quinta-feira, fevereiro 16, 2006

A Bricolage e Eu

Minhas amigas e meus amigos, quando tiverem qualquer pequena reparação a fazer em casa já sabem a quem se devem dirigir: a qualquer pessoa menos eu.
Eu e a bricolage é uma relação tão estreita como, vá lá, alguns políticos e aparelhistas locais e o sentido de humor.
Nascemos de costas voltadas.
Mas hoje, e porque a minha miúda fez o favor extremo de me partir as dobradiças da porta que esconde o raio de um electrodoméstico encastrável, aproveitei a desculpa da fila monstruosa na A2 para virar para o centro-sul e ir àquela nova catedral que dá pelo nome de Leroy Merlin.
Vamos lá a ver se eu consigo explicar-vos a minha sensação perante aquele tipo de loja, que bate de longe os AKIs, as Assicomates e os Mestres Macos que já frequentei por necessidade e nunca por prazer ou vontade espontânea...
A sensação é de... de... sei lá... é uma sensação de que aquilo deve ser muito entusiamante para alguém muito diferente de mim.
Eu no IKEA, por exemplo, ainda tenho onde fazer um lanchinho ou mesmo uma refeição sentadinho, a olhar à volta e coiso e tal.
Agora ali, não. Só dá para comer de pé e ala que se faz tarde, vamos lá à procura do que interessa.
E, meus amigos, ali dentro o meu grau de interesse fica-se pelas figuras de colar na parede para os quartos de criança.
Uma serra de esquadria a mim deixa-me frio, frio, mesmo quando vejo três belos exemplares de macho latino a exaltarem as suas potencialidades técnicas.
Um compressor para mim é algo que faz comprimidos.
Uma rebarbadora é algo tão interessante como o próprio nome indica logo.
E então aqueles 50 berbequins em exposição só me conseguem prender o olhar pelo sortido de cores.
Claro que achar o raio da dobradiça certa que eu precisava está muito fora das minhas capacidades.
O mais engraçado é que também parece estar fora das possibilidades dos empregados da loja, que olharam (empregado raso proveniente do Ceará e responsável local pela secção de parafusos, roscas e outras coisas pequenas feitas em metais brilhantes) para o meu espécime partido com ar de profunda estranheza, respondendo-me com aquele ar cantado que a fala brasileira tem que já iam ali ver se havia em stock e já voltavam.
Claro que primeiro o rapaz foi tomar um cafézinho, enquanto o chefe foi á vida dele, pelo que eu alegremente tive tempo de me ir embora, sem o artigo de que necessitava, mas muito impressionado pelo ar satisfeito da clientela e pela boa iluminação e gestão do espaço.
Olhem, eu até acho que a minha máquina de lavar tem muito bom aspecto assim à vista, pois é de boa marca e até quebra a uniformidade monótona do mobiliário da cozinha.
Eu logo volto lá em Março para ver se encontro algum funcionário ucraniano, engenheiro de formação, que me possa valer.

AV1

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