III – Vejam lá para onde me empurraram
Pelos dois textos anteriores deste meu manifesto, já se percebeu que:
a) Não gosto de maiorias absolutas monopartidárias;
b) Não me revejo nos candidatos a Primeiro-Ministro que estão disponíveis;
c) Tenho algumas reservas sobre os candidatos a deputados pelo distrito de Setúbal, mesmo se dou uma pequena vantagem á lista dos elegíveis pela CDU.
Do que já escrevi muito mais para trás, quem é antigo nas visitas ao AVP sabe-o, sou tendencionalmente abstencionista desde que tenho direito ao voto, nunca tgendo votado em eleições autárquicas e europeias, e oscilando nas legislativas entre a abstenção e o voto em partidos com uma tendência ecologista (caso do MPT, depois da cisão no PPM, e antes do encosto ao PSD). Acresecento ainda que votei em Presidenciais á esquerda e nos dois referendos em sentidos diferentes: a favor do aborto e contra a regionalização.
O que fazer agora ?
a) Abster-me de novo ?
b) Votar em branco, à Saramago ?
Não e não, porque:
a) Não quero colaborar neste momento, por omissão, numa maioria absoluta como fiz, por exemplo, em 91.
b) O voto em branco é, para mim, uma irrelevância colaboracionista com um sistema em que não concordo, pelo que se é para participar que seja pela afirmativa.
Disto resulta que vou votar em legislativas pela primeira vez desde os anos 80.
Para mim o ideal seria, como uma vez propôs o humorista brasileiro Millôr Fernandes, que se pudesse votar contra. Nesse caso, se tyivesse 10 votos para votar contra, dava 4 ao Santana, 3 ao Portas, 2 ao Sócrates e 1 ao Louçã (o camarada Jerónimo, afónico, não merece mais agressões).
Se não quero maiorias absolutas, PS ou PSD, se outros motivos não existissem, estão eliminados.
Como votar em partidos sem possibilidades de chegarem ao parlamento é, neste momento, um voto de protesto inútil, restam-se o o BE, CDS e a CDU.
Porque estive próximo da sua nascença, meio tortuosa, quase vendo a semente ser lançada à terra e por duvidar de alguns dos criadores de tal criatura e por achar que desejam demasiado o Poder, ao ponto de trocarem os seus princípios proclamados por uma pose de Estado (à moda do PP que voltou a ser CDS), o BE fica excluído.
Como não acredito que o CDS, na sua encarnação actual, seja mais do que um exército particular dos devotos ao líder Paulo Portas ou mais do que uma fachada para alimentar à custa do Estado uma clientela de (ex-)jovens e outras personalidades a que convém recompensar os serviços ou silêncios, que abdicou dos valores propalados aos quatro ventos durante todos os anos 90, também está excluído.
Resta-me, mesmo se não com profundo entusiasmo ou gosto, a CDU que, apesar das suas limitações actuais e da sua ortodoxia, pelo menos parece ser o que é e ainda acreditar no que diz, pelo menos com este líder que corresponde à essência do PCP que ficou.
Nunca votei, até Domingo, no PCP/FEPU/APU/CDU.
Em alguns momentos estive claramente contra alguns dos seus peões, contestando no terreno as suas orientações e manifestando claramente a minha oposição, por exemplo, ao que o PCP tem feito na Câmara Municipal da Moita. Aliás, quase estive a não votar CDU quando vi a “exelência” do shôr Presidente de braço dado com Jerónimo de Sousa e Francisco Lopes,
Não sou, nem nunca fui, marxista-leninista, estalinista, maoísta, trotsquista ou qualquer coisa afim. Não tenho dessses desvios de juventude, nem esqueletos escondidos, com o metacarpo de fora.
No entanto, hoje, perante as circunstâncias, só a CDU me apresenta a hipótese de impedir de forma consequente uma maioria absoluta do PS, que a clique bloquista se chegue ainda mais ao Poder, como todos antecipam, e que os princípios não sejam trocados por vantagens individuais ou de grupo.
Por isso, minhas caras e meus caros, farei como Cunhal mandou os comunistas fazer na segunda volta das Presidenciais em 1986; engolirei o sapo e colocarei a cruzinha onde acho que é indispensável.
Sei que não sou acompanhado pela maioria dos leitores do blog e até por alguns colegas meus (quase tudo dividido entre o Bloco e o CDS, a avaliar pelas reacções aos nossos textos), mas é meu dever tornar clara a minha posição.
Até segunda-feira.
António da Costa, 17 de Fevereiro de 2005
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