Eleições 2005

Dando sequência ao nosso convite para expressarem a sua opinião em relação às eleições do próximo dia 20, chegou-nos o texto que agora divulgamos de um nosso leitor que se assina "Lamina". É um excelente exemplo de reflexão que, embora não partilhada por aqui em todos os pontos, demonstra ter cabeça, tronco, membros e a estrutura argumentativa que faltam ao discurso político, a nível local e nacional.

Assim sim, vale a pena trocar ideias.

Caro Senhor,

Esta minha missiva vem a propósito do replicar de sinos, efectuados pelos Srs. Mário Soares e Cavaco Silva, quanto à falta de qualidade dos políticos actuais, a que o Presidente Sampaio , aparentemente, anuiu tendo agido em consonância e dissolvido a A.R..
Nao discordo que os SRs. Lopes, Sócrates, Portas e C& deixam muito a desejar quanto à capacidade de motivar o país para o desafio do alargamento a Leste num mundo cada vez mais globalizado. Sao tempos difíceis, aqueles que vivemos ! No entanto, nao enfio o barrete que os Srs. Soares e Silva nos querem enfiar. E sabe porquê ?
Porque apesar de, de há largos anos a esta parte, termos bons empresários, cientistas de nível mundial, excelentes jornalistas , médicos de primeira , serralheiros procurados em todo o mundo , eng. informáticos na vanguarda do desenvolvimento de software, futebolistas excepcionais, etc, só temos tido a sorte de poder contar com políticos medíocres.
O POVO nao está contente com os níveis de desenvolvimento tidos desde o 25 de Abril , ainda que sobrefinanciados pela CEE. O "ar de graça" que o 1° governo do Prof. Cavaco Silva deu é manifestamente insuficiente para tantos anos de sucessiva desresponsabilizaçao.
As diferentes reformas que sucessivamente têm sido adiadas só poderao ser levadas à prática quando , em simultâneo, se verificarem as seguintes premissas:
1 - Responsabilizaçao política ( dou-lhe o exemplo da Alemanha em que os funcionários falam e escrevem em nome da instituiçao que representam. A personalizaçao do mérito e do demérito evita zonas cinzentas e permite demarcar as zonas ultrapassadas as quais serao passíveis de processo disciplinar , demissao ou julgamento. );
2 - Ascensao politica gradual ( os políticos deverao chegar à A.R. depois de terem dado o seu contributo político nas Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais e outras instituiçoes de serviço publico e nao vindos , ou da cátedra ou do C.A. das maiores empresas públicas e privadas , vivendo num mundo "almofadado", completamente desfazados da realidade da maioria dos portugueses. ) .
Pode parecer uma visao simplista ou até naive mas garanto-lhe que, estas sao as pequenas grandes diferenças entre nós e os países do centro da Europa com a nossa dimensao ( Holanda, Bélgica, Dinamarca, etc ). Como dizia o nosso poeta maior, “Pôe quanto és no mínimo que faças” .
Este deveria ser o lema que regulasse a sociedade portuguesa . Ao invés assistimos à manutenção do seguinte lema a seguir virá quem de mim bem dirá. Ah ! É verdade.
Em quem voto ?
Diz o Pacheco Pereira e bem que o PSD afasta e o PS não atrai. Nao posso estar mais de acordo com tal afirmação. O PCP está esclerosado , o Bloco de Esquerda cheira muito a Licor Beirão e por isso vou votar no PP.
Reconheço que este simples exercício de lógica padece no entanto de substância que o torne extrapolável para um país que se tem resignado às sucessivas colheitas de políticos brilhantes no discurso e medíocres na execuçao.

Atenciosamente

Lamina