domingo, fevereiro 27, 2005

Memórias de um BeDófilo em Alhos Vedros VI



Cap. VI – Os álbuns de uma juventude

Na segunda metade dos anos 70, a grande novidade passaram a ser os álbuns de Banda Desenhada, de “capa dura”, com histórias completas da Bertrand. Já havia antecedentes (caso dos álbuns da Íbis), mas para mim e os meus amigos foram os álbuns editados pela Livraria Bertrand com os heróis da escola franco-belga (Astérix, Tintin, Lucky Luke, Bruno Brazil, Blake e Mortimer, Bernard Prince, Luc Orient) que marcaram aquele tempo. Quem leu há um par de Domingos um Suplemento em Quadrinhos extra que organizei já sabe disso.
Na verdade, eram poucos os que qualquer um de nós tinha, pelo que se liam emprestados uns dos outros ou então os poucos que apareciam pela Biblioteca da Gulbenkian, na Junta de Freguesia. Lembro-me que o primeiro que me impressionou a sério, começando pela capa em tons alaranjados, foi o Oásis em Chamas do Bernard Prince da dupla Hermann/Greg. Era do meu amigo V. e sempre o cobicei mas ainda hoje não o tenho, por estar esgotado e nunca o ter encontrado em alfarrabista. O segundo, da editora brasileira Record, foi As Jóias de Castafiore do Tintin, a mais brilhante história em que nada e tudo acontecem ao mesmo tempo, que li e reli, tendo hoje a edição que saiu com o Público há uns quantos meses junto com a antiga toda colada com fita adesiva mais do que amarelada. Seguiram-se outros álbuns marcantes como o Sarabanda em Sacramento do Bruno Brazil, A Zaragata do Astérix, O Clã dos Centauros do Simon du Fleuve, Os Náufrados do Arroyoka ou o delicioso A Herança de Rantanplan do Lucky Luke. Todos estes (mais uns da Comanche, do Tanguy e Laverdure, do Dan Cooper ou do Buddy Longway) acabei por arranjá-los mais tarde quando os rendimentos permitiram passar a comprar um Astérix novo cada quinzena (custavam então 200$00 ou pouco mais e levou quase um ano a completar a colecção até ao Grande Fosso) e um dos outros em segunda mão nos alfarrabistas por 50$00 ou 100$00). O Michel Vaillant ou o Ric Hochet, muito apreciados pelos meus colegas, não foram dos meus favoritos da época, pelo que tenho apenas um par de cada.
Já o início dos anos 80, marcou o aparecimento dos álbuns da Meribérica (de “capa mole”) e a minha evolução para alguns gostos um pouco mais “sofisticados”.
Uma das minhas primeiras compras (1981) foi, por 220$00 com o dinheiro do meu aniversário ou do Natal anterior, o Bela mas Perigosa de Angus McKie, já não da escola franco-belga mas da Heavy Metal americana, uma história de ficção científica fantástica em que até aparecia o Woody Allen caricaturado, mas em que o grafismo era completamente inovador e arojado. Seguiu-se o Silêncio do Comés (1983) e, também a preto e branco, boa parte dos álbuns do Corto Maltese de Hugo Pratt, editados pelas edições 70, o primeiro comprado por 120$00 ou algo parecido, em 13 de Janeiro de 1984, conforme me diz a assinatura que fiz então. A cores, foi a vez de ficar seduzido pelo Axle Munshine da dupla Godard/Ribera e, finalmente, de começar a gostar do Valérian de Meziéres/Christin que nas páginas do Tintin me tinha deixado bastante indiferente.
Era a chegada (quase) à idade adulta e, como já disse, ao período em que graças ao dinheirinho de uma bolsa de estudo bem poupadinha e, depois, do belo do trabalho, me foi possível ir pacientemente acumulando as primeiras dezenas de álbuns que, pelos inícios dos anos 90, iriam cerca da centena e meia. A partir de então, o ritmo diminuiu e o interesse passou a ser menor.
Colecções completas de álbuns só tenho as do Astérix, do Tintin, do Blake e Mortimer do E. P. Jacobs e do Corto Maltese, tendo ficado a meio as do Axle Munshine e do Valérian, enquanto nunca consegui reconstituir todo o Bernard Prince ou o Bruno Brazil. Quanto ao Lucky Luke é simplesmente impossível arranjá-los a todos, porque já lhes perdi a conta.
Hoje, contudo, volto a ler todos os anos uma meia dúzia de Astérix e repito a leitura de um ou outro álbum do Martin Milan do Godard ou mesmo de um Lucky Luke, desde que tenha os Dalton e o Rantanplan em desvario.
De quando em vez ainda compro um álbum novo e, confesso, tive o prazer de comprar recentemente um dos melhores álbuns de sempre da minha biblioteca, o Quotidiano Delirante do galego Miguelanxo Prado. Se o apanharem, no Feira Nova ou no Carrefour, custa 10 euros em preço azul das Edições Asa e vale todos os cêntimos do preço. O meu já está em lugar de destaque e à mão, na estante ao lado deste computador.

António da Costa
, 25 de Fevereiro de 2005

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá António Costa.
Cheguei acidentalmente ao seu blog e não pude deixar de ler o seu post.
Achei interessante o seu profundo conhecimento de BD e não resisti a perguntar-lhe por um livro que em tempos idos desesperei à procura dele e nunca encontrei.
Tenho poucos elementos para lhe dar, mas talvez lá consiga chegar.
Em 1971, cumpria eu o serviço militar em Angola, quando dei entrada no Hospital do Negage com graves problemas na coluna por causa de um acidente de jeep.
Nos intervalos em que conseguia algum alívio para as dores li 2 revistas de BD que um companheiro de enfermaria me emprestou e que me faziam rir imenso e melhorar a minha autoestima.
Eram do tipo Lucky Luke, (formato e capa), (creio que capa dura).
Era a história de um cowboy andarilho e justiceiro à sua maneira, que tinha umas pernas de tal forma compridas que mesmo cruzando-as por baixo da barriga do cavalo (quando cavalgava), arrastava as botas pelo chão e fazia sulcos.
Dava pelo nome de TIRÓLINHAS.
Por acaso leu alguma vez algum livro destes? E se sim, sabe como posso arranjar pelo menos um exemplar?
Um abraço.

Francisco Paes,

PS. Felizmente recuperei das costas.

AV disse...

Penso que isso era de autoria portuguesa, mas não me lembro da capa dura.
Vou ver se dou com qualquer coisa, pois isso toca-me uma campainha, só que neste momento não sei bem qual.
Mas se nos mandar um mail para avedros@gmail.com, nós depois damos notícias porque o arquivista-mor de BD é o meu colega.

Anónimo disse...

OK!
Obrigado pela resposta pronta.
O meu e-mail é:
amaralpaes@gmail.com
Já agora, tenho um cunhado mais novo, que teve em tempos um livro de BD que adorava mas que lhe desapareceu.
Algum empréstimo a um amigo da onça.
Ele gostava de adquirir outro exemplar, para repor na prateleira, mas não sabe onde o arranjar, mesmo em 2ª mão.
Trata-se da "Bela mas perigosa" de Angus McKie, (versão em português).
Poderão dar-me alguma pista?
Obrigado.
Um abraço.