Há um par de dias deixava a interrogação sobre qual seria a razão porque a CMM e o seu presidente preferiram não reclamar qualquer direito de resposta às notícias do Público e, em vez disso, espalhar um comunicado em forma de pretenso "esclarecimento" por alguns órgãos de comunicação social meramente de âmbito local.
Para mim as razões são óbvias e são poucas.
A primeira delas é que exercendo aquele direito, habilitavam-se a ter de demonstrar que as afirmações feitas eram falsas e baseadas em documentação não verídica. O que não é o caso. Na tertúlia dos amoitados banheirense entretiveram-se uns dias a escavar discussões em torno de peças passadas do Jornalista JACerejo, mas em nenhum momento desmentiram nada do que ele afirmou sobre os esquemas moiteiros. Numa estratégia usual, tentaram atacar pessoalmente o mensageiro, não desmentindo a mensagem, usando a técnica ultrapassada de apontar o dedo e dizer, se ele ontem meteu o dedo no nariz é porque mete sempre o dedo no nariz. Triste e limitado como argumentação, mas não dá para mais. Para além de que, reagindo no Público, o shôr Presidente apareceria exposto em órgão de comunicação nacional em todas as suas pequenezas retóricas. O poder moiteiro quer estar no mapa, mas certamente que não por estas razões, e reagindo de tal forma só se exporia ainda mais ao escrutínio da opinião pública.
A segunda razão é porque o poder moiteiro aposta numa espécie de orgulhosa coreização - ou albanização, se recuarmos umas décadas - da vida política local, procurando isolá-la do exterior e falando apenas para "dentro", para as próprias hostes. Porque a verdade é que aquele "esclarecimento" é antes de mais uma tentativa de justificar ao seu próprio eleitorado, que se acredita ser ainda vagamente crente nos ideais do marxismo-leninismo ortodoxo e anti-capitalista, porque é que o poder local anda de braço tão bem dado como os "empresários de sucesso" da região, aqueles que multiplicam milhões com base na especulação. Já repararam que o tipo de discurso de João Lobo (e do seu assessor jurídico Encarnação) em relação aos empresários - e nem contesto a sua validade, neste caso - é perfeitamente contraditório em relação ás inflamadas prosas anti-capitalistas dos opinadores ligados à Situação local? Leiam os textos tonitruantes de Manuel Madeira contra o capitalismo selvagem e comparem-nos depois com a prática dos negócios da CMM e acabam num paradoxo insanável. Como é possível ser contra o mundo dos negócios e da especulação lá "fora" e depois promovê-lo cá "dentro"?
Por estas duas razões - receio de maior exposição mediática e necessidade de justificação interna - o poder moiteiro preferiu reagir apenas a nível local, fugindo a contraditar as peças de JACerejo no espaço em que elas foram divulgadas.
O poder moiteiro funciona em circuito fechado, como na bela Coreia do Norte, onde o poder chegou a mandar cortar a electricidade numa província da fronteira com a China, seguindo-se uma busca policial, para apanhar dentro dos vídeos da população cassetes com novelas sul-coreanas obtidas através de contrabando.
Por aqui, se pudessem, também mandariam cortar a internet, só para que as coisas não circulassem.
Como nos regimes assentes no absoluto controle da informação e opinião, por aqui o poder procura apenas legitimar-se por meio da fidelização e clientelização tentacular fechada. Nunca o poder autárquico foi tão adepto da autarcia e do isolamento do exterior, encarado como ameaçador (a menos que seja para veranear ao sol).
Mas existe um problema "interno" por resolver, pelo menos em termos de coerência. Até que ponto os ortodoxos defensores da pureza ideológica anti-capitalista convivem com a evidente complacência perante a especulação imbiliária?
Como justificam perante uma população empobrecida, vítima das deslocalizações e da inexistência de um projecto de desenvolvimento local, as mirabolantes margens de lucro de um grupo pequeno de "empresários de sucesso" especuladores?
Onde está a coerência ideológica de criticar os lucros da Banca, acusando o Poder Central de a favorecer perante os consumidores, quando se aceitam e se negoceiam protocolos que asseguram lucros proporcionalmente muito maiores a algumas empresas, ao nível do Poder Local, colaborando com o prejuízo de pequenos proprietários?
Os senhores Paletas, Pataratas, Madeiras e outros que tais acham isso normal?
Consideram que é o caminho certo?
Têm opinião ou não?
Se não a têm - e já passou tempo suficiente para juntarem 2+2 - porque será que a não têm?
Há "rabos de palha"?
Quero sinceramente acreditar que não, mas confesso que vou ficando estupefacto.
A manutenção do poder para alimentar clientelas justifica tudo?
Os lugarinhos no quadro para família, parentes e amigos provoca cegueira?
Os "olhos vidrados pelo poder" serão afinal de quem?
É que se assim é, afinal no que se distinguem dos "outros" em termos de prática política?
É que ou há coerência ou comem todos e não só alguns que multiplicam os lucros à ordem dos 200% ao anos.
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5 comentários:
caramba camarada ! como acordaste inspirado, o texto está brilhante e olha que eu não sou bajulador das tuas capacidades no campo da escrita.
Diz lá a verdade, foste a Aveiro ao Cogumelo Mágico ?
AVpossa...
Excelente este texto! Já chamei a esta forma de estar a Funchalização da Margem Sul, mas de facto a Albanização, Coreização assenta que nem uma luva!
O meu comentário ao post anterior quer tão simplesmente sublinhar que trinta anos de CDU são o que são!!!
Mas quem o permitiu e com que finalidade? Porque razão as estruturas nacionais dos partidos aceitaram entregar este feudo da Margem Sul ao PCP?
Acho que se o PCP não sai nada bem nesta fotografia, a oposição também não, só após muita insistência da população se consegue fazer circular essas irregularidades, parece que por vontade de todos os eleitos tudo estaria melhor no caldo diáfamo dos interesses de cada um?
Volto a perguntar: É isto a Democracia?
Camarada co-editor,
Basta leres o texto sobre o Aborto e perceberás a razão da inspiração.
Como na velha anedota do "é hoje!, é hoje!".
:D
Há quantos anos é que não existem comunistas na Câmara?...
Eu acho que já são quase tantos quantos os que o meu Sporting esteve sem ganhar o campeonato.
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