Quem puxava as cordas, que faziam badalar os sinos, era o velho Ricardo, um republicano da velha guarda, que pertencia à Junta da Paróquia da vila e que era um reformado, trabalhador carpinteiro dos Caminhos de Ferro. Ainda, e apesar dos tantos anos já passados, me recordo bem com que tristeza o velho Ricardo tocava o sino grande, quando, no tempo da epidemia, no Verão e Outono de 1918, quase durante todo o dia, os mortos, em certos casos famílias inteiras, iam a enterrar no pequeno cemitério, e ele, o velho e honrado republicano, que a todos conhecia, pobre também como Job, chorando, não parava de lenta mas intermitentemente, tocar o sino, no seu último adeus de sentimento aos amigos que a peste atingia e a qual, se bem me lembro, chamávamos de «pneumónica».
Época triste e difícil de relembrar foi aquela do final da Grande Guerra de 1914-1918... Grande Guerra que aqueles que especulam com as vidas dos povos provocam para se encherem de dinheiro... dinheiro que, dizem eles, é preciso ganhar... nem que seja honradamente!
Naquele tempo havia em Alhos Vedros um Club, uma Sociedade Filarmónica, com a sua respectiva banda, e bem afamada que era aquela banda de música, e dois Clubes de Futebol.
No Club, que era frequentado pela chamada «elite» da vila, davam-se récitas, bailes e outras festividades e também ali, durante a semana, funcionava uma sala de aula, correspondente à quarta classe, além de mais duas escolas oficiais, sendo uma dirigida pelo professor Gusmão; a outra, pela professora Dona Maria Assis, que morava em Setúbal e a qual eu frequentava.
O grupo dramático do Club era composto por amadores e, entre eles, podem ser citados o senhor Paixão, os dois irmãos Gameiro, o Luís e o João, o José VaIverde, que era o cómico do grupo, mais dois ou três elementos, cujos nomes já o tempo apagou da minha memória. A «artista», que era pau para toda a obra era uma cançonetista de Lisboa, de nome Elvira Guedes que, à falta de melhor desempenhava qualquer papel e até com agrado para a pouca exigente plateia da vila... mas que trazia a mulher do José Valverde com a pulga na camisola, desconfiada com a «artista»... lá isso trazia. Eu era o ponto e, de vez em quando, também fazia umas rábulas em determinadas peças, cujos repertórios já sabíamos de cor e salteado.
Época triste e difícil de relembrar foi aquela do final da Grande Guerra de 1914-1918... Grande Guerra que aqueles que especulam com as vidas dos povos provocam para se encherem de dinheiro... dinheiro que, dizem eles, é preciso ganhar... nem que seja honradamente!
Naquele tempo havia em Alhos Vedros um Club, uma Sociedade Filarmónica, com a sua respectiva banda, e bem afamada que era aquela banda de música, e dois Clubes de Futebol.
No Club, que era frequentado pela chamada «elite» da vila, davam-se récitas, bailes e outras festividades e também ali, durante a semana, funcionava uma sala de aula, correspondente à quarta classe, além de mais duas escolas oficiais, sendo uma dirigida pelo professor Gusmão; a outra, pela professora Dona Maria Assis, que morava em Setúbal e a qual eu frequentava.
O grupo dramático do Club era composto por amadores e, entre eles, podem ser citados o senhor Paixão, os dois irmãos Gameiro, o Luís e o João, o José VaIverde, que era o cómico do grupo, mais dois ou três elementos, cujos nomes já o tempo apagou da minha memória. A «artista», que era pau para toda a obra era uma cançonetista de Lisboa, de nome Elvira Guedes que, à falta de melhor desempenhava qualquer papel e até com agrado para a pouca exigente plateia da vila... mas que trazia a mulher do José Valverde com a pulga na camisola, desconfiada com a «artista»... lá isso trazia. Eu era o ponto e, de vez em quando, também fazia umas rábulas em determinadas peças, cujos repertórios já sabíamos de cor e salteado.
Como era impossível, naqueles tempos, uma moça da terra fazer parte dum grupo dramático de amadores!!! A moça que pisasse um palco... seria logo apodada de desonesta e sobre ela recairiam todas as maledicências das gentes da vila... Em terras pequenas, onde todos se conhecem, ainda é assim... ninguém tem confiança em ninguém. Vontade não faltava, a certas raparigas da vila, gente boa, para colaborar... mas o que não se falaria depois... o que não se inventaria de aventuras praticadas atrás dos bastidores, e longamente badaladas lá .no rio dos Paus, onde, no princípio de cada semana, se juntava o mulherio da vila lavando a roupa suja...? Mas como as garotas não queriam ficar «faladas»... para garantirem o casamento, então, mesmo a contragosto, ficavam de fora. .. criticando a Enviar Guedes. E hoje, como tudo já é diferente!!! E ainda me lembro bem como aquelas récitas agradavam a todos os sócios do Clube, que ali convivíamos como uma família. .. mas que às vezes, por dá cá aquela palha... todos brigavam.
Um dia, por determinado amuo sem importância, como eram todos aqueles amuos, o grupo dramático levantou arraiais do Clube e se passou, com artistas, cenários, reportório e tudo o mais, para a Sociedade, então denominada Sociedade Filarmónica Recreio e Entusiasmo de Alhos Vedros. A Sociedade, com maior número de sócios que o Club, tinha, para a terra, uma boa banda de música, onde se salientavam o cornetista Alfredo Estrela, operário caldeireiro nos Caminhos de Ferro e também músico dos «Franceses», uma outra grande banda de música do Barreiro. Havia também um óptimo clarinete, de nome o Manuel da Velha, um outro, também tocador de clarinete, o Bonzão e que tinha mais folgo que um gato, um flautinista, o Abílio, de Santo António da Charneca... e outros mais cujos nomes a esponja do tempo já apagou da minha memória... abalada e varrida por tantos vendavais...
À Diretoria da Sociedade eu vim a pertencer, além pelos anos de 1925-1926-1927, na companhia do Virgílio Pereira, pai, que era o presidente, do Filipe Nery de Sousa e mais outros companheiros. Foi na nossa gestão, creio que no ano 1926, que se levantou a ideia da construção da nova Sede Social da Sociedade... a qual, hoje, lá está em Alhos Vedros, para atestar aos despeitados e maldosos, que duvidam de tudo, quanto vale o trabalho colectivo de um grupo de homens, quando animados por um ideal de amor à colectividade, de confiança nos homens, sempre que despidos de interesses mesquinhos e personalistas.
E a Sociedade lá está. Agora, compete às novas gerações torná-la cada vez maior e mais acolhedora, no sentido da verdadeira fraternidade que deve existir entre os humanos.
Um dia, por determinado amuo sem importância, como eram todos aqueles amuos, o grupo dramático levantou arraiais do Clube e se passou, com artistas, cenários, reportório e tudo o mais, para a Sociedade, então denominada Sociedade Filarmónica Recreio e Entusiasmo de Alhos Vedros. A Sociedade, com maior número de sócios que o Club, tinha, para a terra, uma boa banda de música, onde se salientavam o cornetista Alfredo Estrela, operário caldeireiro nos Caminhos de Ferro e também músico dos «Franceses», uma outra grande banda de música do Barreiro. Havia também um óptimo clarinete, de nome o Manuel da Velha, um outro, também tocador de clarinete, o Bonzão e que tinha mais folgo que um gato, um flautinista, o Abílio, de Santo António da Charneca... e outros mais cujos nomes a esponja do tempo já apagou da minha memória... abalada e varrida por tantos vendavais...
À Diretoria da Sociedade eu vim a pertencer, além pelos anos de 1925-1926-1927, na companhia do Virgílio Pereira, pai, que era o presidente, do Filipe Nery de Sousa e mais outros companheiros. Foi na nossa gestão, creio que no ano 1926, que se levantou a ideia da construção da nova Sede Social da Sociedade... a qual, hoje, lá está em Alhos Vedros, para atestar aos despeitados e maldosos, que duvidam de tudo, quanto vale o trabalho colectivo de um grupo de homens, quando animados por um ideal de amor à colectividade, de confiança nos homens, sempre que despidos de interesses mesquinhos e personalistas.
E a Sociedade lá está. Agora, compete às novas gerações torná-la cada vez maior e mais acolhedora, no sentido da verdadeira fraternidade que deve existir entre os humanos.
(Continua...)
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