sábado, maio 06, 2006

O que corrói, corrompe

Na 5ª feira, a Visão trouxe uma peça (já aflorada no A Sul) sobre os esquemas de corrupção em Portugal, que não adianta muito ao que já se sabe a partir do livro de Maria José Morgado e José Vegar sobre o tema. Da falta de investigação criminal que induz a sensação de impunidade aos vagares burocráticos a pedir "óleo" nas engrenagens, não esquecendo os meandros das políticas de urbanismo e o triângulo construção civil/autarquias/futebol, lá se identificam os "sete pecados da corrupção" e se alinham algumas soluções.
Uma novidade "triste" é que de acordo com os dados do Banco Mundial, mo âmbito da OCDE ainda somos dos corrompidos mais "baratos" que se arranjam, por comparação com países da nossa igualha.
Ou seja, corruptos por dez réis de mel coado, que é o tipo de corruptos mais embaraçosos que existem, aqueles que por qualquer coisinha se deixam levar.
Coisa absolutamente brutal é a proporção (mais de 50%) de empresas que consideram a possinilidade de presentear os inspectores do fisco, em caso de visita destes. Pois... como as prendas devem ser baratas, até compensa.
Já o retrato-robot dos corruptos activos e passivos é absolutamente redundante.
Claro que entre 80 e 90% são homens, casados e com idades entre 26 e 60 anos, pois é esse o retrato da maioria dos responsáveis por empresas e dos funcionários por onde passa a obtenção de facilidades.
A larga maioria não tem antecedentes criminais (90% entre os passivos e mais de 70% entre os activos) pois todos sabemos que para se ser preso por actividades deste tipo é preciso muita habilidade ou falta de jeito.
Apenas 344 arguidos por corrupção entre 2000 e 2004, 242 dos quais condenados, com uma queda de processos por peculato de 85 para apenas 51 no mesmo período explicam muita coisa.
E depois querem que nos fiemos nos sistemas de investigação criminal e judicial para detectar e sancionar os prevaricadores.
Há sempre uma escuta que foi mal feita, uma cassete que desaparece, um monte de papelada que caiu para o triturador, ou mesmo processos que nunca avançam para o topo do monte.
Brincamos não ?

Zé Cunhas

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