segunda-feira, março 27, 2006

Embirrações de estimação - Parte 81260

Recebi há umas horas um telefonema em que me era comunicado que, finalmente e ao fim de 10 dias 10, o meu computador estava reparado e o seu disco substituído.
Fiquei de voz embargada pela emoção, como acontece sempre que a qualidade e rapidez de um serviço se unem desta forma, só que não em meu favor.
Eu vou ser muito franco: da superfície ao fundo, eu embirro solenemente com vários tipos de "especialistas", estando no topo da lista, médicos, mecânicos e informáticos.
Vou deixar aqui de parte os médicos por um momento.
Vou esquecer-me dos belos momentos passados no Auto-Teles há uns anos a tentar que não me arrancassem a pele para substituir o óleo, os filtros e as velas, já que para mim mexer no interior de um carro é algo tão interessante como fazer uma autópsia.
Foquemo-nos, portanto, no caso dos informáticos, dividindo-os em duas subespécies: os "especialistas" em software e os "especialistas" em hardware.
As minhas histórias com os dois tipos de especialistas já vão em quase duas décadas e eu sei que devia ter vergonha e saber mais do que sei.
Mas o que querem, nasci numa década em que ainda não trazíamos incorporado o chip que instintivamente torna, nos dias de hoje, um puto de 7 anos num mago próximo do Bill Gates. Ou então os meus pais esqueceram-se de encomendar essa parte, para que o meu modelo saísse mais barato.
Mas foquemo-nos no que interessa:
Primeiros: os "especialistas" em software são aqueles tipos que, por dolorosa experiência própria, e quando temos um problema urgente em mãos, acham que essa é a melhor altura para explorar todas as potencialidades mais criativas (leia-se, "mais demoradas") de o resolver, ignorando o nosso desespero e a nossa pressa. A solução pode ser simples, mas é sempre um "desafio" achar uma via alternativa que lhes permita novos conhecimentos. Estão sempre a dizer "espera aí, deixa-me só tentar mais isto", quando nós já só queremos formatar o disco e reinstalar tudo, porque nos parece mais rápido e seguro. Desses, felizmente, consegui quase livrar-me, embora não por completo. Uso o que sei, tento aprender um pouco do que não sei e pura e simplesmente ignoro aqueles programas cuja lógica me escapa, até ao dia em que um clarão de luz desce sobre mim (há uns meses aconteceu isso com o raio do Photoshop, velho engulho meu, equivalente ao que tinha com o Wordperfect há 15 anos).
Segundos: os "especialistas" em hardware são mais parecidos com os mecânicos de automóveis. Quando lhes descrevemos o nosso problema, afivelam logo um sorriso como quem diz "és mesmo tanso e eu vou depenar-te que nem um perú na véspera de Natal" e continuam com variações desse sorriso ao longo de toda a conversa, enquanto emitem diversos comentários jocosos sobre o material que possuímos, que está sempre ultrapassado e a precisar de um valente upgrade. Temos 2Mb de memória DDR ? Pfffffff.... agora ninguém faz nada sem uns bons 8MB. Temos um disco de 120 Gb ? Bahhhhhh.... isso agora abaixo de 200 já não vale a pena comprar. Temos leitor de cds e mais outro leitor/gravador de dvds que grava em discos de 9 Gb ? Olha, olha... isso não dá para nada, o que é preciso é ter uma placa de entrada XYX para ligar a câmara digital e a aparelhagem de som e a televisão e a máquina de lavar louça e o aspirador tal qual o Bill Gates. O processador e a placa gráfica são da última geração, um Pentium tipo Ferrari e uma ATI Radeon Xetc e tal ou Nvidia 7777xxx ? Qual quê... desde ontem há um processador que faz o Ferrari parecer um carocha cor de rosa e a nossa placa gráfica uma anémica vergonhosa.
Mas depois vem a melhor parte que é quando, com o trabalho entre mãos, começam os problemas, os imprevistos, os atrasos e toda a conversa fiada em redor.
Ah e tal e coiso, afinal não era o que eu pensava, há ali umas incompatibilidades que eu não estava à espera. Quando carrego na drive do dvd o computador deita a língua de fora, e a motherboard não se dá bem com as entradas USB e que isto e aquilo, só daqui a uma semana é que consigo ter tudo no lugar.
Este é o momento em que nos sairiam uns belos "bardamerdas para ti também", caso o tipo não tivesse o nosso equipamento todo esventrado lá em casa, com os dados do trabalhos, os pics daqueles sites malandros e as músicas descarregadas todas à sua disposição.
E lá amochamos nós à espera de melhores dias.
Da última vez que me tentaram dar o golpe, tive a sorte do tipo não ter pagamento multibanco na loja e assim sempre lhe pude devolver a conversa da tanga "deixa-me só colocar o PC no carro que eu vou já ali à caixa, para levantar o resto".
Ainda hoje está à espera do resto e, por caso, apesar de ter o meu nº e morada, nunca me disse mais nada.
Agora vamos a ver como chega o material amanhã, de nova aventura nas mãos de um especialista diferente

Neste momento, o meu computador deve ser a coisa mais parecida com a Elsa Raposo ou a Alexandra Lencastre que cá entrou em casa, pois mais de metade das peças já não são as de origem. E olhem que se calhar não ficou muito mais barato.

AV1 (que ao fim de uma bela semana de espera finalmente pode escrever este post porque tinha o AVP definido como homepage e se o tipo ligasse o computador à net podia ler isto)

1 comentário:

Anónimo disse...

clap clap clap...
Ora aí está um post que aplaudo, eu que tb sou um perfeito analfabeto em relação a problemas informáticos.
Quanto ao teu pc parecer a Elsa Raposo ou a Alexandra Lencastre, espero que seja mais parecida com a segunda do que com a primeira...