Antigamente, ser carteiro era uma das profissões mais respeitadas nas aldeias e vilas deste país, quando os CTT eram uma empresa séria e decente, sem correio de várias cores e sabores.
O carteiro conhecia toda gente e diligentemente entregava a correspondêrncia com rigor.
Os tempos mudaram, os CTT começaram a esquecer-se do serviço público e a lembrar-se mais do lucro e a qualidade dos carteiros começou a descer. Mesmo em terras relativamente pequenas como Alhos Vedros começou a aparecer correio extraviado, a desaparecerem revistas ou a serem entregues danificadas (fui obrigado a cancelar assinaturas de tão dobradas e vincadas que me enfiavam as revistas na caixa do coreio), para não falar de coisas piores.
Agora com os CTT em bandalheira completa, como um estudo recente da DECO provou, mais interessados em distribuir publicidade que correio a horas, os carteiros desceram ao nível mais básico possível. São putos mal saídos da escola, com níveis de alfabetização funcional mínimos e regras de bom senso e educação perdidas em combate. Tudo se troca, contas, reformas, cartas normais, revistas, com o ar mais natural deste mundo, tratando quem reclama como se fosse um maníaco da exigência. Desde correspondência de ruas completamente diferentes a cartas para números e andares que não existem na rua e prédio onde habito, tudo passou a ser possível. Estupidamente continuei a assinar revistas: desde o puro e simples desaparecimento do que parece mais atractivo (a Maxmen e as suas meninas quase despidas) ao estragar do que é menos fácil de colocar na caixa, sem tocar à campaínha (a National Geographic, a Volta ao Mundo), a um pouco de tudo temos direito nesta selva em que se tornou a distribuição postal entre nós.
Tendo reclamado uma vez por telefone para a central de distribuição, disseram-me que o carteiro que fazia o meu giro até tinha frequência universitária.
Nada mais me poderia provar o miserável estado a que chegou a nossa educação.
Na estação, a dona Lucinda já faz por não ouvir, embora ela ainda faça os possíveis porque, de quando em vez, aparece com cada mal encarada lá pela estação, que mais vale comprar selos nas máquinas que existem à porta das estações do Barreiro ou mesmo da Moita.
É o que temos e aquilo a que chegámos.
Que saudades do senhor Silvestre.
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