Consegui finalmente arranjar tempo para acabar de ler este livrinho em que é relatada, "por dentro", a campanha presidencial americana de 1992 entre Bush Sr. e Clinton.
A maior curiosidade é o facto de os dois directores políticos das campanhas estarem na altura envolvidos e terem acabado por casar, para além de serem empedernidos militantes de cada um dos respectivos partidos, Mary Matalin dos Republicanos e James Carville (o "cabeça-de serpente" como lhe chamavam os colegas da namorada) dos Democratas.
O livro é extremamente rico porque nos permite, a esta distância, perceber como os Republicanos aprenderam com os seus erros de então e porque as campanhas do Bush Jr. foram como foram, truculentas e cheias dos truques baixos que o pai desaprovava, assim como a Casa Branca se tornou uma mera extensão do aparelho de propaganda partidária para a reeleição, coisa que o Bush Sr. também impediu para frustração dos operacionais políticos. Matalin, apesar da aparente devovação pelo antigo presidente, demonstra toda a insatisfação pelos erros cometidos, pela falta de agressividade e pelos desencontros entre a equipa política e governamental republicana de então.
Por outro lado, Carville mostra-nos como agir em caso de ser necessárias respostas rápidas em situações de crise, como minimizar os danos de sucessivos ataques ao carácter do candidato e como entalar oponentes internos no próprio Partido Democrático.
Ambos revelam o esforço para manipular os meios mediáticos e a forma como as equipas políticas encaravam os meios de comunicação social como adversários, apesar da sua utilidade.
Para a nossa actualidade é interessante notar como que em 92 começava a desenvolver-se nos EUA, cá foi chegando com uma década de atraso, estando as nossas campanhas e as técnicas usadas, a par algures do que se fazia por lá na segunda metade dos anos 90, em aspectos como a simplificação das mensagens, a concentração em temas nucleares, a produção de um discurso repetitivo e básico, sem heterodoxias, o abafamento das vozes internas discordants, o aproveitamento do mínimo deslize do adversários, mesmo que em questões menores, a intimidação e o uso extensivo do spin para distorcer tudo o que (não) convenha, desde o que corre mal do nosso lado até ao que está a correr bem aos adversários, incluindo a conversa da treta sobre as sondagens e a preparação de dossiers sobre certos temas para fornecer à imprensa, para lhes poupar o trabalho de pesquisarem.
Devagarinho, devagarinho, por cá tudo isto se vai instalando, do nível nacional ao local.
Concentração da mensagem.
Predomínio da coreografia política.
Opacidade das jogadas de bastidores.
Distorção dos factos desagradáveis.
Spin, muito spin.
Ou pelo menos a tentativa, porque o problema é os actores serem ainda novatos nisto, mesmo se não são amadores da política.
AV1
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