quinta-feira, fevereiro 10, 2005

A Democracia em funcionamento

Batiam as 7 da tarde na torre da Igreja (de qual não sei ao certo), quando, ao fazer zapping, apanhei com o Tempo de Antena na SIC.
Para minha sorte, no lote que me coube, e antes do PS, levei com o Partido Humanista, o POUS, o MRPP/PCTP e o Partido Nacional Renovador.
Os tempos de antena dos chamados “pequenos partidos” são pequenas pérolas da nossa democracia e como tal devem ser preservados.
Neste caso tínhamos dois partidos históricos da extrema-esquerda (ver entrevista de Carmelinda Pereira na Visão desta semana) e duas criações recentes de direita indeterminada (PH) ou extrema-direita (PNR).
Façamos a análise dos respectivos tempos de antena com base em quatro itens (imagem, som, mensagem, agentes da mensagem).

Partido Humanista – Produção assim para o modernaço, com imagens de exteriores e diversos protagonistas. Mensagens politicamente correctas, com destaques a surgirem inseridos na imagem. Som inenarrável, como se as pessoas estivessem a falar num túnel de metal e, para detalhe final estranhíssimo, a banda sonora do “Miami Vice” como som de fundo. Não se percebe a quem se dirige este partido, como existe, de onde vem, para onde vai, quem pagou aos figurantes e quem está interessado nisto.

Partido Operário de Unidade Socialista – Produção coerente com a dos últimos 30 anos. Plano fixo, sem sons extra, candidato a falar (apanhei com um António Guerra, 2º candidato por Lisboa, suponho que atrás da camarada Carmelinda). Melhoria notória na fatiota do candidato nos últimos anos. Já não parece estarmos a ver um tempo de antena do Uzbequistão com camisolões ou pull-overs dos anos 70. Mensagem clara, linear e dirigida aos 14 militantes do Partido e 32 eleitores. Admira-se a coerência, a persistência e a indigência.

MRPP/PCTP (todos sabemos quem são, não é preciso explicar) – Esplendoroso arranque com excerto da Internacional. Entramos logo numa dimensão de nostalgia revolucionária. Cartaz com Garcia Pereira no seu sorriso mais forçado de sempre. O homem parece mais cheinho de carnes. O burguês exercício da advocacia parece estar próspero. Fala um tal de Ricardo Felgueiras. Diz mais ou menos o mesmo do que o candidato do POUS. Não percebo a diferença entre estalinismo e maoísmo, tirando o facto do fato (trocadilho básico devido à vestimenta deste candidato). Quero ver o Leonel Coelho. Quero ouvir mais um bocadinho da Internacional... fizeram-me a vontade. Boa; acabou.

Partido Nacional Renovador – Surge um senhor a falar de que apontei o nome, mas já perdi o papel devido ao início do seu discurso: “O PNR é a favor da natalidade e do crescimento demográfico”. Por momentos cheguei a pensar que fossem começar com uma sessão de educação sexual. Fiquei sem perceber se são contra a contracepção, se são a favor do sexo desenfreado ou se acham que somos poucos para tanta riqueza esbanjada neste país. Confesso que fiquei confuso. A música parecia ser um hino próprio do partido (pelo menos não era Vangelis). A seguir aparecem um pescador muito irritado e um senhor idoso a ler um papel, que parece ser um dos candidatos por Setúbal – Carlos Paula Pereira ou algo parecido (já escrevi que perdi o papel onde apontei os nomes, devido ao estado de pasmo em que fiquei e não consigo achar a lista no site dos rapazes).

Resumo: Agora é que fiquei sem saber o que fazer no dia 20 de Fevereiro. O pós-modernismo do PH atraiu-me tanto como o estoicismo do POUS, a coerência do MRPP e o apelo ao sexo do PNR. E agora, por Zeus, o que faço ?
O melhor é esperar pelas propostas do PSN (estes ainda concorrem?), do PDA e da Nova Democracia.
Nunca sabe que surpresas boas nos esperam.

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