sábado, fevereiro 05, 2005

A Estante VI



«Uma pessoa descontente, agressiva, que se tornou má pode deixar-se mover graças a um pouco mais de atenção, de tolerância, de simpatia; mas experimente-se moderar um imbecil, arrancá-lo às suas convicções firmes ou, melhor dizendo, inflexíveis, insinuar no seu espírito uma dúvida, por mínima que seja: só aparentemente se deixará embaraçar, dar-se-á o tempo todo para recomeçar a urdir, por assim dizer, o seu raciocínio na ideia obstinada de que somos nós a não compreender, pertinazes como nos mostramos reiterando a tentativa de descarregar sobre ele a nossa própria imbecilidade.
Já o viram em acção ? Quando não se sabe - e esse é o momento, em meu entender, mais cheio de perigos - em que estará ele a pensar ? (...) Que desastres não devemos esperar de um pensamento já de si tão reduzido, quando o seu portador o reclamar, digamos assim, para o pôr em movimento ?»

Pino Aprile, Elogio do Imbecil (Lisboa, D. Quixote, 2003, p. 9)

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