Bosta - é a pedra filosofal do moiteiro encartado, o estado da matéria maravilhoso e mais valioso que qualquer metal precioso. Em estado líquido-diarreico é como a ambrósia, o antigo néctar dos deuses do Olimpo. Em Maio e Setembro, os odores bostíferos que emanam do alcatrão arenoso da Avenida em dia de largada é como que um retorno ao estado natural primevo, da comunhão entre homem e besta, sendo que no moiteiro são um só. A bosta é, como produção desse maravilhoso organismo que é o intestino do boi - o animal sagrado que também aqui deveria merecer um artigo - o estado mais elevado da matéria orgânica. Um moiteiro feliz é um moiteiro embostado até ao pescoço. Pena é que as lezírias moiteiras de outrora, que se estendiam de horizonte a horizonte, que é como quem diz da ribeira da Moita à ribeira das Enguias, estejam agora ocupadas com outro tipo de bosta, mais acinzentada e respondendo ao nome de betão - olha uma letra B para o nosso Vocabulário Actual da Gestão Autárquica Moiteira - e que faz com que os bovinos agora em circulação pela capital do concelho sejam quase só os bípedes, infelizmente incapazes de fazer uma bela bosta orgânica à moda antiga, apenas a conseguindo substituir pela bela e verdejante escarreta. A vantagem, contudo, é que os actuais são bem mais fornidos de enfeite chifral.
Arnestino Bibliófilo (antropólogo nas horas vagas)
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