terça-feira, fevereiro 07, 2006

Degustação I

Hoje foi dia feriado cá em casa.
Por razões de agenda, a gerência decidiu que hoje era o dia de comemorar o Dia dos Namorados e um dia de aniversário familiar, com um almoço fora dos moldes habituais.
Pelo que nos dirigimos a um estabelecimento restaurativo (e não só) muito recente na Península de Setúbal e com uma crítica gastronómica muito favorável na boa imprensa especializada na área (eu leio essa parte dos jornais, sim senhor, se o crítico gastronómico for de confiança e provas dadas).
Saca-se do cartão Visa e pomo-nos a caminho, que uma vintena de quilómetros se fazem na boa.
Ora bem, a visita foi um sucesso, mesmo se a conta foi pesada e se os empregados olharam para os meus jeans e blusa de gola alta com certa desconfiança, avisando-me quando me passou o cardápio que as doses eram pequenas.
O ambiente é excelente e a cozinha é afrancesada mas com ingredientes tugas de qualidade.
Significa isso que as doses são minúsculas, mas parecendo brincadeiras da Barbie e do Jen, muito bonitas de ver mas passíveis de caber naquela minha cárie do molar lá de trás.
São as chamadas doses de degustação, que o chef aconselha a partilhar, como se o respectivo volume o permitisse sem recurso a uma colher de chá.
Mas são boas e recomendam-se.

Os preços, não sendo pornograficamente hard core, acabam por ser de uma certa obscenidade requintada, devido ao número de doses que é necessário ingerir (2 entradas+2 sopas+4 pratos+2 doces) para sairmos de lá amanhadinhos.
Mas um dia não são dias e um tipo finge que foi a Paris e já está de volta.
Porque um risotto de açafrão servido num copo de gelado não se pode ver todos os dias, nem umas migas de pão alentejano com pato assado se espera serem servidas em quantidade passível de ser contida num pratinho de sobremesa.
Nem um capuccino de cogumelos servido numa chávena é algo que se imagina normal ao nosso almoço.
Mas tudo se conjugou na perfeição com a chegada do sortido final de doces conventuais e o sorvete de vinho que anteciparam um cafézinho médio, abaixo do que eu faço em casa.
Mas no fim a alma ficou lavada das tristezas e cinzentismos do quotidiano, pela vista circundante e pelas diversões que as duas horas de lazer nos permitiram.
O preço não o conto por rebuço e pudor, não vá o meu colega co-editor ter uma síncope antes de me estrangular e chamar pequeno-burgês deslumbrado.

AV1

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