A minha carreira laboral começou nas primícias de 1987, primeiro como aluno de um curso de pós-graduação financiado pelo mítico Fundo Social Europeu e depois como trabalhador do meu ofício propriamente dito.
Logo nesse ano vi-me metido em duas movimentações de contestação mais ou menos laboral que, por terem características muito específicas (a uma aderi alegremente, a outra nem por isso), não vou descrever, pois facilmente se identificariam e eu agora não me apetece.
Vou apenas contar o meu primeiro confronto com a dura realidade das movimentações "sindicais" de inspiração partidária, em que o que está em jogo é tudo menos o interesse da arraia-miúda.
A coisa foi assim.
A malta queria fazer greve porque estávamos no 1º governo - minoritário - do Cavaco e era urgente deitá-lo abaixo.
Vai daí estavam todos de acordo desde os MRPP aos PS mais moderados em que greve é que estava a dar.
Já na época, mais do que agora, eu tinha mau feitio e o hábito de rentar perceber o que é que seria melhor para o mexilhão.
E, para espanto geral, com mais um colega tão idealista como eu, vi-me no meio de uma reunião para decidir se havia ou não havia greve, pois acabei escolhido para representar o meu departamento na dita reunião.
Coisa gira de se ver, num grupo de 30 cabeças vermelhas ou rosadas, éramos talvez uns 4 sem cor, cercados por todo o lado de malta mais velha, com estaleca na função e instruções bem precisas sobre o queos mandantes queriam que ali se passasse e concluisse.
Mas como sou chato e tendo a não me dobrar à primeira investida, lá fui tentando demonstrar que porventura a greve não era a melhor maneira de atingirmos os nossos objectivos e que haveria modos mais insidiosos para isso, mesmo se não tão espectaculares.
Mas como o que me interessava era melhorar a situação dos meus colegas, trocava bem o espalhafato pela eficácia.
E a reunião foi-se alongando da manhã para a hora de almoço.
Nisto aparece-me um outro colega à porta a chamar-me de jornal na mão - na altura A Capital - onde já se noticiava que a reunião onde eu estava já tinha decidido que haveria greve.
Isto antes de sequer ter sido feita qualquer votação ou se ter atingido qualquer tipo de plataforma comum de entendimento entre os vários sectores envolvidos na contestação.
Um habilidoso tinha saído da reunião a meio da manhã para dar a "cacha" a um outro amiguinho no jornal, por forma a tornar a coisa como facto consumado.
E assim foi a minha primeira, e acho que penúltima, participação numa reunião de tipo sindical, do lado de "dentro".
Escusado será dizer que, perante a notícia, desanquei alarvemente os responsáveis óbvios pela "fuga" e sai pela porta fora.
Já nessa altura não gostava muito da desonestidade pessoal e da duplicidade política de quem quer representar seja quem for com rigor e transparência.
Nâo desisti logo em 87 de acreditar em sindicalismos só por causa disso (já tinha antecedentes de coisas parecidas na família), mas nos anos seguintes a coisa só ria piorar.
Zé Operário
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Anarquia é a solução.
Social-fascismo não !
Anarcarima, Amacarina, Ana Carina ?
Ah ,já me lembrei, ANALMARGARINA !
Para alguns a ANALMARGARINA deverá ser utilizada com AREIA.
Enviar um comentário