... tanto a minha arrecadação como o meu cérebro.
Há dias, perguntava-se a minha mulher como é que eu sabia o nome da cara-metade do camarada Rosas. Respondi-lhe que tenho uma enorme quantidade de informação (in)útil acumulada no cérebro, mesmo se não me lembro onde é suposto deixar as peúgas sujas ou o que jantei ontem.
O meu cérebro é assim como a minha arrecadação, em compacto, ou como os discos dos meus computadores, mas com o muco da sinusite a incomodar.
Ora bem, vem isto a propósito das minhas aventuras entre milhares de folhas de jornais velhos, à cata dos primeiros Independentes que saíram em finais de 80 e mesmo do nº 1 do Semanário que saiu um bocadito antes.
Queria achar os originais de uns textitos que na altura li sobre a situação do país, para comparar com o que agora temos. Cansei-me e comecei a espirrar com a poeira do papel, pelo que não achei tudo o que queria.
Fiquei limitado ao meu cérebro e à memória de um interessante texto de José Miguel Júdice que, salvo erro na última página do tal número inaugural do Semanário, dava a receita para emagrecer o peso eleitoral do PC e da esquerda à esquerda do PS.
Dizia ele que a solução era desenvolver o país e, assim, demonstrar pelas virtudes do sistema democrático capitalista ocidental, como as ideias da esquerda marxista não eram úteis e desnecessárias.
Durante boa parte dos anos 90, Júdice parecia ter razão. À esquerda do PS acantonavam-se cada vez menos eleitores; entre o PC e a esquerda mais extrema somavam-se quanto muito 10% dos votos. Foi o efeito da bolha cavaquista e da euforia guterrista inicial.
Tudo ilusão.
O dinheiro entrou no país, mas uma parte saiu enquanto a maior parte do que ficou, ficou num lote reduzido de bolsos.
Quinze a vinte anos depois estamos melhores, mas pouco melhores e infinitamente menos bem do que deveríamos.
A receita de Júdice não foi aplicada convenientemente.
A esquerda à esquerda do PS (aquilo que alguns chamam "esquerda radical" por falta de conhecimento), aproxima-se dos 15%.
De certa forma é a prova do insucesso das políticas de desenvolvimento dos partidos que nos governam ininterruptamente há 30 anos.
Porque, embora na altura eu tenha achado que Júdice era de "direita radical" (era a ignorância a falar), agora acho que ele tinha razão.
Os resultados de Domingo e a subida da esquerda marxista (leninista, maoista, trotsquista) apenas demonstra o falhanço do resto dos partidos. Oxalá os senhores que se seguem percebam isso mas acredito que eles não tenham lido essa prosa ou, se a leram, não lhe deram a devida atenção e importância.
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