Só que neste caso, aqui no AVP achamos que se justifica, por se inserir na nossa sequ~encia de textos sobre o fim do jornal O Rio.
“Como se liquida um jornal”
É hoje inquestionável para a generalidade dos sectores de opinião do nosso concelho, de que o jornal “O RIO” era uma voz de referência que se foi afirmando ao longo dos seus oito anos de vida, abrindo as suas páginas a vastas sensibilidades. Era um jornal que aos poucos se ia libertando das “algemas” que lhe haviam colocado inicialmente aqueles que pensavam vir a fazer dele sua propriedade.
Era um jornal que (em minha opinião) apesar de em períodos eleitorais se colar por vezes com algum excesso ao poder autárquico instituído, por razões que estavam relacionadas com a sua própria sobrevivência associada à dependência económica que lhe estava inerente, era no entanto uma voz que gradualmente se ia recusando a ser mais um “órgão oficial” abrindo-se à sociedade em permanente mudança, rejeitando a “mera cassete ideológica” que prolifera na maioria dos jornais regionais ditos independentes.
Foi nesta necessidade gradual de liberdade e de se prestar a servir as pessoas e não as lógicas instituídas por decreto partidário, que fizeram do jornal “O RIO” mais uma das suas vítimas, deixando o concelho mais pobre em termos informativos, deixando a sua população prisioneira de um certo jornalismo mercantilista e das publicações propagandísticas municipais, cujas páginas, prenhes de galerias de fotos anunciando algo que sabem não poder concretizar, mais parecem os folhetos que os exércitos de distribuidores de publicidade nos despejam nas nossas caixas de correio na tentativa de atulharam a nossa veia consumista.
Pois é, em minha opinião, o jornal “O RIO” chegou à sua foz empurrado numa corrente que se adivinhava tempestuosa, e que obedece a uma lógica de anulação das diferenças, dado que ultimamente as suas páginas já eram pinceladas de artigos de opinião muito diversificados e que nada tinham a ver com a corrente oficial que lhe deu corpo, assistindo-se no entanto, em paralelo, à ausência de alguma publicidade que os diversos órgãos autárquicos costumavam polvilhar as suas páginas, canalizando-a agora para outros pasquins que ainda vão “obedecendo à voz do dono”
Por isso, e como se obedecessem a um toque de retirada e impossibilitados intelectualmente de acompanharem a evolução do jornal com a produção de artigos que primassem pela isenção e qualidade, os “escribas do regime” foram abandonando as páginas do jornal “O RIO”, assim como alguma publicidade emanada das instituições autárquicas e de outras empresas a elas associadas (que é o sustento de qualquer publicação) que foi sendo cada vez mais rara, que preferiram “engrossar as fileiras” de outras publicações que reservam pouco espaço ao debate de ideias e à livre expressão das opiniões, e que dedicam a maioria das restantes páginas à lógica mercantilista, mais parecendo um vulgar panfleto publicitário.
A isso não é alheio o lamento de Brito Apolónia quando diz que “nem todos os meses são de natal”, numa alusão à falta de alguma publicidade (que considero intencional) que foi sentindo ao longo dos anos, de nada valendo algum “favor jornalístico” pontual a que se sujeitava, o seu esforço de oito anos de “carolice”, a prestação dos diversos colaboradores que tentaram fizer das suas páginas um jornal mais plural, e de alguma publicidade mais fiel, que não evitaram que o RIO chegasse à foz onde parece ter-se afogado numa morte idêntica às que “cortam a raiz ao pensamento”.
Em nome das pessoas que ao longo de oito anos se habituaram quinzenalmente a folhear as páginas do jornal “O RIO”, por respeito pela diversidade de opiniões que nele foram emergindo e por respeito pela cidadania que ajudou a cimentar contra um certo jornalismo de “pensamento militarizado”, espero que a interrupção da sua publicação não seja eterna, e que volte para que nele voltemos a exprimir a nossa indignação pelas desigualdades que se vão acentuando no país, que os poemas sobre a liberdade e as denúncias da fome no mundo voltem a encontrar o aconchego das suas páginas, e que as notícias da vida das Associações culturais do concelho voltem a encontrar nas suas páginas o espelho das suas realizações, e volte a ser eco daqueles que no nosso concelho não têm voz.
Sim, que “volte dessa foz onde desaguou e que venha remar contra a corrente” pois será sempre bem vindo, mas que volte assente num outro projecto onde os cidadãos anónimos, os fazedores de opinião e a sociedade civil tenham nele uma intervenção, que não o deixe ficar prisioneiro das grilhetas do oportunismo serôdio que sucumbiu nos escombros do Muro de Berlim, assim como de alguma publicidade traiçoeira que lhe “retirou o tapete” e que lhe tem servido ironicamente de garrote ao longo dos oito anos da sua vida. Volte, volte também com alguma “carolice” (que também é necessária) mas assente num corpo redactorial sólido onde cada um tenha as suas tarefas bem definidas e as responsabilidades distribuídas.
Por minha parte, que fui entre tantos um dos seus colaboradores com alguma regularidade, desejo que volte o mais depressa que poder, pois pode continuar a contar sempre comigo dentro daquilo que sei, e do que tenho para dar, que são, através dos meus escritos, a denúncia da arrogância primária de quem se assume como dono do pensamento humano, e contra as arbitrariedades dos vários poderes que tentam amordaçar a vontade colectiva e individual dos cidadãos.»
Carlos Vardasca
05 de Janeiro de 2006
É hoje inquestionável para a generalidade dos sectores de opinião do nosso concelho, de que o jornal “O RIO” era uma voz de referência que se foi afirmando ao longo dos seus oito anos de vida, abrindo as suas páginas a vastas sensibilidades. Era um jornal que aos poucos se ia libertando das “algemas” que lhe haviam colocado inicialmente aqueles que pensavam vir a fazer dele sua propriedade.
Era um jornal que (em minha opinião) apesar de em períodos eleitorais se colar por vezes com algum excesso ao poder autárquico instituído, por razões que estavam relacionadas com a sua própria sobrevivência associada à dependência económica que lhe estava inerente, era no entanto uma voz que gradualmente se ia recusando a ser mais um “órgão oficial” abrindo-se à sociedade em permanente mudança, rejeitando a “mera cassete ideológica” que prolifera na maioria dos jornais regionais ditos independentes.
Foi nesta necessidade gradual de liberdade e de se prestar a servir as pessoas e não as lógicas instituídas por decreto partidário, que fizeram do jornal “O RIO” mais uma das suas vítimas, deixando o concelho mais pobre em termos informativos, deixando a sua população prisioneira de um certo jornalismo mercantilista e das publicações propagandísticas municipais, cujas páginas, prenhes de galerias de fotos anunciando algo que sabem não poder concretizar, mais parecem os folhetos que os exércitos de distribuidores de publicidade nos despejam nas nossas caixas de correio na tentativa de atulharam a nossa veia consumista.
Pois é, em minha opinião, o jornal “O RIO” chegou à sua foz empurrado numa corrente que se adivinhava tempestuosa, e que obedece a uma lógica de anulação das diferenças, dado que ultimamente as suas páginas já eram pinceladas de artigos de opinião muito diversificados e que nada tinham a ver com a corrente oficial que lhe deu corpo, assistindo-se no entanto, em paralelo, à ausência de alguma publicidade que os diversos órgãos autárquicos costumavam polvilhar as suas páginas, canalizando-a agora para outros pasquins que ainda vão “obedecendo à voz do dono”
Por isso, e como se obedecessem a um toque de retirada e impossibilitados intelectualmente de acompanharem a evolução do jornal com a produção de artigos que primassem pela isenção e qualidade, os “escribas do regime” foram abandonando as páginas do jornal “O RIO”, assim como alguma publicidade emanada das instituições autárquicas e de outras empresas a elas associadas (que é o sustento de qualquer publicação) que foi sendo cada vez mais rara, que preferiram “engrossar as fileiras” de outras publicações que reservam pouco espaço ao debate de ideias e à livre expressão das opiniões, e que dedicam a maioria das restantes páginas à lógica mercantilista, mais parecendo um vulgar panfleto publicitário.
A isso não é alheio o lamento de Brito Apolónia quando diz que “nem todos os meses são de natal”, numa alusão à falta de alguma publicidade (que considero intencional) que foi sentindo ao longo dos anos, de nada valendo algum “favor jornalístico” pontual a que se sujeitava, o seu esforço de oito anos de “carolice”, a prestação dos diversos colaboradores que tentaram fizer das suas páginas um jornal mais plural, e de alguma publicidade mais fiel, que não evitaram que o RIO chegasse à foz onde parece ter-se afogado numa morte idêntica às que “cortam a raiz ao pensamento”.
Em nome das pessoas que ao longo de oito anos se habituaram quinzenalmente a folhear as páginas do jornal “O RIO”, por respeito pela diversidade de opiniões que nele foram emergindo e por respeito pela cidadania que ajudou a cimentar contra um certo jornalismo de “pensamento militarizado”, espero que a interrupção da sua publicação não seja eterna, e que volte para que nele voltemos a exprimir a nossa indignação pelas desigualdades que se vão acentuando no país, que os poemas sobre a liberdade e as denúncias da fome no mundo voltem a encontrar o aconchego das suas páginas, e que as notícias da vida das Associações culturais do concelho voltem a encontrar nas suas páginas o espelho das suas realizações, e volte a ser eco daqueles que no nosso concelho não têm voz.
Sim, que “volte dessa foz onde desaguou e que venha remar contra a corrente” pois será sempre bem vindo, mas que volte assente num outro projecto onde os cidadãos anónimos, os fazedores de opinião e a sociedade civil tenham nele uma intervenção, que não o deixe ficar prisioneiro das grilhetas do oportunismo serôdio que sucumbiu nos escombros do Muro de Berlim, assim como de alguma publicidade traiçoeira que lhe “retirou o tapete” e que lhe tem servido ironicamente de garrote ao longo dos oito anos da sua vida. Volte, volte também com alguma “carolice” (que também é necessária) mas assente num corpo redactorial sólido onde cada um tenha as suas tarefas bem definidas e as responsabilidades distribuídas.
Por minha parte, que fui entre tantos um dos seus colaboradores com alguma regularidade, desejo que volte o mais depressa que poder, pois pode continuar a contar sempre comigo dentro daquilo que sei, e do que tenho para dar, que são, através dos meus escritos, a denúncia da arrogância primária de quem se assume como dono do pensamento humano, e contra as arbitrariedades dos vários poderes que tentam amordaçar a vontade colectiva e individual dos cidadãos.»
Carlos Vardasca
7 comentários:
Concordo com quase tudo o que o Sr.Vardasca escreveu. Tirando a parte política do post, até tem alguma razão. Mas pergunto se os partidos políticos também não terão o seu quinhão de culpa, porque também podem colocar propaganda política no jornal. No caso do Bloco de Esquerda que coloca nas caixas (electricidade, etc) de obras novas, bem podia dispender uns poucos cobres e ajudar o jornal. Não entendam isto como um ataque, porque também os outros o fazem da mesma forma, é apenas um exemplo.
Um abraço
Nuno Cavaco
Já quanto ao post dos contúdos ambientais da Constituição, nada haverá a comentar, claro.
;)
AV1
(ainda gostava de saber quanto custaram aqueles outdoors em catadupa, do PS é certo, mas tb da obra feita pela CMM e os da CDU, se é que foram contas separadas... mas isso sou eu a provocar)
"da obra feita pela CMM "
Que ainda continua a "poluir" o ambiente...
Estou mais preocupado em saber quem são os financiadores da campanha do cavaco silva.
Porquê ?
Pensa que possam ser de um governo estrangeiro, de uma organização secreta, de instituições ocultas que conspiram contra a Democracia ?
Mas afinal eu hoje ouvi o camarada Jerónimo na TSF dizer que, ganhe quem ganhar, a Pátria não está em perigo.
E, no final, as contas não têm de ser públicas ?
Engraçada estratégia essa, de escapar sempre que convém.
AV1
Epá postei o mesmo e-mail, mais tardio que vós aqui, mas tinha de o colocar. Há outros afazeres que me levaram à colocação tardia, no entanto gostava de perguntar ao Nuno Cavaco se por acaso a autarquia disponibiliza espaços para a propaganda política como é do seu dever?
Talvez sejam os mesmos espaços onde a C.M.M. disse ter afixado a informação sobre a discussão do PDM.
Já agora, a dita obra nova, é a tal que era para ter acabado em JUNHO de 2005 e que ainda está por acabar???
;)
Quanto ao financiamento do cavaco silva, penso que serve para posteriormente cobrar favores. Quanto ao fugir da questão do sr. Mário da Silva, lamento mas não fujo das questões e ainda espero desse senhor que me diga como é que, na sua opinião as autarquias deveriam ser financiadas. Ao amigo k7 pirata, não sei realmente se a obra está atrasada, mas uma coisa não invalida a outra. Não é por uma obra estar atrasada que se devem colocar cartazes políticos nas caixas novas. No que concerne ao espaço para partidos políticos, a Câmara já o faz, no entanto a maioria dos partidos não tem cuidado com a sua utilização. Aliás um post do Brocas deu um mau exemplo da C.D.U.. Não sei se "fugi" a alguma questão, mas se aconteceu, não foi propositado.
Um abraço
(Fico à espera amigo Mário da Silva que me refira quais os modelos de financiamento das autarquias é que a nossa conversa do mês passado não acabou porque não me respondeu).
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