quarta-feira, novembro 09, 2005
Secção Nostalgia - As Más Leituras
Às vezes interrogo-me porque será que tenho tão mau-feitio e tenho tendência para não encarneirar com a maioria que me rodeia.
No meio de betos centristas, sou um comunista relapso, no meio de comunas ortodoxos, sou um fascista a bater. Quando me cruzo com bloquistas bem-pensantes torno-me um cinzento conservador, mas quando dou de caras com um ajuntamento do Bloco Central torno-me um extremista radical.
Claro que para os católicos sou um ateu e para os ateus sou um frouxo, tolerante com alguns rituais da religião.
A resposta está nas más companhias e nas más leituras.
Sobre as más companhias escreverei em outra ocasião, embora tenham sido elas que estiveram na origem das más leituras. Uma dessas más companhias foi um dos meus avôs que me ensinou as primeiras letras pelos 4-5 anos (detalhe autobiográfico com a sua pontinha de homenagem comovida), despertando-me para a livralhada; outra foi o AV2, esse traste, que na época crítica da adolescência me forneceu muitas das leituras subversivas que me deformaram.
Mas quanto às leituras propriamente ditas, uma das primeiras foi este livro com a tradicional história do Gato das Botas, o sacana do felino mais manhoso da história da literatura infantil que, na base da mentira e da dissimulação, acaba por tornar quase toda a gente feliz (menos o maldoso feiticeiro, se bem se lembram), dos trabalhadores do campo a Sua Majestade e sua filial princesa, casada com o inventado Marquês de Carabás.
Que raios...
Isto é maneira de educar e edificar uma criança ?
Uma história cujos fins justificam os ínvios meios ?
Depois admiram-se que eu tenha acabado como acabei, com a verrina sempre na ponta dos dedos.
AV1 (a criança retardada)
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