terça-feira, maio 24, 2005

O Taurinês

O linguajar típico do mundo tauromáquico tem, pelo seu colorido e pelas suas características barrocas e revoltejantes, uma forte ligação ao futebolês, ao eduquês, ao politiquês ou mesmo ao dialecto dos críticos literários, musicais ou cinematográficos, que são todas elas formas distintas de usar a língua portuguesa de um modo arrevesado e com uma patine especial destinada a tornar menos óbvio o que poderia ser fácil de perceber por qualquer um de nós.
As prosas produzidas em folha impressa ou agora no mundo da net são obras-primas de discurso fechado sobre si mesmo e, em alguns casos extremos, maravilhas de distorção do signicado aparente do que é afirmado.
Em outras situações, o enxame de terminologia específica é tal que ficamos com a sensação de termos aterrado no meio de uma Amazónia vocabular, de que não se vê forma de sair. Eis um exemplo da revista online Toiros e Cavalos:

«(...) foi no toureio de muleta que Montoya deu mostras de que ali está um toureiro em potência pois conseguiu somar a arte à técnica, ligar os muletazos de forma primorosa, desenhar derechazos e naturais de grande expressão, a que não faltaram remates pintureros com passes de trincheira ou belos passes de peito. Serenidade, sentido das distâncias e dos terrenos, profundidade, mando e temple, tudo conjugado na medida certa para sacar olés e aplausos fortes do público que se rendeu ao bom toureio do jovem novilheiro de Santarém.
No seu segundo voltou a mostrar as suas boas maneiras toureiras na forma como lidou um exemplar com pouca fijeza e que demorou a fixar-se e a entregar-se aos voos da muleta. Mas ainda assim, voltou a conseguir alguns derechazos de muito boa nota e um ou outro passe solto que tiveram sabor e fizeram, de novo, soar os olés do público. »

Entre muito do que me confunde, alma triste não aficionada, pelo meio do taurinês acastelhanado tão ao gosto do belo espírito, não sei o que é fijeza.

Agora uma prosa crítica:

«A 6ª Corrida Farpas tinha também o aliciante da alternativa do cavaleiro algarvio Filipe Gonçalves. O jovem cavaleiro teve os seus melhores momentos no toiro da alternativa, com uma lide em crescendo, onde se destacam o terceiro e quarto curtos em sortes a quarteio cingidas. No que fechou praça, Filipe equivocou-se em demasia nas sortes e rubricou uma actuação para esquecer. Indefinições, sortes desajustadas e muitos ferros no chão, fizeram com que o público não lhe perdoasse, e lhe tributasse um forte couro de assobios.»

Aqui o que me escapa é o couro de assobios, mas penso que seja uma peça feita em pele do animal com uns orifícios para assobiar.

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