Com uns 10 dias de atraso incluímos agora um novo texto de Titta Maurício sobre o problema do aborto/IVG. Proximamente daremos qui a nossa última réplica sobre este tema, esperando que TM revele tanta riqueza argumentativa a propósito de temas do concelho da Moita e muito em especial da freguesia de Alhos Vedros. Continuamos com o problema de os textos entrarem sem a formatação original, pelo que algusn parágrafos, sublinhados ou itálicos não estarem como no original.
Caro Paulo,
Pedindo desculpa pelo atraso na resposta, mas a oportunidade de o fazer só agora surgiu. Assim, sem delongas, "ataquemos" o assunto.
1. Quanto às suas (não) resistências a tentações... meu Caro, melhor fazia se citasse o velho Donatien Alphonse François, o "Divino Marquês": ficava-lhe a matar! E, em termos de comportamento hodierno, sempre era mais compatível. Agora opta por citar textos datados e destinados a quem professa e pratica determinada orientação religiosa - a qual, como aqui revelou, nem é a sua... nem nenhuma! Mas, "prontos", cumpriu a função: teve a sua piada, rimo-nos todos... passemos em frente... ainda que, se me permite, me reserve a possibilidade de a esta questão regressar numa outra oportunidade.
2. Continuo a aguardar o resultado do "espumar" do "Roldão Preto"... agora dançar...?!? nunca foi o meu forte!
3. Sobre o seu "um ou dois pontos algo imprecisos": a censura prévia, institucionalizada (no seio do Estado) ou não, o certo é que existia uma "organização" como instrumento (tipo "braço-armado") da célula macónica que dominava e governava o Partido Democrático, de Afonso Costa! Falamos, é óbvio, dos grupos de "vigilantes" republicanos (os macabramente célebres "Formigas Brancas"), encarregados de perseguir, punir e matar os opositores de Afonso Costa, além de suprimir jornais de provincia e condenando à prisão e desterro algumas dezenas de elementos do clero (qual era a sua legitimidade? A não ser que, mesmo não "institucionalizados", merecessem o apoio do Estado). Deixe-me citar uma recente biografia deste "personagem" (da autoria da insuspeita Júlia Leitão de Barros): «No Verãode 1913 [quando da 1ª Guerra não havia nem suspeitas de poder eclodir], já Costa era conhecido como "racha-sindicalistas". Fecharam-se jornais e associações. Prenderam-se grevistas e dirigentes. Proibiram-se reuniões e comícios [nenhum destes eram perigosos reaccionários ou monárquicos...]». E, nesse período de ditadura encapotada, Partido Democrático e Estado era uma e a mesma coisa... Porém, em 1922, já terminada a guerra e depois da revolução radical de 19 de Outubro de 1921 (seguida da "Noite Sangrenta"), foi promulgada legislação que criava a "Polícia Preventiva e de Segurança do Estado", incumbida de averiguações de carácter preventivo e secreto, e destinada «à vigilância dos elementos sociais perniciosos ou suspeitos e ao emprego de diligências tendesntes a evitar os seus malefícios» [art. 1º, al. d) do Decreto de 22 de Outubro de 1922]. Em 1924 (através do Decreto nº 9620, de 29 de Abril) o Regulamento Policial dispunha que são competências da Polícia Preventiva: - a vigilância secreta sobre todos os indivívuos que se tornassem suspeitos ou perniciosos, quer fossem nacionais ou estrangeiros; - a vigilância secreta e preventiva contra as tentativas de crimes políticos e sociais; - a organização secreta dos cadastros de todos os indivíduos ou colectividades políticas e sociais, mantendo-os o mais completos possível; - empregasse as diligências tendentes a prevenir e evitar os malefícios dos inimigos da sociedade e da ordem pública. Como se vê, tudo princípios nobres e democráticos... assim o Dr. Soares usa classificar a 1ª República... Curiosamente, rezam as crónicas, a maior e a melhor "fonte de abastecimento" de colaboradores era o Barreiro e, paradoxalmente, a sua maioria foi incorporada na PVDE... mas isso são só pormenores! Quanto à censura prévia, ela existia, porém não estava autonomizada das funções da Polícia Preventiva (talvez daí o equívoco).
Mas o tema era outro e lá estou eu a tergiversar...
4. Quanto aos argumentos científicos de 1967: repito, apenas procurei provar que, ao contrário do que afirmou (que havia dúvidas na comunidade científica sobre a definição do momento do começo da vida humana e do valor do estádio intra-uterino), já em 1967 havia consenso entre a comunidade científica sobre essa matéria. E com isso desafiava-o a demonstrar que, desde então, havia sido produzida conclusão diferente ou contraditória! Sobre esta questão... não outra!
5. O "Comentário mais longo": a) o seu excurso pelos textos bíblicos ficam-lhe bem e dou graças por a eles se dedicar... mas, repito: não fui eu, não sou eu, nem serei eu a cair na esparrela de argumentar sobre esta questão (o aborto) com recurso à Bíblia ou a Tradição cristã! Não é essa a minha linha argumentativa, não invoco o nome de Deus para tudo. Por isso,... passo! b) Quanto ao excurso científico... nada! Ao pedido de apresentação de textos científicos (mais recentes) que manifestem sérias dúvidas sobre o momento do início da vida humana e da unidade desta desde o estádio intra-uterino até à morte, a sua resposta foi «Penso que já terão existido um par de iniciativas depois dessa e que se terá dado um ou outro avanço nos nossos conhecimentos»... Quais, quando e o que disseram?!? A explicação sobre o que é a vida... não responde à questão do início da vida! Apenas que a vida... é vida e que os materiais e as reações químicas entre eles são similares em todos os seres vivos! Quer isso dizer que matar o "Bambi" é o mesmo que matar um homem?!? A citação do Dawkins volta a pecar por falhar o alvo: nem sou moralista, nem tenho pretensões a teólogo, nem aqui procurei descobrir o momento do começo da alma! O desafio é determinar quando começa a vida humana! E a argumentação sobre os óvulos que terminam abortos prematuros expontâneos então é incompreensível... até porque se a questão são os muitos obstáculos que o ser embrionário tem ainda que ultrapassar... o mesmo se terá de dizer dos recém-nascidos... principalmente quando se verificavam taxas de mortalidade infantil elevadíssimas! Uma vez mais, um argumento interessante... mas que não prova que a vida humana não começa na concepção... mas apenas que as dificuldades na vida humana ocorrem já desde a concepção! c) Quanto ao Matt Ridley, diga-se a mesma coisa: a minha questão está na definição científica do começo da vida humana. A questão não está na alma nem nas desgraças nem na capacidade criativa humana... mas sim em saber quando começa a vida humana, pois, se não encontrar fundamento bastante que desminta que esta começa com a concepção, então o aborto será sempre uma forma de eugénica, pseudo-higiénica, de matar um ser humano... apenas porque é invisível ao olho humano desarmado e se encontra indefeso. A questão é saber se o que se "elimina" num aborto é uma "coisa" ou um ser humano; se já não é um "aquilo", mas um "aquele" (ou uma "aquela")! d) Novamente Ridley... e o facto de na afirmação se referir a Sua Santidade, o Papa, esta nada mais é do que uma opinião discordante com outra opinião (ainda que de fé) àcerca de o Homem ser ou não o apogeu da Criação! Mas, uma vez mais, da questão da definição do momento do começo da vida humana... népias! e) Quanto às citações de Richard Feynman, não nego (até porque perfilho) a ideia da não absolutização da verdade científica. Porém, até prova em contrário, não se pode simplesmente afirmar que os postulados científicos não existem. No caso em concreto, no estádio actual do desenvolvimento do conhecimento científico, tenho para mim que é consensual (ia dizer unânime, mas, como aguardo prova em contrário, não me atrevo...) que a vida humana começa com a concepção. Ou há uma demonstração científica (séria!) do contrário e então podemos discutir a questão, ou a mera evocação de dúvidas metódicas sobre as certezas da Ciência não têm cabimento... pode ser que pretenda estendê-las [as dúvidas]a toda a Ciência (o que seria interessante de ver... ou ler) mas, a bem da serieda intelectual, jamais as poderá aplicar apenas a uma questão em concreto! f) Sobre a declaração final de Feynman sobre a liberdade de investigação... nada (uma vez mais) a opôr... porque nada tem a ver com a discussão! Até porque, repito, o que o dado que introduzi é produto de investigação científica (não sei quem foram os sponsors). Aquilo que pedi foi documento contraditório de valor equivalente... e nem invoquei o Estado ou qualquer governo como prova científica... isso aplica-se melhor a outros sectores!
6. Sobre a "capacidade de sofrimento", não compreendo que lhe pareça estranho: porque seria o argumento final que destroçaria as hostes "pro-choice"! Aliás, não é por mero acaso que sempre que os "pro-life" apresentam imagens ou descrições do que é e como é, de facto, um aborto (sem os artifícios da semântica que a todos desculpa), surgem logos vozes histéricas com acusações de terrorismo e brutalidade demagógica. Porém, o mesmo critério não é aplicado aos seus: veja o site das "gajas nas ondas" e verifique uma foto de uma mulher a esvair-se em sangue (quiçá, já morta!) a simbolizar a consequência de um aborto! Aí são imagens de choque com objectivos esclarecedores e pedagógicos... é quase como se estivéssemos a ver uma foto do National Geographic! Quanto ao desenvolvimento do sistema nervoso central, o Prof. Gentil Martins (se não estou em erro) num artigo publicado aquando da histriónica vinda do "barco do aborto", informou que a sua formação se iniciava às 6 semanas e terminava 2 anos após o nascimento!
Quanto à sua frase final subscrevo-a e reproduzo-a: «ensinamentos a recolher de tudo isto: duvidar de respostas feitas apresentadas como absolutas, busca de informação, tolerância para com a a diferença, atenção à especificidade de cada situação/contexto, argumentação baseada em factos enão em crenças, busca de soluções equilibradas»!
Cumprimentos,
João Titta Maurício
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