sexta-feira, fevereiro 17, 2006

João Lobo - A Entrevista III

Ora vamos lá à Paixão pela Educação e, à semelhança do Banheirense, abusemos das citações, mas não tanto dos sublinhados:


“Outra das linhas estratégicas perspectiva a valorização da Escola. Esta é uma aposta que nós temos vindo e continuamos a desenvolver, visando a requalificação do espaço público, assim como a implementação de projectos como é o caso do Programa de Alfabetização Informática, através do qual estamos a dotar todos os estabelecimentos de Ensino Básico do concelho, com condições para que as crianças, tal como saem do 1º ciclo a aprender a nadar, adquiram também as competências básicas ao nível das Tecnologias de Informação e Comunicação. A nossa máxima de valorização da Escola, perspectiva a melhoria de condições quer pedagógicas, quer físicas, quer de vivência da própria Escola, melhorando a sua qualidade.”

Como assumido ex-"profissional da Educação", o senhor Presidente discursa de forma vaga sobre o tema, parecendo falar eduquês como um bom cientista da educação (a passagem pelo Piaget deixou marcas e não foi só a profissionalização a martelo...).
Vamos ser claros: a transferência de competências do Poder Central para as autarquias em matéria de educação primária (1º ciclo) já se deu há quase 20 anos.
No nosso concelho, embora isso não seja geral, existem algumas graves carências no plano da Educação, o que depois se reflecte quer na fuga de alunos, a partir do 9º ano, para Escolas Secundárias de outros concelhos, ou nos maus resultados obtidos em tudo o que são exames nacionais.
É minha crença que esses resultados derivam tanto do contexto socio-económico deprimido em que vive grande parte da população, quer da ausência de uma política educativa da autarquia que passe por mais do que queixas relativamente ao Poder Central. Vejamos só algumas realidades incontestáveis:

1) Devido a falta de estruturas de apoio, até há pouco não existiu uma política de fomento do desporto nas escolas primárias, nomeadamente no caso citado da natação.
2) Salvo raras excepções, a CMM quase se limitou nos últimos 15 anos a "retocar" a rede escolar do 1º ciclo no concelho, apesar do crescimento populacional verificado, por exemplo, na Baixa da Banheira, sendo o investimento em equipamentos de raíz muito reduzido, se comparado com outras paragens.
3) A dotação das escolas do 1º ciclo com equipamentos informáticos não é, repito, não é algo que implique um investimento muito avultado. Com 10%, repito, com 10% do investimento directo declarado pela CMM no reperfilamento da Marginal, é possível dotar todas as escolas de um nível satisfatório de equipamento. Se no tempo em que fizeram o mastronço do dique da Moita tivessem visão estratégica, uma parte muito pequena desse dinheiro teria servido para acções muito mais úteis para a população na área da Educação.

Mas continuemos com a entrevista:
Nessa ideia de valorização da Escola pretende-se, também, criar novos pólos de Ensino no concelho?

“Nós temos vindo, cada vez mais, a procurar que se situem no nosso concelho, a criação dos pólos de carácter politécnico ou universitário, porque essa valorização é importante, assim como, também ao nível técnico-profissional. Nós temos um pólo da Universidade Independente, mas, de facto, com pouca actividade. Nós temos vindo a disponibilizar, quer ao Ministério da Educação, quer directamente, a algumas Universidades, espaços físicos para implantação de pólos mas, a realidade actual, como sabemos, é muito restritiva a esse nível, portanto, até agora, para nós tem sido uma aposta que consideramos fundamental e importante, pelo que continuamos a desenvolver trabalho, e, há trabalho a ser desenvolvido pela Universidade Independente, que na altura própria irá lhe compete divulgar, sobre a possibilidade de criação de um pólo Profissional na área das Artes.”

A este respeito, nem sei por onde pegue, pois falar de um pólo universitário na Moita como estratégia de aposta na Educação parece-me um perfeito disparate, no actual contexto de retracção e reforma do Ensino Superior. Propôr pólos universitários - para mais do sector privado que implica pagamento de propinas ao preço do mercado - num concelho coma dimensão da Moita só por puro delírio e passo a explanar alguns pressupostos que isso implica e que não vejo concretizados pelo excelentíssimo senhor Presidente:

a) Que tipo de cursos se leccionariam ? Humanidades baratas ou cursos com componente técnico-científica ? Alguém sabe o investimento que é preciso para além de um barracão, mesas e cadeiras ? Não brinquemos com coisas sérias...
b) Que procura teria potencialmente tal pólo universitário ? Justificaria o investimento em pessoal docente e em equipamento ou viriam cá uns amigos fazer uns "biscates" ? Sei do que falo, pois fiz uns "biscates" desses há mais de uma década num pseudopólo universitário que houve no Montijo que tinha uma turma com 8 alunos, mesmo em tempos de boom do Superior.
3) Em caso de aposta em cursos ligados para a vida profissional, que capacidade de ligação ao tecido empresarial teria essa instituição num concelho sem qualquer tipo de estrutura produtiva ? Mesmo o Politécnico de Setúbal tem problemas e anda a desdobrar-se em iniciativas para atrair alunos e manter docentes e cursos, quanto mais um pólo universitário na Moita.
4) Um "pólo profissional na área das Artes" ? Mas que diabo é isso ? Que tipo de enquadramento teria isso ? É tipo "artesanato" ou é tipo "escultura bovina" ?

Isto para não escrever claramente que a pior coisa que pode acontecer a um jovem do concelho em termos educativos é não sair dele e não ir para outras paragens durante uns tempos, ver outras coisas, conhecer outros hábitos, respirar outros ares.
Aliás, com as novas acessibilidades e autocarros directos para Lisboa, nem se devem colocar os problemas que eu e alguns outros enfrentámos no início dos anos 80, com a necessidade de apanhar comboio-barco+penantes+autocarro ou metro e perder 2 horas para chegar às aulas e outro tanto para voltar.
Contrariamente ao senso-comum que quer uma Universidade de vão de esscada ao virar da esquina, uma vivência universitária plena só se consegue cortando cordões umbilicais e desempoeirando as mentes, longe da casinha e do cafézinho da esquina.
Mas eu percebo porque o senhor Presidente possa não entender isso.

AV1

2 comentários:

nunocavaco disse...

Agora sou eu a fazer gazeta ao trabalho e a escrever nas horas de expediente.

Anónimo disse...

Mmmmmm ???
Leu o que se escreveu mais abaixo sobre a minha disponibilidade para postar ?
Não ?
É que parece !

E, de passagem, será que não sou guarda-nocturno ou segurança ?
Já reparou que eu não posto, salvo em dia de eleições, de perto das 11 da noite até às 10 da manhã ?

(E há aquele programa chamado Word onde se pode escrever a qualquer hora e depois copy+paste e perde-se muito pouco tempo a postar. Aprenda, que eu vou infelizmente desaparecer antes do meu caro NC se as regras da demografia funcionarem...)

;)