Escreve o nosso leitor Nuno Cavaco, em resposta ao meu desejo de ver reflorestar certas áreas do concelho, que isso não deve ser feito «para impedir consolidações de centros urbanos ou o aparecimento de novas urbanizações. Para travar o crescimento urbanístico apenas e só com alteração ao quadro de financiamento das autarquias, porque de outro modo podemos falar, falar, que não acontece nada nem se vislumbram alternativas».
Discordo e vou explicar, no aspecto teórico e no concreto porquê.
No concreto:
a) A reflorestação de zonas como as que envolvem as urbanizações da Fonte da Prata, da Vila Rosa ou o ordenamento de outras áreas do concelho não são para travar nada, mas deviam ser, isso sim, algo de essencial, como elemento integrante dessas mesmas urbanizações. Não é plantando depois um par de dezenas de caniços, regados a desoras, em canteiros de pedra que se defende o ambiente. E não é fazendo um risco num mapa do PDM e escrevendo corredor de protecção acústica que se implementa efectivamente essa protecção. Que quer, sou um adepto convicto das teses do arquitecto Ribeiro Telles, que certamente conhecerá mas de que não deve gostar tanto como eu ou gosta mas diz que não dá porque o financiamento das autarquias e tal.... Não ! Existe é falta de coragem política para quebrar (maus) hábitos instalados.
b) Eu não defendo a reflorestação dos "centros urbanos", a menos que considere "centros urbanos" todas as zonas que se estendem, sem excepção, da Baixa da Banheira até à Moita. Para mim, a Lagoa da Pega, o Rego de Água, o Juncalinho, a Quinta da Fonte da Prata Sul, etc, etc, não são essenciais à consolidação dos centros urbanos. São apenas espaços que a CMM usa e abusa e pensa usar e abusar para lotear para gerar receita, que é uma receita de curto prazo, com encargos a médio e longo prazo bem mais avultados. Consolidar os centros urbanos passa, isso sim, por requalificar zonas residenciais em decadência e não esperar para abatê-las a camartelo e substituí-las por caixotes. Consolidar os centros urbanos, teria passado por não deixar esventrá-los com barracões ao sabor das conveniências subsidiodependentes de alguns interesses privados.
Por tudo isto, agora passo ao abstracto do modelo de financiamento das autarquias, recorrendo a exemplos concretos para efeito demonstrativo:
c) Se é certo que esse modelo está errado, isso acontece tanto do lado das receitas como do lado das despesas. As autarquias (de todos os quadrantes) deviam saber gerir os seus meios e não serem um sorvedouro de dinheiros públicos para gastar em pessoal, como agências de empregos para as suas clientelas fiéis ou em projectos grandiosos, de encher o olho mas com resultados pofundamente duvidosos; o dique da Moita, concretizando de novo, está aí para todos vermos o que é dinheiro mal gasto, muito dinheiro, sem quaisquer efeitos positivos ou penalização dos decisores políticos e técnicos envolvidos. O reperfilamento da Marginal vai pelo mesmo caminho.
d) As autarquias vivem do que ganham com o imobiliário e com os acordos que estabelecem com esse sector. Mas a verdade é que o dinheiro que se vai buscar ao sector do imobiliário gera muito mais despesas com as infraestruturas que são necessárias criar e depois manter para servir as populações que aí vão residir. Eu sei qual é, mais ou menos, a receita que dá um loteamento feito dentro das normas regulares e não preciso de imaginar muito o que custam as infraestruturas de apoio correspondentes, a menos que sejam feitas com material e mobiliário urbano de má qualidade, o que por cá é a regra, do candeeiro à papeleira. E as contrapartidas exigidas a certas empresas, como se tem visto, deixam as autarquias nas mãos de humores privados. O que se ganha a curto prazo é depois gasto no dobro ou triplo a médio-longo prazo, mas o que interessa é ganhar eleições.
Não é preciso ir muito longe para concretizar, basta ver o que se tem passado na Fonte da Prata. Os acessos foram feitos, assim como as infraestruras básicas. Surgiu o casario.
Vem aí o resto, podem dizer-me. Mas está chegar tarde e aos soluços. Até os ridículos arranjos das rotundas parecem ser o resultado de mendicidade institucional.
e) O sistema de financiamento das autarquias só pode sair do círculo vicioso "lotear para obter receita, gastar para equipar, voltar a lotear para gerar mais receita, gastar para equipar, etc, etc", quando houver coragem política para travar esta espiral que não dá em nada de bom. Porque assim estamos condenados a que a terra para lotear um dia acabe e então o que se faz ? Um patamar nas nuvens ? Fechamos a loja e desaparecemos ? A verdade é que as autarquias vivem acima das suas possibilidades, porque inflacionaram desmesuradamente as despesas e, agora, não há maneira de dar a volta. Parecem os clubes de futebol, só que aí já existem regras de rigor e quem não rende fecha as portas e os responsáveis já podem ser responsabilizados (passe-se a repetição) pelos erros de gestão. Nas autarquias, isso só acontece em casos excepcionais e mesmo o ritual eleitoral não serve para muito, porque realmente (quase) ninguém consegue ganhar eleições prometendo rigor nas despesas, contenção nos investimentos, equilíbrio no ordenamento do território. É que, se fizer isso, ainda antes de lhe faltarem os votos começam a faltar-lhe os famosíssimos meios de campanha.
AV1
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16 comentários:
"...Consolidar os centros urbanos passa, isso sim, por requalificar zonas residenciais em decadência e não esperar para abatê-las a camartelo e substituí-las por caixotes..."-Av1
concordo plenamente, mas está a misturar direito público com direito privado. Defendo mas na prática é muito complicado. Posso lhe dizer que como eleito para o pelouro do urbanismo, ambiente e habitação da Baixa da Banheira já o tentei fazer nalgumas situações e digo-lhe é muito complicado. Ou porque as pessoas não têm dinheiro, ou porque não querem saber, ou porque morreram... há sempre um porque. O mesmo se passa com os "Pinhais", se eu tiver um pinhal posso abater árvores para produção de madeira, daí a ideia dos sobreiros (espécie protegida), mas mesmo estes podem ser abatidos se o projecto for de interesse público (como obras de saneamento, abastecimento de água). É assim Av1. O Hélder Luis que é meu amigo dizia-me no outro dia que eu quanto estudante pensava de uma forma e agora já penso um pouco de forma diferente, se calhar por já ter um pouco mais de conhecimento de causa. No entanto a questão do finaciamento é muito importante e contínuo a bater na mesma tecla, quando se financiar as autarquias pelos espaço verdes e não pela construção e habitantes, as coisas mudam, até lá não. É a dura realidade.
Registo o facto de não replicar a quase nada do que afirmei.
As dificuldades legais de que fala não são assim tão insuperáveis.
Se em RAN se fazem vivendas, também se ajuda a aplicar uns projectos de requalificação urbana.
Quanto ao chutar para a Lei do Financiamento das Autarquias é afinar pelo diapasão do conformismo cinzento que todas as cores partidárias na maioor parte das autarquias aceita como cómodo.
Quanto às opiniões que mudam, eu estou sempre a aprender e procuro aprender formas de implementar as minhas ideias, não de justificar as minhas inacções e omissões.
E quando estive em ambientes com os quais não me identificava, fosse por práticas dos indivíduos ou pelas regras que regiam a actividade, fiz as malas e mudei-me.
Por isso é que com a idade do meu amigo Nuno já tinha feito coisa parecida com o que faz e algumas outras, do sector público ao privado, com uns períodos de alegre desemprego pelo meio, por causa dos desalinhamentos.
Mas nunca baixei os braços dessa maneira. É assim a realidade, é dura, pronto.
Esperava mais da escola dos jevns comunistas. Um pouco mais de espírito de luta (para além da eleitoral), de inconformismo.
Para gerir o que há qualquer um chega.
AV1
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Ando a dizer isso mesmo há imenso tempo como o confirmarão alguns comentários hoje inacessíveis.
E graças a Deus não sou o único porque até já ouvi outros a dizerem o mesmo públicamente e de cara à vista.
"lotear para obter receita, gastar para equipar, voltar a lotear para gerar mais receita, gastar para equipar, etc, etc", só funciona com a construção sempre em crescendo, e com as consequencias que refere. acontece que o ciclo quebrou-se pelo lado da procura de novas habitações, o que provocou a estagnação da nova construção. o ciclo está quebrado e as consequencias estão aí à porta, agravadas com os cortes da despesa ao nível da administração central.
a requalificação urbana é o remédio para os males que ainda podem ter cura, mas o modelo de financiamento das autarquias tem que ser mudado.
Meu caro JF,
É altura de explicar isso ao Nuno Cavaco, para ver como ele justifica as opções do PDM que está em revisão, pois com os juros já em alta, ainda a procura vai encolher mais, a menos que se aposte em transferências massivas de malta de caixotes de Chelas, Amadora e Loures para aqui, para caixotes ligeiramente mais novos feitos a baixo preço e com pouca qualidade.
Mas depois falta onde trabalhar...
AV1
Mas depois falta onde trabalhar... - AV1
Você 'tá parvo ou quê?
E então as Novas Centralidades?
E as resmas de empregos do Parque Temático?
O que é preciso é betonizar...
Ai! Ai! Moita, que chegas com 15 anos de atraso a tudo o que almejas...
Ah! Sim. Deixo aqui um excerto e um link que era bom que o pessoal dirigente desta Câmara -- cheia de Centralidade e que espera um boom na construção civil para conseguirem justificar o que propõe no PDM -- o fossem lêr:
AECOPS prevê queda de 2,8% no sector da construção em 2006
A produção no sector da construção deverá cair uma vez mais em 2006, desta feita 2,8%, mantendo a tendência negativa registada desde 2002, avança hoje a Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas (AECOPS) em comunicado.
A produção no sector da construção deverá cair uma vez mais em 2006, desta feita 2,8%, mantendo a tendência negativa registada desde 2002, avança hoje a Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas (AECOPS) em comunicado.
Segundo a mesma fonte, a evolução da construção vai, à semelhança de 2005, acompanhar o cenário «pouco animador» da economia, sublinhando que há um ano, tanto o sector da construção tanto a economia nacional se caracterizaram por desempenhos «muito fracos», inclusivamente abaixo do previsto.
Aliás «tudo aponta para que o cenário macro-económico se mantenha desanimador em 2006 com perspectivas de crescimento muito moderado do PIB e de manutenção de trajectória negativa do Investimento (subida de 0,8% e de 1,1%, respectivamente, segundo o Banco de Portugal)», explica a associação.
O segmento de Edifícios Residenciais, perante a tendência de queda do número de fogos licenciados, poderá vir a cair 4% em 2006, enquanto a produção de Edifícios Não Residenciais deverá conhecer uma «ligeira» expansão em termos reais de cerca de 0,7% graças à componente privada. A componente pública deverá manter-se estável aos níveis de 2005.
in Jornal de Negócios Online
Só com uma grande dose de avestrusismo é que se compreende esta teimosia casmurra do executivo da CMMoita... ou isso ou os milhões de Euros de dívidas que têm de ser cobertos a qualquer preço.
Um dia destes eu faço uma transcrição de uma linda frase do sr. Presidente João Lobo e depois compreenderão melhor porque esse senhor me causa tanto engulho.
Até amanhã.
parece-me que é abusivo associar este problema exclusivamente ao município da Moita. infelizmente este é um modelo nacional.
Li há já uns meses (talvez mais de um ano) que em Portugal se gasta aprox. 10% em recuperação de edifícios e, por exemplo em França, aprox. 70% do total dos gastos em construção. Se formos comparar os modelos das proprias autarquias, vemos que as diferenças são enormes. por exemplo, não existem juntas de freguesia...
Agora é que tocaste no cerne da questão. Eu até considero que estas ideias quando saem da boca de algumas pessoas (não do av) são apenas jogo político de ocasião. O problemas reside exactamente onde tu o apontaste, no modelo português e aí meus amigos toca directamente no modelo de financiamento. Em França a reabilitação é feita porque existem incentivos para isso, em Portugal são muito parcos.
Eu repito que é para vêr se vocês percebem o que eu quero dizer:
AECOPS prevê queda de 2,8% no sector da construção em 2006
A produção no sector da construção deverá cair uma vez mais em 2006, desta feita 2,8%, mantendo a tendência negativa registada desde 2002, avança hoje a Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas (AECOPS) em comunicado.
PDM prevê a construção de habitação para masi cerca de 60.000 habitantes
Ora onde é que o «modelo» vai encaixar é que eu gostaria de saber.
E isso nem é desculpa porque há concelhos que apostam noutro modelo de desenvolvimento que não o do betão. E não me venham dizer que para esses a Lei é diferente.
Eu até considero que estas ideias quando saem da boca de algumas pessoas (não do av) são apenas jogo político de ocasião. - NC
Isto não tem a vêr comigo pois não? É que vem na sequência do que eu escrevi.
Para que saiba e fique bem esclarecido eu não tenho cartão de partido ou agremiação, nem subjuçações partidárias ou de outra seita qualquer e nem ponho comida na mesa à conta disso.
Cuidado com as generalizações para não lhes estourarem nas mãos.
Até mais.
caro Mario da Silva
um PDM determina o que se pode fazer e não determina que se faça.
existem municípios que tem uma gestão urbanistica melhor? ainda bem! eu nunca disse que por cá eramos perfeitos, mas era bom que tb reparasse na maioria que é bem pior! já reparou que por, por exemplo, aqui não se constroi em altura?
a lei do financiamento das autarquias é a mesma, claro, mas a distribuição das verbas é afectada por 2 factores (população e área) que não nos são particularmente favoráveis, e depois ainda há a questão da localização dos investimentos da administração central, que normalmente encontram sempre terras de outras cores...
Meu caro JF,
Em matéria de área e população, a Moita não é dos concelhos mais desfavorecidos. Em matéria de área, por comparação com o Barreiro até fica muito a ganhar.
Quanto aos investimentos da administração central, poderia concretizar que tipo de investimentos gostaria de ver pelas nossas bandas ?
AV1
o Barreiro é um dos poucos exemplos piores, mas repare Sintra, Oeiras e Amadora, por exemplo...
por exemplo a linha do Sado com ligação a Lisboa, a ETAR que parece que agora é que é, Centro de Saúde na Baixa da Banheira, reestruturação da distribuição das forças policiais,...
Mas não vem aí a 3ª ponte ?
O resto são estruturas que, por si, melhorando a vida das populações, têm pouco a ver com o financiamento das autarquias e, em algumas situações, são resultado de alguma inabilidade na negociação que é feita.
AV1
a ponte parece que sim, mas ainda não me esqueci dos 40 anos que demoraram a diminuir o trajecto da travessia do tejo, nem do abandono da linha do sado.
são investimentos que aumentam a segurança e a mobilidade das populações, o que influencia a economia local.
inabilidade? eu acho que foi falta de vontade dos vários governos.
Essa história da linha do Sado é engraçada, sim senhor. Usei-a uma boa dúzia de anos (82-94)e lembro-me de muita coisa pitoresca, cuja responsabilidade haveria que repartir por muita gente, em especial os prejuízos feitos a quem ia trabalhar.
AV1
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