Na semana seguinte voltámos ao trabalho.
Ninguém me chateou e o resto do tempo que lá trabalhei até foi extremamente agradável porque a secção era de pessoal que se "encolhia" mais do que outra coisa para não ter chatices e por isso eu até me tornei bem visto por não me ter calado.
O que não deixei de reparar é que o delegado sindical em causa e os seus amigos do piquete arranjavam sempre maneira de terem umas deslocações extra com ajudas de custo e umas horas extraordinárias pagas a tempo e horas, ao contrário do resto da maralha, a começar por mim que fora do horário do expediente devia trabalhar em regime de voluntariado.
E, pelo que me contaram e pelo que mais tarde fui vendo, essa não é uma prática muito rara em certos meios.
Mesmo alguns, aqui bem próximos.
É que não há defensor mais encarniçado dos trabalhadores e dos seus direitos, a começar pela greve, como aqueles que sabem que nada têm a perder com tal activismo. Tanto pela forma como intimidam, como pelas cumplicidades existentes com as chefias.
Muito pelo contrário.
Zé Reaça
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