quinta-feira, agosto 10, 2006

Uma questão de direitos civis

É verdade.
Hoje acordei com a sensação que o AVP tem andado algo ligeiro, com vídeos das Pipettes (mas são o máximo, não são?) e da Alexandra Lencastre a descalçar-se, graçolas básicas e a não tratar assuntos de relevância relevantemente relevante, de amplitude universal ou mesmo cósmica.
Por isso vou atirar-me de cabeça à questão dos limites da liberdade individual e como eles se definem quando colidem com os direitos dos outros.
Pensam vocês neste momento, é agora que ele vai falar de Guantanamo, ou de Cuba, ou do Iraque ou até mesmo do Líbano.
Não, estão enganados.
Há problemas bem mais importantes e próximos de nós.
Podem não reparar mas é a pura verdade.
Vejam o caso de uma das minhas vizinhas.
Rapariga das minha geração, mesmo se não de criação muito chegada.
Com os calores estivais, passou a andar o dia quase todo com uma espécie de combinação creme, cor de carne, curtinha e de alcitas.
E assim vem para a rua deitar o lixo fora, chamar o miúdo que anda na brincadeira ou mesmo falar com outras pessoas.
Mas e então, perguntarão, de que te queixas?
Queixo-me e com razão, pois os legítimos direitos de ela andar naqueles trajes descapotáveis colidem com o meu direito a não ser confrontado na área de segurança em torno do meu lar com manifestações de atordoante poluição visual.
Não é que eu seja tão preconceituoso e grunho como pareço.
Mas é que - acreditem em mim - o tempo tem pesado naquela rapariga.
Tem mesmo pesado muito.
Eu que não sou nenhum lingrinhas e sou mais alto que ela uns bons centímetros penso que se fosse andar num baloiço com ela do outro lado, mal ela se sentasse eu era projectado para a estratosfera.
Por isso, tamanha exposição carnal deixa-me... como direi para não ser abusivo...
Deixa-me... deixa-me...
Assim a modos que meu enjoado para o resto do dia e sem apetite sequer para uns lombinhos de porco preto na brasa.
Porque mal olho para a carne me vem logo à ideia...
É que, sem exagero, são metros quadrados de carne em exposição, sacolejando de forma descontrolada e absolutamente gratuita.
Brrrrrrr........
Eu percebo as razões (o calor, a necessidade de sensação de liberdade) e os fundamentos (cada um é livre de fazer o que entende com o seu corpo...), mas por caridade, então e os meus olhos?
Eu sou pessoa cuidadosa, não me atravesso à frente dela, em calçonete, coçando os cristais!
Mesmo que ela me pedisse.
Acho que nenhuma pessoa de bem deve ser sujeita a tal atentado ao pudor.
Por isso, sinto um enorme dilema a entrar-me pelos olhos dentro.
Fora o trauma.
Já tenho medo de me dirigir ao ecoponto ou mesmo de sair de casa em horas mais críticas.
Preciso de solucionar isto de alguma forma, sei lá, uma providência cautelar que a impeça de se chegar a peças de roupa com menos de uma certa área - embora possam ser fininhas e frescas.
É que para além disso há crianças na vizinhança e depois os efeitos no imaginário dos miúdos pode ser devastador.
Sei lá se não foi isso que aconteceu ao George Michael na sua infância quando ainda era grego?
Por isso, acho que uma definição da liberdade individual é muito necessária nestes casos e deve incorporar limitações sempre que ela colide com a sensibilidade alheia.
É que se o calor dura muito mais tempo - se entra pelo Setembro dentro - os danos sofridos pela minha psique podem ser irrecuperáveis e depois como é que eu poderei desempenhar o meu papel na sociedade, na família, no mundo do trabalho?
E depois dizem que o pessoal gasta muito em anti-depressivos.
Pudera.

AV1

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