Éh... Vila de Alhos Vedros... que saudades desses tempos que lá vão! Como ainda hoje recordo, e com bastante emoção, certos habitantes da pequena vila... entre eles o tio Ratinho e a sua mulher, a tia Josefa. O Zé Paradas, que diziam que era o galo das galinhas do tio Ratinho... e que, em paga lhe comia parte dos ovos... O Zé Viegas, que tinha uma mercearia, que apesar de pequena, tinha de tudo à venda e onde a limpeza andava brigada com a água e o sabão; o Malaguetas, onde se vendia bom vinho; o José Fulgência, mais conhecido por o «Papa Ratos» e que tinha um corvo ladrão, que roubava postas de bacalhau - quando o «fiel amigo» era comida de pobre- que o gorducho do Zé Viegas tinha de molho, dentro de um alguidar, para as vender fiadas às freguesas de última hora; o João Pingocho, agente de seguros; as famílias Cabrita, Manuel de Jesus, o Ponta da Unha, a tia Joana do Baralho, os Cochichos, o Palmelão, o Manuel Canas, o Zé Triste, o Paixão, o Virgílio Pereira, com a sua afamada orquestra, formada pelos seus filhos, a família Aquino... Como me lembro bem do dono do forno da cal, do chefe Grade, que era o chefe da estação de Caminhos de Ferro de Alhos Vedros, e os seus três filhos, o Daniel, o Zeca e o Eurico; o Lelito, o Marciano, o Zé Santos e o seu filho o Zé Eleja, que era o goleiro do Graça... a família Cantante, a senhora Ana, o marido e os filhos, o Mário, o José, a Amélia, que eram ali das Arroteias; o tio Pedro do correio, o senhor Ezequiel, da farmácia, o Henrique Racinha, que certa vez me quis surrar por eu andar de namorisco com uma cunhada sua, que era a Joana, irmã do António Amâncio, da Moita; a família Carlos Januário, o Pisco, o Chadiça e a sua complicada família; o Féria, fabricante de velas de sebo e fascista dos quatros costados... E como me lembro tão bem da família João Pinto, que tinha uma padaria ali no largo do jardim, mesmo em frente ao coreto... os seus três filhos, bastante meus amigos, o João, a Izaura e o mais novo. A Izaura, moça inteligente, activa, dinâmica, esperta, aquela bela e fresca moça que nem alface em manhã primaveril, bela e simpática rapariga, cujas carnes se adivinhavam ser de cantaria firme... mulher para homem nenhum botar defeito. À família Pinto, uma amizade sã e fraterna, o destino nos ligou e ainda hoje, sempre que a minha memória passa por Alhos Vedros, eu os recordo com aquela saudade pura e sincera com que a infância tempera as almas daqueles que só vivem para derramar sobre o seu semelhante sementes de bem querer, de paz e de amor... ou se calha a passar por lá... sempre os visitamos com verdadeira alegria fraterna.
Também recordo o João capataz, as suas duas filhas, a Lídia e a Graciosa e o irmão, o Manuel, moço da minha criação. Recordo também o capataz geral e os seus filhos, recordo o Alfredo Simões, conhecido pelo nome de «fanista» e os seus dois irmãos, sem esquecer o seu pai que, quando se embebedava, fazia rir toda a gente. O Cossa, o Carlos da Graça, o António Valentim, o Tolentino, a simpática Aldegundes, a Piedade e a sua irmã Rita... e tantas outras pessoas da vila, que me vêm à memória... mas que seria prolixo aqui enumerar.
Era, pois, num ambiente de perfeito atraso mental e de subdesenvolvimento, onde todos conheciam a vida de todos, inclusive até quase a íntima, e do que de tudo se faziam os mais torpes e mesquinhos comentários, num maldizer colectivo... em que ninguém queria ficar a perder... que nos criávamos, que o Elaudo Tarouca também se desenvolvia e se fazia gente... gente como toda a gente.
E os anos se iam passando, alheios às misérias, aos desentendimentos e à falta de educação e de cultura e, principalmente, de ideias... os quais já começavam despontando... assim como o brotar de uma semente lançada à terra fecunda.
Aí pelo ano de 1929, eu, como trabalhava no Barreiro, nas oficinas Gerais dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, fui morar para ali. A minha vida no Barreiro, pela influência recebida na convivência com os militantes do Sindicato Ferroviário, entre os quais cito os nomes de Miguel Correia, o Alfredo Carvalho, António José Piloto, Madeira, o Joaquim Figueiredo, o Adão, o Joaquim Venâncio, o Manuel dos Santos Cabanas, o Calapés, o Manuel José Hartley, o Artur José Pereira e outros, sofreu uma transformação radical, fazendo-me saltar do ambiente atrasado e mais interessado em bisbilhotar coisas da vida alheia, do que propriamente interessado na minha, para uma actividade constante, activa e cheia de novas emoções, que se recebiam da dinâmica vida Sindical, em que eu, de um dia para o outro, passara a conviver.
Era, pois, num ambiente de perfeito atraso mental e de subdesenvolvimento, onde todos conheciam a vida de todos, inclusive até quase a íntima, e do que de tudo se faziam os mais torpes e mesquinhos comentários, num maldizer colectivo... em que ninguém queria ficar a perder... que nos criávamos, que o Elaudo Tarouca também se desenvolvia e se fazia gente... gente como toda a gente.
E os anos se iam passando, alheios às misérias, aos desentendimentos e à falta de educação e de cultura e, principalmente, de ideias... os quais já começavam despontando... assim como o brotar de uma semente lançada à terra fecunda.
Aí pelo ano de 1929, eu, como trabalhava no Barreiro, nas oficinas Gerais dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, fui morar para ali. A minha vida no Barreiro, pela influência recebida na convivência com os militantes do Sindicato Ferroviário, entre os quais cito os nomes de Miguel Correia, o Alfredo Carvalho, António José Piloto, Madeira, o Joaquim Figueiredo, o Adão, o Joaquim Venâncio, o Manuel dos Santos Cabanas, o Calapés, o Manuel José Hartley, o Artur José Pereira e outros, sofreu uma transformação radical, fazendo-me saltar do ambiente atrasado e mais interessado em bisbilhotar coisas da vida alheia, do que propriamente interessado na minha, para uma actividade constante, activa e cheia de novas emoções, que se recebiam da dinâmica vida Sindical, em que eu, de um dia para o outro, passara a conviver.
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