quinta-feira, outubro 14, 2004

Censura(s)

A leitura do bom (mesmo se algo "curto") artigo da Visão sobre os esforços do actual Governo para domar a comunicação social trouxe-me à memória o saudoso jornal humorístico Os Ridículos em 1917 quando o governo da chamada "União Sagrada" recorreu á censura com motivos de segurança nacional (estava-se na Grande Guerra).

O primeiro excerto seleccionado é o que se segue:

"O parlamento norte-americano recusou-se a sancionar o projecto de lei estabelecendo a censura.
Pois não sabe o que é bom, e perde a melhor oportunidade de completar a sua educação civica.
A censura é das mais nobres instituições que a imaginação liberal tem creado. Nós que aqui estamos fallando não sômos dos mais castigados. Em boa hora o digamos. E d'alto !
Mas faz gosto pegar em alguns de Lisboa, e vel-os cheios de coisa nenhuma, como se os redactores estivessem todos a banhos.
Os Estados Unidos que são uma velha democracia estão-se nas tintas para fazerem a experiencia. É sina das raças decadentes resistirem a toda a especie de innovação. C nós, ninguem nos deita a barra adeante. Em sendo coisa radical, queremos sempre o premio grande.
Isto cá é mais que Republica; é um concurso hippico."

Os Ridículos, 6/Jun/1917, p.2

Este segundo comentário foi censurado mas está disponível na colecção do jornal depositada na Hemeroteca Municipal de Lisboa. A edição original saiu com uma “bexiga” (espaço em branco)neste local da página (também se pode encontrá-lo no blog Abrupto do Pacheco Pereira, p+ara onde o enviámos).

“Com uma imprensa d'estas, aonde jornaes aconselham aos exaltados politicos a liquidação dos directores de outros jornaes, n'uma imprensa cheia de intruzos que d'ella só fazem biombo para arranjos politicos, n'uma desgraçada situação d'esta ordem... é fechar os olhos e deixar ir para o fundo !
Resignação e esperança de que melhores dias surjam para a nossa querida terra ! "

Os Ridículos, 5/Jul/1916, p. 2

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