De acordo com artigo à largura de duas páginas do Expresso, Portugal é dos países que mais gasta com a Justiça, mas um daqueles onde este sector tem pior desempenho.
Já o mesmo é conhecido acerca da Educação e na própria Saúse, embora neste caso o desempenho em termos internacionais (o que é razão para algum espanto) não seja dos piores.
Significa isto que o dinheiro que é enterrado nestes sectores não conduz necessariamente a um melhor desempenho.
E esta é a principal razão do défice público ser o que é, mas todos nós acharmos que o Estado funciona mal.
Digam o que disserem o erro está em todos, desde o topo da hierarquia político-administrativa que não sabe alocar e gerir devidamente os recursos disponíveis, até ao funcionário menos relevante que se acha mal pago e por isso não cumpre devidamente as suas obrigações, passando por todo o pessoal intermédio que considera que o Estado existe para lhe resolver os seus problemas, seja como funcionário (pagando-lhe o salário, com um mínimo de esforço), seja como utente (resolvendo-lhe os problemas, seja a que custo for).
E, no fundo, todos temos culpa e todos temos razão.
O Estado existe para resolver os problemas dos cidadãos e eu até acho que o seu papel deve ultrapassar o de mero regulador.
O problema é que é mal gerido e, pior do que iso, aqueles que clamam quanto à sua monstruosidade foram aqueles que o engordaram e continuam a engordar, satisfazendo à vez os aparelhos partidários com compadrios e nomeações de toda a ordem e pactuando com os grupos de pressão mais activos em cada sector.
Na Justiça com os juízes e advogados de onde a generalidade do pessoal político é proveniente, deixando-se enredar em discussões estéreis e preocupando-se mais em assegurar que, em caso de problemas, existem mais hipóteses de escapar do que de ser apanhado.
Na Educação, usando o sistema de ensino como depósito para milhares de licenciados em áreas académicas sem outras saídas profissionais, sendo a docência uma almofada social conveninente. E aqui a aliança com os sindicatos é evidente, incluindo a coreografia das greves anuais da praxe.
Na Saúde, cedendo às indústrias do sector, das farmacêuticas às farmácias, e ainda aos interesses corporativos instalados, não fiscalizando devidamente todo o desrespeito gritante que existe do enfermeiro que desvia material para uso privado ao médico que não cumpre o seu horario no Hospital público para correr entre clínicas privadas, passando por abundante pessoal administrativo mais interessado em discutir a novela da noite ou a Quinta das Celebridades do que em atender quem espera ao balcão.
Não é que os portugueses sejam maus trabalhadores ou menos produtivos que os estrangeiros - como um amigo meu, alemão, ainda ontem insinuava -, o problema é que, em Portugal e então no sector público, não respeitamos quem tem por misão mandar em nós porque não lhe reconhecemos competência e/ou autoridade moral.
E porquê ?
Porque muitas vezes essa competência e autoridade não existem mesmo, pois as colocações foram feitas com base na cunha e as promoções se devem a tudo menos a competência. E todos se conhecem e já todos, ou quase, beneficiaram do clima geral de desresponsabilização e impunidade ("tu fechas os olhos a isto... e eu finjo que não sei que fizeste aquilo").
E, depois, o sistema fica todo viciado e não há ponta por onde se pegar ou quem tenha a tal autoridade para começar a moralizar a desordem instalada.
Resta, para iludir o resto do povinho, abanar com os números e dizer que se vai investir mais isto e colocar mais gente.
Só que o nosso problema é de (falta de) qualidade, não de quantidade.
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