terça-feira, maio 24, 2005

Descrenças

Convém explicar que eu (AV1) não sou contra as touradas.
Apenas não fazem parte dos meus gostos.
Não tenho nada contra os que gostam, só que não tenho o mínimo interesse em explorar o assunto a nível pessoal. Não sou vegetariano, não sou contra as touradas de morte, não sou fanático dos direitos dos animais. Apenas me desagrada a ideia de participar em manifestações de massas que considero pouco razoáveis e em que o indivíduo faz aquilo que, isoladamente, nunca faria.
É como com a religião: por mim, podem ter a que quiserem, só não me imponham as vossas crenças ou gostos.
O que me torna indiferente nas touradas é o facto se se cobrir com mantos de coragem o que não passa de cobardia.
Os humanos juntam-se em magote para martirizar meia dúzia de animais que não lutam com as mesmas armas com os seus agressores. Mesmo que marre valentemente no cavaleiro e num matador, o touro nunca sairá vencedor. Para além disso, os humanos estão ali voluntariamente, em ambiente de festa, enquanto os animais são para ali empurrados sem qualquer alternativa e sem qualquer vantagem.
E, digam-me o que disserem, isto é a raíz de um comportamento totalitário.
Raramente tenho pena de uma colhida - a menos que seja fatal, porque desejo a morte de um número reduzido de seres humanos, conhecidos ou desconhecidos - porque quem foi para ali foi em função dos seus gostos pessoais. Queixar-se depois que levou uma cornada pelos testículos acima e ficou impotente para o resto da vida, parece-me caricato. Afinal, teve apenas aquilo que procurou... ou será que a vitória deve estar garantida à partida e o touro é apenas um adereço ?
Para além disso, e no que respeita ao mundo de cavaleiros e matadores, tudo ressuma a marialvismo passadista e bafiento, próprio de um ambiente em que não me reconheço.
Por isso, se gostam, pratiquem.
Até podem espalhar a vossa fé, agora não queiram converter os descrentes à força.
Querem os vossos recintos e tempos próprios para os vossos rituais sedentos de sangue ?
Por mim, à vontade, só não me peçam para bater palmas e achar bem.
Precisam de caução intelectual para justificar o interesse cultural do vosso passatempozito ?
Arranjem um Desmond Morris que vos ajude.

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