quinta-feira, maio 11, 2006

O Contraditório

Porque o merece, aqui fiza em post o comentário do nosso amigo e leitor Carneiro sobre as questões levantadas pelo AV2 neste post sobre o Ministro da Saúde e, por tabela, num outro sobre o ministro Mário Lino:

Respeito o seu sentir.
Mas os meus filhos mais velhos andam a aprender a língua castelhana.Nesta, como em todas as grandes questões nacionais, ninguém nos pediu a opinião. Decidiram por nós. Sou - já fui mais - anti europeu. Até porque o mínimo que os cabrões dos políticos deveriam ter feito seria o referendum inicial para a adesão.
Se não me pediram a opinião, não me sinto vinculado num projecto comunitário que não é o meu.(É que estes gajos não percebem que o sentido da votação dos referenduns mobiliza as pessoas e auto-responsabiliza-as. Com medo do "não" nunca nos pediram a opinião e nunca conseguiram mobilizar nem aqueles que votariam "sim")
Mas as coisas estão em marcha. Irremediavelmente. Espanha em breve vai ultrapssar os índices de desenvolvimento da Alemanha alargada. Em Espanha vive-se melhor. Cada vez melhor. E em Portugal cada vez pior.
Eu poderei fazer como os Moçambicanos - ser independente e morrer à fome por falta de capacidade da sociedade para se organizar. Mas não tenho o direito de obrigar os meus filhos a esse sacrifício. Até porque eles, se ficarem por cá, vão passar a vida a trabalhar para pagar as reformas dos actuais activos - exactamente aqueles que rebentaram com "isto". A minha obrigação de pai não é deixar em herança um andarzinho a cada um dos meus filhos. É proporcionar-lhes meios de subsistencia que possam ser viáveis fora do falido Portugal e, em especial, em Espanha que fica aqui ao lado. E prepará-los mentalmente para essa inevitabilidade.
Eu aceito ficar consigo e com outros nacionalistas a tentar que este titanic não vá ao fundo. Se bem que não acredite. Mas não tenho o direito de obrigar os meus filhos a tão quixotesca tarefa.
A classe política - toda ela, não há inocentes - lixaram este país. Os resultados estão aí, não há discussão possível. Desde Abril que todos estes gajos andaram a pensar que sabiam o que estavam a fazer. E só fizeram disparate. Faz lembrar aqueles que receberam uma boa herança e que a desperdiçaram em maus investimentos sucessivos, deixando os filhos com dívidas para pagar, se quiserem ficar com a quinta da família.
Ora bem, por mim, a quinta da família pode ir. Perdi o gosto por ela. É cara de mais, tenho que pagar a muitos caseiros que não dão lucro nenhum e os encargos da dívida esgotam o pouco rendimento. E cada vez que tenho um lote de eucalitos pronto para venda, alguém lhe pega fogo. Você fala-me do seu dever de cidadão. Se calhar, como as coisas estão, eu só cumpriria o meu dever de cidadão empenhado se começasse por eliminar todos aqueles que recebem de pensão de reforma mais do que a medida da respectiva capitalização de descontos, bem como todos aqueles que, no activo e com rendimentos suficientes, estão a receber pensões de reforma em acumulação. Ou seja, o meu dever de cidadão passaria por fazer justiça. Para que aqueles que mais recebem não recebessem mais do que a devida medida a que teriam direito.
Se calhar o meu dever de cidadão passaria por aí. Como "isto" já não tem emenda possível que não seja naqueles termos drásticos, prefiro desistir.
Vou dizer uma coisa terrível: mas bardamerda para o Portugal em que vivemos. Bardamerda para o resultado obtido pelo sistema instituído após Abril (atenção que nem de perto nem de longe estou a defender o antes-Abril, estou apenas a olhar para o que temos após 32 anos de trabalho).
E sei que não sou o único a pensar assim.
Não leve a mal o desabafo.

Carneiro

6 comentários:

Anónimo disse...

Não, não é o único a pensar muito do que escreveu.
Agora eu recuso-me a mandar a minha descendência aprender castelhano.
Não o proíbo, mas não o incentivo.
Lá bato eu na mesma tecla, antes aprender dinamarquês, norueguês ou sueco.
Ou mesmo mandarim.
Ou japonês, que eu até tentei mas já era velho para aprender novas línguas.

Anónimo disse...

Trata-se de um desabafo. Parece mesmo que nunca esteve cá. Lembra até aqueles comentadores politicos que já se esqueceram que foram deputados e ministros, e são muitos os que escrevem no mesmo jeito liberalista. Enfim!... um desabafo próprio de quem pensa que não ter nada a ver com isto...

Anónimo disse...

Caro pi-pi,

Votei em quase todas as eleições. Cheguei a estar filiado num partido, mas saí por ter percebido que a minha presença era inútil em termos de influenciar o sentido da vida. Falar ou estar calado era a mesma coisa. Não queriam opiniões, ainda menos acções. Queriam palmas para o chefe (nem vale a pena dizer qual o partido, porque esta definição aplica-se a todos). Fui voluntário em algumas ONG's - digamos assim para simplificar. Sou ecologista convicto e faço cerca de 7000 Km por ano de bicicleta. Sou militante anti-tabaco. Sou dador de sangue e de medula óssea.

Pago os meus impostos, vivo de uma actividade que dependede do meu mérito e da minha capacidade de trabalho, nada recebendo do Estado, tenho 3 filhos - um dos quais até é campeão nacional de 2ª categorias em determinada modalidade -, não tenho dívidas á excepção do crédito á habitação, tento ser boa pessoa em cada dia não atropelando os direitos de ninguém. Ainda hoje no metro, "perdi" um comboio, seguindo só no próximo, para ajudar um velhote de "canadianas" a sair no rossio.

Parece que, nomeadamente por isto, tenho direito a uma opinião, sem que me teçam processos de intenção.

Não lhe vou retribuir imputando-lhe processos de intenção, pois não o conhecendo, a tanto não me atrevo por simples delicadeza pessoal e por elementar bom senso.

(para os amigos AV: para a próxima avisem-me antes de me lançarem ao mar. Sendo sempre uma honra ser levado a post, a verdade é que neste blog isso pode ser pessoalmente perigoso, atendendo ao que se tem passado aqui no último ano.)

Anónimo disse...

É verdade, tem razão.
Para a próxima, avisamos com antecedência.
Mas é que, mesmo quando não concordo com tudo, gosto quando alguém se expressa com pés e cabeça, razões e lógica.

Anónimo disse...

Caro Carneiro
o meu comentário não limita o seu direito de opinião, não existe sequer qualquer processo de intenção. Comentei aquilo que escreveu concluindo tratar-se de um desabafo.

Mas podia começar assim:
- Tenho filhos, um casal, já tenho uma neta e mais vêm a caminho, trabalho e luto, estive e estou envolvido em actividades a "troco de nada"... e continuava por aqui fora a escrever sobre mim, faceta que não quero p'lo simples facto de chatear-me quando aparece alguém que me impõe mais de 5 minutos a falar de si próprio.

Participo nos blogs, entre outros motivos pela hipótese do anonimato, sou politico como os demais e até como os que afirmam que não são, só que não sonho ser eleito, o ideário que abraço coloca-me a duvidar das práticas prevalecentes de exercício do poder.
Neste quadro prefiro a clandestinidade.

AV disse...

Até que gostei.