Tudo como dantes no Quartel de Abrantes

A Visão traz-nos hoje 4-opiniões-4 sobre a polémica dos cartoons.
Lendo o nome dos autores e conhecendo o seu alinhamento político, a leitura das prosas só serve para comprovar os tiques das cliques.
Da esquerda ortodoxa dê lá por onde der, temos os escribas nobelizados José Saramago e Günter Grass, sempre prontos a apontar as arrogâncias e erros do Ocidente para legitimar os excessos dos outros. É aquela teoria do penalty mal marcado para compensar o outro mal marcado. Em vez de um, temos direito a dois erros. É a actual tese frentista-freitista. Saramago entra mesmo pela teoria de os cartonistas poderem caricaturar Maomé, mas que se o fizessem ao director do jornal seriam despedidos. Verdade, verdade, principalmente por cá, desde os tempos da outra senhora aos deste senhor enquanto director do Diário de Notícias. De saneamentos por delito de opinião, ele sabe por acção própria. Mas isso até é o menos perante a adesão à relatividade dos valores da liberdade. Já sabíamos, mas é sempre bom verificar que velhas crenças não se perdem.
Da esquerda pseudo-heterodoxa, bem-pensante e modernaça, Boaventura Sousa Santos começa bem, parecendo perceber uma parte interessante do problema (a oposição nós/outros, com a consequente demonização da diferença) e desata a patinar no fim ao enveredar por um derivado da tese do grande remorso do homem branco. Nós escravizámo-los e explorámo-los, portanto não temos direito a criticá-los e a exercer a nossa liberdade, para os não ofender. Ou seja, por causa do raio do Vasco da Gama e do Pedro Álvares Cabral, eu, sicrano de tal, não posso caricaturar um hindu, Shiva e os seus 28 braços ou um eremita indígena da Amazónia a perseguir uma macaquinha atraente com o cio. Não me lixem...
Por fim, do lado de uma esquerda por princípio, sem um alinhamento definido, José Gil repõe tudo no seu devido lugar. Não vale a pena extrair grandes citações, pois deixo aí imagem do parágrafo essencial. Quem quiser mais compre a revista.

AV1