quarta-feira, março 29, 2006

Consta e parece...

... que ontem era o Dia Nacional dos Municípios com Centro Histórico.
Digo parece, porque por estas bandas, apesar da CMM estar entre os membros da Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico, existe alguma dificuldade em perceber o que é um Centro Histórico, muita dificuldade em perceber como se preserva esse mesmo Centro Histórico e muitíssima dificuldade em agir em sua defesa.
Pelo contrário, a crença aparente é que se preserva o Centro Histórico derrubando os edifícios históricos, substituindo arbustos nos jardins, fazendo calçadas e metendo pilaretes pós-modernos a esmo.
Isso, infelizmente, ou não se faz (derrube e não preservação de edifícios essenciais para a identidade local) ou não passa da fase final de embelezamento do espaço do tal Centro Histórico (os pilaretes e as calçadas).
Que a Moita tem escasso património "histórico" é algo claro e o pouco que tem, na zona antiga ribeirinha ou junto aos acessos rodoviários a Palmela, Montijo e Alhos Vedros, foi sendo abandonado por parecer modesto e humilde e resta muito pouco. Que Alhos Vedros tinha esse património também era evidente, mas ele foi sendo descurado, enquanto foi sendo descaracterizada a sua unidade e coerência.
O porquê dessa atitude passa tanto pela falta de sensibilidade das elites políticas dominantes - na área da Cultura nunca me lembro de ter estado alguém que achasse que a Cultura fosse mais do que festarolas ou associativismo e na Presidência nos últimos 25 anos é melhor nem falarmos - como pela pura e simples falta de pessoal técnico qualificado para apresentar propostas capazes ou, se existe, pela incapacidade de se fazer ouvir, optando pelo silêncio táctico para não levantar ondas.
Por isso, é risível que alguém comemore tal dia no nosso concelho, pois seria excessiva falta de vergonha comemorar num dia o que é desprezado nos outros 364.
E nem seria difícil consultarem os camaradas do Seixal ou de Palmela sobre como manter a identidade dos núcelos históricos das povoações mais antigas do concelho (apesar dos atentados que depois permitem à volta, mas isso já é outra conversa) ou mesmo lerem as conclusões de um ou outro encontro da APMCH.

Infeliz ou felizmente, o que resta são apenas esforços de particulares que, com maiores ou menores capacidades, sempre vão tentando registar e fixar a memória daquilo que os poderes públicos e os interesses privados têm vindo pacientemente a deixar desaparecer, por manigesta incúria, má-vontade ou profunda ignorância.

AV1

16 comentários:

joao figueiredo disse...

"na área da Cultura nunca me lembro de ter estado alguém que achasse que a Cultura fosse mais do que festarolas ou associativismo"

está enganado

Anónimo disse...

Quem ?
O senhor do fórum ?
Não me lembro de que tenha promovido nada na área do património, mas...

joao figueiredo disse...

a Cultura para si resume-se a festarolas, associativismo e património?

por patriomónio suponho que se esteja referir apenas ao arquitectonico

Anónimo disse...

Não, muito pelo contrário...
Por isso mesmo é que a acção autárquica nessa área foi (é!) longamente omissa, para além do apoio a umas conversetas coloquiais.
Certamente sabe que património existe muito, do ambiental ao arquitectónico, não esquecendo o etnográfico que só ele inclui tanta, tanta coisa, que seria preciso um antropólogo encartado para o explicar devidamente.

Já para as autarquias locais do concelho que temos, 90% passa por festarolas (se posível com bois e vacas de quatro patas e muita areia e bosta), apoio ao associativismo amigo e pouco mais.

Mas gostava que contradizesse ou contraditasse com exemplos da boa acção...

Já se esqueceu do estribilho "Concretize, por favor..."

joao figueiredo disse...

então como já sei que não gosta de hipocrisia, só posso depreender que se trata de ignorância

Anónimo disse...

"apoio ao associativismo amigo e pouco mais."

Cá o orelhudo ouviu dizer que o Desportivo de Portugal, onde está o Camarada Pedro está em GRANDE e que os Brejos Faria de onde o dito saiu está nas lonas.

Terá algo a ver com o que está acima?

Anónimo disse...

Ignorância será porque o meu caro JF escreve, escreve, mas não concretiza népias.
Mais do costume...
Sabe muito, mas fica guardado a sete chaves.
E depois os outros é que...
Pois, pois...

joao figueiredo disse...

ignorância porque o meu caro AV1 só vê o que lhe interessa, ou nem isso...

o trabalho cultural da câmara, não sendo notável, tem coisas de muita qualidade, que estão longe de se resumir a "festarolas (se posível com bois e vacas de quatro patas e muita areia e bosta), apoio ao associativismo amigo e pouco mais."

AV disse...

Continuo à espera de um par de concretizações.

É que eu não meço o valor do AVP pelo nº de comentários sem conteúdo substantivo.
Se me der um par de exemplos nas áreas em causa, em especial ao nível da preservação patrimonial na sua acepção mais ampla...
Eu até lhe dou já um: o apoio à recuperação de embarcações tradicionais...
Fico à espera da sua sempre sapiente contribuição para diminuir a minha ignorância.
Então se conseguisse - só por causa da minha origem - exemplificar com o que se fez em Alhos vedros seria excelente.
Então se comparasse as verbas envolvidas é que ia ser ouro sobre azul.

Caiar o moinho de maré é óbvio que não conta.

;)

AV1

joao figueiredo disse...

já sei que conhece este link

http://www.cm-moita.pt/cmm/publicacoes/index.php

mas conhece a biblioteca da moita? conhece o forum cultural? conhece a recolha de poetas nossos munícipes? caiar o moinho não serve, mas e a sua conversão em espaço museológico? conhece os programas de leitura para crianças, feitas por munícipes que de algum modo se destacaram nas suas actividades? conhece os ateliers de artes que se vão realizando pelo concelho? frequenta as exposições e os concertos promovidos pela câmara? conhece a socorquex?

é que cultura não se limita a meia duzia de cacos velhos que, também vocês, deixaram apodrecer aí em alhos vedros.

repare que eu não lhe digo que está tudo feito, ou que tudo o que existe está bem feito, mas fechar os olhos e dizer que não existe nada não me parece sério.

Anónimo disse...

o av1 gosta é de festas com paneleiros como ele

AV disse...

Caro anónimo, está na pausa do café ?
A leitura de algum dos últimos posts desagradou-lhe em particular.
Paciência.

Agora coisas sérias, meu caro JF, conheço tudo isso, por acaso e acho que o trabalho com as escolas e a interacção escolas bibliotecas é um ponto forte a explorar.
Conheço todas as instalações que refere, excepto o interior do Fórum remodelado, pois só o conheci enquanto Ginásio.
Pe3lo que me dizem um excelente equipamento, com um orçamento razoável para os tempos.
Mas continuo a perceber que se esquece que as minhas queixas se centram principalmente no tratamento dado a AV, cuja biblioteca tem instalações muito fracas e a musealização do moinho é uma promessa com barbas brancas sempre adiada.
A teoria dos "cacos velhos" já percebi ser comum em opinadores banheirenses, sendo sinal da juventude da terra, assim como os EUa consideram as velharias europeias apenas velharias e depois fazem réplicas em Las Vegas.

Mas enfim, como nem gosto de Arqueologia...

Mas indo ao que interessa, só gostaria que me declarasse que acha que a CMM tem, sinceramente, uma política cultural coerente e articulada.
Eu acho que não, estando muitas vertentes ao abandono, sendo privilegiadas outras meritórias mas que, mas que, vou preferir não me alongar para não aprecer que estou contra tudo e todos os que intervêm nessas iniciativas.

AV1

joao figueiredo disse...

uma correcção: o edifício do fórum foi (re)construido a apartir do edifício do cine-parque, e não do ginásio, que ainda lá continua em pé e a funcionar.


quanto à actividade cultural da câmara deve conhecer aquela teoria da manta curta.


mas não me esqueço da "menina dos seus olhos". sempre achei que o nucleo cultural josé afonso era uma coisa pequena, pouco mais que uma sala de leituras com um quintal exterior com algum potencial. já sei que não gosta dos arranjos exteriores no centro de alhos vedros. eu gosto bastante, e acho que o problema da descaracterização da vila passa mais pelas casas que foram desaparecendo e pelas que foram sendo construidas, do que pelos candeeiros.

mas tb ouvi dizer que as obras no moinho são para agora (não sei se já começaram), e que a CMM prepara-se para instalar mais alguns equipamentos culturais em alhos vedros, durante os proximos anos. acham que são promessas vãs? façam força para que não o sejam.

a casa da cultura começou a ser reivindicada na baixa da banheira nos anos 60...

AV disse...

Correcção correcta: de qualquer modo, mantém-se a premissa. Ao Cine-Parque fui no passado, já algo remoto, ao novo Fórum só tirei fotos do exterior.

O "núcleo cultural" Jo´se Afonso" é uma anedota e a zona envolvente, tal como está, o mesmo.

Quanto às casas que caíram e às que se deixaram fazer, não fui eu que sou eu que tenho o poder de intervir em nome do interesse público e de requalificar, nem o poder de impedir os mamarrachos.
Ou serei ?

AV1

joao figueiredo disse...

como quer que eu lhe responda se não sei quem é? :D

a descaracterização do país é um reflexo da nossos níveis de instrução, da nossa cultura, e a responsabilidade é não só de quem deixa construir como também de quem constrói.

se o cuidado com a preservação dos espaços urbanos ainda é reduzida, se andarmos umas dezenas de anos para trás ...

Anónimo disse...

Pois, efectivamente.
Posso sempre ser algum dos responsáveis pelo Urbanismo dos últimos 20-25 anos: João de Almeida, João Lobo, Rui Garcia.
O leque de opções não é vasto...
Como é amigo de um ou dois, vai-se ver sou o João de Almeida.
:D

Tomara eu que tivessemos anos de atraso, se fosse no sentido da manutenção de certos equilíbrios entre os homens (e mulheres, que é para não ser misógino, e gays, que é para não ser discriminatório), ambiente e "progresso".
O probelma é que acelerámos no sentido de um desenvolvimento terceiro-mundista.
Foi uma aceleração da história à la Trostsky.