Festa - é aquilo para que o moiteiro vive todo o ano e como muito bem escreveu alguém num blog recente, na Moita há o AF (Antes da Festa) e o DF (Depois da Festa) a que eu acresentaria para baralhar o EF (Entre as Festas), ou seja o período que vai de Junho a Agosto, em que a festa de Maio já se foi e a de Setembro ainda não está para aparecer, e um DRF (Durante o Raio da Festa) que é o período que aqui mais nos interessa. No DRF, o moiteiro resplandece, rejubila e quase amarinha pelas árvores acima, mesmo sem ser dia de largada. É o período nobre do ano, em que o moiteiro sai à rua sempre nos chamados "trinques", em especial à noite e no Domingo, amostrando a sua melhor farpela e exibindo aquele ar empertigadote que, a custo quando a barriga já faz com que a lei da gravidade puxe com muita força para baixo, o faz empinar o queixo e tentar olhar toda a gente de cima. E nunca devemos esquecer a moiteira, figura que se tem negligenciado neste léxico, mas que merece especial destaque neste período, graças à forma dengosa e langorosa como exibe os seus roliços atributos durante esta temporada em que, com o cheiro na bosta, na fartura, nos bois e bejeca, o moiteiro abre a guarda um pouco e esquece que o moiteiro vizinho tem sempre olho comprido para o que não é dele. E então a moiteira aproveita para fazer tudo por incitar a líbido alheia, com os seus olhares lúbricos por de trás de dois dedos de rimmel e sorrisos insinuantes por debaixo de mais um dedito de base e rouge. Nem de propósito, a feira de Maio vem quando a Primavera já floriu tudo e a de Setembro aparece quando os calores ainda se fazem sentir e há toda a justificação plausível para as carnes da moiteira genuína ainda andarem à vista descoberta e despertarem a cobiça do moiteiro galã e marialva, que aproveita as horas das largadas, enquanto o moiteiro aficionado e vermelhusco anda que nem um abrenúncio a subir às árvores, de fogareiro em punho a assar o belo coirato, na esperança de aparecer em toda a plenitude da sua genuína bronquidão numa transmissão da SIC ou da TVI. Durante a Festa o moiteiro transfigura-se, deixa de ser o sovina do costume e paga rodadas aos amigos e desconhecidos e oferece gelados às criancinhas da família e vizinhanças. Para além disso anda alegre que nem um passarinho, a quem não cabe uma palhinha no dito cujo, mal conseguindo concentrar-se no trabalho, reduzindo o seu tempo útil de laboração dos habituais 20 minutos diários, para apenas 5. Isto é facilmente verificável se alguém tentar ser atendido em qualquer repartição pública ou instituição privada, da Câmara às Finanças, passando por qualquer dependência bancária, posto de polícia, gabinete de contabilidade, papelaria ou delegação da EDP. Só nos cafés e snack-bars é que se nota maior agitação, porque a afluência redobra e os pedidos de reabastecimento são insistentes e pouco pacientes. A Festa da Moita é o momento da comunhão absoluta do moiteiro com a sua natureza festeira e taurina, pelo que assistir às largadas é ponto de honra, assim como dar uma espreitadela a uma das corridas de touros, aproveitando para comentar que devia haver corridas de morte e que aquilo da multa ao Pedrito de Portugal foi um abuso. O moiteiro torna-se corajoso, enche-se de bravata e, apesar da alegria eufórica, fica muito susceptível a qualquer indício de provocação à qual reage logo com ameaças de violência física e dentes e ossos partidos mil aos seu interlocutor. O moiteiro em festa é criatura digna de se ver e merecedora de estudo antropológico, caso houvesse quem o conseguisse fazer numa perspectiva científica e não meramente fotográfica e não se concentrasse apenas nos moiteiros de quatro patas e de chifres visíveis, pois os outros são muito mais divertidos.
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Felizardo Sebento (crítico de festividades locais e outras manifestações very typical)
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