quinta-feira, agosto 03, 2006

O Buraco Negro

Ainda a propósito das dívidas ao Fisco, um outro aspecto que nem sempre é suficientemente destacado é o de as dívidas conhecidas serem relativas aos agentes económicos que estão "dentro" do sistema e sobre o qual existem meios, mesmo que mínimos ou meramente indiciários, para calcular os seus rendimentos.
Ficam de fora todos aqueles que fuuncionam à margem do sistema, na chamada "economia paralela", que parece estar de novo pujante entre nós e aparentemente a níveis superiores aos de outros tempos em que o aparelho fiscalizador do Estado era uma anedota comparado com a graçola que ainda é.
Há quase 25 anos, Manuel Villaverde Cabral calculava, num estudo pioneiro (publicado na Análise Social nº 76 de 1983) e feito com todas as dificuldades que se calculam, em mais de 10% o valor da chamada "economia subterrânea" que escapava a todo o tipo de controle do Estado, em especial em zonas rurais.
Ao que parece, e por virtude das transformações no mundo em que se desenvolvem estes "sistemas paralelos" de trocas virtuais, facturações inexistentes e todo o tipo de falcatruas que agora se desenvolvem a alto nível, o valor da riqueza que escapa ao aparelho fiscal do Estado andará perto dos 20%.
O que parecendo que não, é um em cada cinco euros da riqueza produzida entre nós.
E que, com o argumento de não prejudicar ninguém mas apenas o Estado, prejudica-nos a todos nós.
No aumento dos impostos dos que pagam.
No aumento da idade da reforma.
Nos cortes em regalias e direitos sociais.
Talvez, antes de se pensar em outros protestos, fosse interessante muita gente pensar nisso.

AV1

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