domingo, outubro 10, 2004

Resposta de Luís Guerreiro a comentário de Roldão Preto

Caro Roldão Preto, a visão que temos do Mundo é completamente diferente e não existem pontos de contacto a nível ideológico, quero por isso dizer-lhe que não estou disposto a alimentar discussões estéreis como as que teve com Titta Maurício, as polémicas sobre quem defende melhor a direita ou quem se assume mais integralista ou menos, não me interessam minimamente.
Eu Luís Guerreiro assumo-me como um homem de esquerda.
Por isso vou cingir-me ao tema do meu pretenso colaboracionismo com a Moita, ou o poder moiteiro como no Blog é divulgado.
Escreveu o senhor em 23.9.2004 o seguinte comentário no Alhos Vedros Visual o vosso foto blog:


"Embora aprecie a Arte em Azulejo do Luís Guerreiro, quero aqui frisar que o intuito do Blog: Alhos Vedros ao Poder é em primeiro lugar, a Restauração do Concelho de Alhos Vedros e em segundo lugar a luta contra os Lobbys moiteiros, e se bem sabemos este artista já colaborou com o poder moiteiro fazendo diversos painéis para o mercado da moita, no qual se repararem todos os painéis são temas da Moita (4), e nenhum faz alusão a Alhos Vedros, com as suas actividades corticeiras ou salineiras por exemplo. É esse menosprezo para com Alhos Vedros que a Moita sempre teve, que devemos recordar, mesmo a Luís Guerreiro ou a qualquer outro artista colaboracionista.
Roldão Preto"

As encomendas que recebi da CMM, especialmente dos painéis para o Mercado Municipal da Moita foram escolha do então presidente em exercício em 1992, porque eu até apresentei outros desenhos como opção.
Tem razão em protestar pelos temas serem todos sobre a Moita, mas a culpa não é minha, eu fui apenas o executor da obra.
Esses painéis na altura até deram uma certa polémica porque os Bonjours o pai, já falecido e o filho puseram as fotos dos painéis do Mercado na sua montra, dizendo que eram cópias dos seus arquivos, o que era mentira, pois foram feitos a partir dum postal antigo que existia na Junta de Freguesia da Moita.
Na altura fui lá explicar aos Bonjours o seu equívoco e tudo se resolveu, sendo as fotos e a mensagem retirados da montra da Foto Bonjour.
Uns anos depois em 1996 ou 1997, apresentei ao então vereador, João Lobo uma proposta para completar a obra que está no Mercado Municipal com painéis temáticos trípticos sobre as actividades, história e actualidade, dedicados a cada uma das freguesias do concelho da Moita, sendo a imagem central do tríptico em azulejos a cores e os outros dois de cada tema em sépia , como os que estão lá.
Nem João Lobo nem ninguém da CMM, respondeu a esse meu pedido...Recordo a Roldão Preto que sou profissional de Azulejaria Artística e não tenho outra fonte de rendimentos e Deus sabe as dificuldades que eu tenho tido nos últimos tempos, por causa da crise em que está mergulhado o País e também porque não compartilho a ideologia do poder local, nem nunca a compartilhei, mas só em casos extremos me recuso a aceitar uma encomenda o que também já aconteceu, quando a Firma de desmantelamento de barcos Batista & Irmão que têm, como sabe o concessionamento do Cais Novo de Alhos Vedros, me encomendaram em 1989 um painel em azulejos sobre o tema, para colocarem na sua sede em Sacavém, o meu primeiro impulso foi recusar terminantemente, mas resolvi apenas não lhes dar resposta, como também não me voltaram a comunicar, o caso encerrou por aí.
Perdi essa encomenda, mas fiz o melhor para com a minha consciência...
A verdade é que eu compartilho o seu ódio para com esse monstro que anda a destruir essa zona ribeirinha de Alhos Vedros.

Recordo com saudade os tempos em que ia mergulhar no Cais Novo e nadar naquela praia lá ao fundo, cheia de barcos e pessoas que iam para lá ás dezenas.
Recordo também a apanha de caranguejos, nas tocas ou com camaroeiro.
Os barcos no cais novo eram poucos e as pessoas ainda podiam entrar no cais para pescar. Agora é o que se sabe e tudo o que nem sequer imaginamos.
Eu, o Paulo Gil o Marmota, o Puto Russo o Zé Tó, o Animal, o Cristiano e toda essa malta que formava o grupo da Caverada, em 1977, 78.
Pode por isso o Sr. Roldão Preto, ter a certeza que tem em mim, muito mais um seu apoiante do que um inimigo.
Fiquei particularmente triste quando Roldão Preto afirma que sou colaboracionista com lobbys Moitenses, eu que em todas as exposições que fiz em Portugal e também no Brasil, sempre bem alto o nome de Alhos Vedros, como aliás pode ver junto à minha assinatura em todos os painéis produzidos pela Azulejaria Artística Guerreiro, desde 1989.
Recentemente consegui inclusive meter Alhos Vedros no mapa das “Rotas da Cerâmica”, como em post anterior comuniquei ao vosso Blog.
O Sr. Roldão Preto é colaborador do blog: Alhos Vedros ao Poder, mas as suas opiniões podem também ser questionadas, porque não é Deus nem Cavaco para ter certezas absolutas e nunca se enganar !
O meu percurso como artista não pode ser associado a qualquer ideologia, tenho de servir todos os clientes com a maior imparcialidade e fazer todo o tipo de trabalhos para todo o tipo de pessoas que me contactem.
Os meus parâmetros são apenas a qualidade.
Para lhe dar uma ideia da abrangência que tenho de ter, afirmo-lhe que nunca apreciei a tauromaquia, mas isso não me impediu, nem poderia, de desde 1989, fazer todos os anos os Trofeus para a Tertúlia Tauromáquica Setubalense conseguindo penso eu, abranger o gosto e a estética próprias desse fenómeno que é também artístico.
Podemos não gostar, mas temos de respeitar as suas nuances artísticas.
Poder-lhe-ia dizer que possuo as imagens da revista tauromáquica “La Lídia” que são impressas antes do advento da fotografia com gravuras e são absolutamente lindas num conceito estético pós-Romântico dos finais do séc. XIX que muito aprecio.
Outros conceitos sobre arte eu poderia desenvolver, como por exemplo o Realismo Socialista Soviético e a Arte Nacional –Socialista, que são épicos à força do homem sobre os elementos que eu gosto muito e cujas ideologias detesto e lutaria sempre contra.
O que pretendo dizer-lhe é que a Arte pode valer por ela própria e mesmo que sirva para enaltecer um regime ou uma ideologia, não tem de ser negada por isso mas apenas tem ser entendida por concepção estética do autor.
O “colaboracionismo” com o regime fascista de Salazar que Almada Negreiros teve não impede que as suas obras sejam maravilhosas e uma referência da Arte Moderna Portuguesa e Mundial.
Sei que a sua realidade é muito diferente da minha, pois sou um leitor atento deste Blog, sei por isso que foi militar e voluntariou-se para ir lutar na guerra colonial...
Acredito que seja um homem de convicções, mas eu também o sou e só respeito quem me respeita.
Por isso peço-lhe que pondere melhor antes de começar a criticar a torto e a direito, respeite a minha condição de artista porque acredite que não é nada fácil viver só da Azulejaria aqui no Concelho da Moita e só com muita teimosia e uma ajuda muito grande da minha companheira e da minha família é que a AAG ainda continua.
Mas cá estou para a luta e para continuar engrandecendo na medida do possível o nome da minha terra natal: Alhos Vedros e por acréscimo o concelho a que actualmente pertence: O Concelho da Moita !

Sem mais assunto despeço-me com amizade
Luís Guerreiro

1 comentário:

Anónimo disse...

oi, guerreiro, em primeiro lugar quero deixar aqui o meu apreço pela tua direta e sincera resposta ao assunto e fiquei bastante feliz de relembrar os tempos em que saltava-mos do extinto "UIGE" lá no cais novo. e agora uma frase da moda:
"DÁ-LHE FALÉCIO"
UM ABRAÇO

Paulo Marmota.