quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Da fatal falta de humor do Poder
É algo por demais conhecido na Ciência Política.
Quando se não tem poder usa-se a contestação, e nela o humor e a capacidade de irrisão e ridicularização do adversário, para o alcançar.
Quando se conquista e exerce o poder, e tanto mais quanto se vai prolongando esse exercício, os mesmos que antes eram contestatários e irreverentes, tornam-se respeitáveis e incitam ao respeitinho e à respeitabilidade, mesmo que seja à força.
A falta de humor dos detentores do Poder é algo proverbial e só admite raríssimas excepções.
Para quem pensa que estamos a falar de algo que se passe a nível local, eu escreveria que por acaso até estou a pensar nas tentativas do governo trabalhista de Blair para tentar aprovar legislação limitativa da liberdade de expressão.
Esquecidos do tempo em que desancavam a Tatcher e o Major por tudo e mais alguma coisa, e a coberto da história do respeito pelos credos religiosos, investiram no sentido de cercear a liberdade de expressão, em particular dos humoristas.
Contra isso, liderando um vasto movimento de opinião, ergueu-se a voz de Rowan Atkinson, famoso pelas personagens Black Adder e Mr. Bean, certamente um dos mais geniais cómicos de sempre, que demonstrou como esse tipo de leis "bem-intencionadas" teriam tido efeitos devastadores, caso existissem no passado, sobre o humor britânico.
Com toda a arazão ele afirmou que «Toda a piada tem uma vítima», o que sendo desconfortável para a própria, não é necessariamente um mal social.
E, por estranho que pareça - ou talvez não, porque há muitos ingleses inteligentes, mesmo nos apoiantes actuais de Blair - a proposta governamental foi derrotada, apesar da maioria parlamentar existente.
Por cá, ainda há muito a aprender nesta matéria, como demonstram episódios passados, a nível nacional, mas não só.
Pois os políticos acha-se com muita frequência acima da crítica dos cidadãos, alegando a legitmidade eleitoral.
É a chamada teoria da Felgueiras.
AV1
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