terça-feira, fevereiro 14, 2006

Coisas que me irritam (parte 235 de 982634)

É verdade.
Mais um motivo de irritação para mim são as publicações que, dando sempre palavra aos mesmos, anunciam com grande destaque que os leitores podem e devem participar, incitando mesmo ao envio de textos para publicação.
Há muitos anos que não sou ingénuo.
Não gasto o meu tempo a escrevinhar para depois a coisa não aparecer, ou aparecer toda truncada num cantinho esquecido que ninguém lê.
Em 20 anos devo ter escrito para aí uma meia dúzia de vezes para a imprensa de âmbito nacional.
À primeira fui logo publicado - e em espaço nobre de jornal dito "de referência" - mas acho que alguém não percebeu o que estava lá escrito ou então alguém me ajudou em tal destaque.
A partir de então, a sorte ou o talento nunca mais me acompanharam e só tive direito a duas publicações na secção de cartas, com os textos todos retalhados.
Por isso, há muito que deixei de exercer a minha indignação por essa via.
É inútil, só nos faz perder tempo e ter ilusões de democracia participativa por obra e graça de uma imprensa "independente".
O Vasco Pulido Valente escreve essencialmente o mesmo há vinte e tal anos (dizendo mal, á vez, de quem aparece), desdiz-se ao ir para o parlamento na fase nogueirista do PSD, volta a desdizer-se ao demitir-se e retoma o mesmo mote de sempre ? No problem, é sempre publicado e bem pago.
O Miguel Sousa Tavares faz mais ou menos o mesmo que o VPV, apenas há um pouco menos de tempo, com um pouco mais de pontaria em matérias ambientais, e em mais completo desvario quando se fala de futebol ou tabaco ? Os jornais disputam-no para as suas colunas.
A Constança Cunha e Sá, a Clara Ferreira Alves e a Clara Pinto Correia dissertam há anos sobre pouco mais do que nada ? Ninguém se incomoda e lá continuam firmes e hirtas no seu posto.
O António Barreto há 20 anos que acha que o destino o injustiçou e que é o maior investigador social do hemisfério norte ? Continue assim que o Público paga.
A Maria Filomena Mónica acerta 1 em 5 crónicas, do alto da sua sapiência aristocrática, que se permite derramar sobre a plebe ? Há sempre lugar para mais.
Em matéria económica todo o ex-Ministro das Finanças tem algo a dizer sobre o mau estado das ditas, logo que abandona o cargo ? A coerência que se vá às urtigas, tome lá mais duas páginas para dizer tudo aquilo que os outros (que não ele) deixaram por fazer ou fizeram mal.
O Mário Mesquita foi designado especialista-mor em matérias comunicacionais, o Francisco José Viegas em livralhada e o Boaventura Sousa Santos em discurso terceiro-mundista, o João Lopes e o Jorge Leitão Ramos em cinema ? Sempre no seu posto, quase parecendo um telenovelo da TVI ou Globo, semanas a fio a repetirem a mesma ladaínha.
Valham-nos os poucos que, dentro de um género, sempre parecem ter uma centelha de novidade: o Nuno Crato em matéria de Ciência, o Pacheco Pereira em análise política e derivados, o José Quitério em gastronomia.
E mesmo os novos que aparecem, raramente o fazem pela novidade, mas mais pela cooptação ideológica ou pelo método do aliciamento das ovelhas tresmalhadas (os casos do Daniel Oliveira e do João Pereira Coutinho foram, a esse nível, notáveis).
Os jornais diários, com destaque para o DN e o Público, ou as publicações semanais como a Visão e o Expresso apresentam "muita" opinião.
Isso é verdade.
Mas há anos que é a mesma, apenas mudando de poiso, as gralhas, os corvos e os rouxinóis do regime.
E o mesmo com a televisão e a rádio, meios onde a variedade de opinião ainda é menor e os programas "transgressivos" são sempre feitos com prata da casa, ou grupos de amigos com opiniões aparentemente discordantes ou então com quem, ao fim de umas semanas e em nome da concórdia, faz por "não parecer mal".
E, com toda a sinceridade, já começo a ficar mais do que farto deste estado pastoso.

AV1

2 comentários:

Kabum disse...

Just for the record: Tenho um odio visceral ao Miguel Sousa Tavares.

vtm disse...

Bom texto AV1
O Portugal dos Pequeninos não acontece por acaso.
No Barreiro dos Pequeninos, sucede o mesmo. Só com suor sangue e lágrimas há acesso aos jornais escritos ou on-line.
VTM
barreiro velho