quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Interesses Privados, Colaboração Pública




Mesmo para os mais fiéis próceres do regime moiteiro a peça jornalística do Público de hoje é passível de agitar as consciências mais empedernidas.
Não é uma peça anónima.
É uma peça baseada em documentação mais do que verídica (parte dela já me passou pelos olhos, em especial a da multiplicação dos euros).
É uma peça feita por alguém com credibilidade jornalística e longo historial na desmontagem deste tipo de esquemas (casos como os das judiarias na CMCascais ou mais recentemente da Fundação D. Pedro IV têm a sua marca).
Ao contrário do que o shôr presidente afirma não é obra de cibercobardes, nem se baseia em materiais nossos (se o fosse não viria mal ao mundo porque nunca publicamos documentos falsos ou temos "lapsos" nos anexos ou fiscalizações míopes), mas sim em documentação pública e legislação em vigor.
Aliás, é estranho que nos seus "esclarecimentos" JLobo elogie tanto o trabalho feito na preparação da revisão do PDM (pudera... grande parte dependeu dele) e aparente ignorar os atropelos feitos à legalidade, nomeadamente no caso em apreço.
Acredito piamente que JLobo nada perceba destes assuntos ou que os entenda pela rama, dependendo de assessorias e consultorias para tomar decisões.
Vamos ter essa interpretação caridosa dos factos.
Mas nesse caso, eu despediria com justa causa as assessorias e não renovaria certas avenças de quem deveria estar a par das leis. Afinal o homem tem amigos que lhe podem valer e dar abrigo, não ficaria no meio da rua.
O problema de tudo isto é que há quem tenha da gestão dos solos e da coisa pública uma visão meramente instrumental e se existe estratégia essa não é de benefício da coisa pública, como se vê pelos lucros que em meia dúzia de anos uns "certos e determinados" senhores, sempre em grupo restrito, conseguem gerar.
Nem a banca consegue margens de lucro tão altas (parece que em 2006 foram apenas de 40%, o que é mínimo em comparação com estes negócios da China em plena Moita).
Resta saber até que ponto este tipo de assunto era de comnhecimento mais alargado e quem deu a benção a tais negócios à margem da lei, em especial dando de mão beijada a hipótese de gordas indemnizações em caso de não cumprimento dos protocolos.
E neste processo uma CCDR a funcionar em piloto-automático também não escapa bem vista, ou mesmo o Instituito das Estradas.
Por isso eu tanto desconfio de estruturas intermédias do Estado, de tipo regional, ocupadas preferencialmente por clientelas.
Colocadas lá as pessoas certas, tudo rola e desliza.
Venha a regionalização encapotada ou não e tudo isto piorará.

E não nos deixemos confundir pelas retóricas: estes assuntos e comportamentos não estão muito distantes - como bem se percebe - dos que têm marcado ultimamente as notícias em relação à Câmara de Lisboa.
E depois o trajecto é o mesmo: há denúncias que não são levadas a sério pelos poderes, a coisa vai chegando ás páginas interiores dos jornais, depois á primeira página e depois já sabemos como tudo acaba por decorrer.
Vamos acreditar que JLobo entra nisto como figurante distraído, como alguém que não compreendeu bem o alcance do que fez.
Vamos dar-lhe esse enorme benefício da dúvida e acreditar que foi mal assessorado tecnicamente, que não conhecia as leis em vigor e que as condições negociadas nos protocolos foram apenas da responsabilidade de quem de Direito.
Vamos ter ainda esperança que o homem, depois de demonstrado o erro, emende a mão.

A esperança é a última coisa a morrer.


(e já agora, a notícia tem um erro ao assinalar que foi pago 1,5 milhões de contos a Tomás Cruz, pois foi apenas 1,5 milhões de euros, pois parecendo que não é apenas um quinto daquele valor)

4 comentários:

Mário da Silva disse...

Isso era muito giro se não tivesse havido um Parque Temático que tenha gerado estas considerações retiradas daqui e que parecem estar absolutamente esquecidas:

-> O processo estar a ser preparado há algum tempo -- um ano, conforme dito pelo sr. presidente três anos conforme o sr. gerente da Badoca Parques -- EXCLUSIVAMENTE pelo Eng. João Lobo, Arq. Carlos Matos, Dr. Rui Encarnação (ex-advogado do CMMontijo e agora também ex-advogado da CMMoita) e pelo sr. Álvaro Saraiva (militante dos Verdes, deputado da Nação às vezes, e ex-vereador do Montijo), conforme palavras do próprio Presidente Lobo;

-> A CDU não ter querido usar este projecto na recente campanha para as eleições autárquicas para não se valorizarem e, em contrapartida, terem usado promessas ocas e com anos com o mesmo objectivo;

-> Pelo facto de certas alegadas ligações a vários contrutores civis, nomeadamente MACLE (ou Rodrigues & Filipe que é o mesmo) e E. Catum, de alguns dos intervenientes ainda não estarem cabalmente esclarecidas;

-> Pelo facto dos outros vereadores da CDU só terem tomado conhecimento três semanas antes do assunto, conforme dito pelo próprio sr. presidente em reunião de câmara privada onde se votou o célebre protocolo;

-> Pelo facto dos vereadores da oposição só terem tido três dias úteis para se inteirarem do protocolo; dado o mesmo lhes ter sido entregue numa Sexta-feira, ao fim do dia, para ser aprovado logo na Quarta-feira seguinte;

-> Pelo facto do Rui Garcia (vice-presidente) se ter muito apropriadamente esgueirado para outro país a serviço do seu partido e pelo facto do protocolo ter mesmo de ser votado na sua ausência não podendo esperar nem mais um dia;

-> Pelo facto do protocolo só ter visto a luz o dia após a vereadora Eurídice Pereira ter formalizado a sua substituição como vereadora, ao partir para a vice-presidência da CCDR-LVT;

-> E ainda pela subtil forma de pressão que foi usada para se fazer aprovar este projecto por unânimidade, com o recurso aos velhos truques do "Ou é agora ou nunca" e ao "Claro que serão tomadas todas as precauções ambientais", e ao "Vai colocar a Moita no mapa" e o sempre "São muitos empregos para o concelho tão deprimido"

Coisas que estão esquecidas.

Outra coisa esquecida é o FACTO de um antigo colaborador do Arq. Bruno Soares ser (ou ter sido durante muito tempo) funcionário da CCDR com responsabilidades nestas áreas.

Quantos mais ex-colaboradores estarão infiltrados na CCDR-LVT e em outras CCDRs por esse país fora para que o sistema não encrave?

Você é muito benévolo com esta cambada. Para mim já só falta riscar a HONESTIDADE, e isso somente por falta de julgamento legal.

Até mais.

AV disse...

Deve ser a minha faceta de escuteiro.
:D

Mário da Silva disse...

Deve ser :D

Anónimo disse...

este jornal saiu dia 2 de fevereiro?