segunda-feira, maio 23, 2005

A Irmandade do Défice

Custa-me imenso ver os debates e ler os artigos de opinião sobre o défice público em Portugal.
Não necessariamente pelos efeitos que vai ter na vida de todos nós, em virtude das medidas para que se foi preparando a arraia-miúda na última semana em que todos estavam ansiosos com o desfecho do futebol, que se irão começar a anunciar enquanto boa parte da malta anda eufórica com a vitória do Benfica e que com o efeito de uma possível vitória na Taça e a concretização da dobradinha só descerão à Terra daqui a um par de semanas e, então, serão poucos os que terão percebido o que se passou e quando.
O que me custa quase mais é ter de ver como opinadores, aúgures e curandeiros, todos aqueles que durante as últimas décadas fizeram os possíveis por manter o famigerado défice robusto, de boa saúde e melhor apetite.
Nós não temos grandes elites, nem em quantidade, nem em qualidade e, por isso, quando se chega a estas situações, não há muito por onde pegar quando é preciso meter um esqueleto andante a botar faladura na televisão.
O resultado é termos como analistas preocupados do problema, exactamente aqueles que mantiveram o problema bem vivinho da costa.
Uma verdade seja dita: a Nelita Ferreira Leite tem ficado calada porque se vê agora que tanto aperto não serviu para nada e o Bagão Félix tem feito o possível por esquecermos que existiu como Ministro das Finanças.
Agora o resto, tem sido um fartote e um corropio. Ele é Daniel Bessa, ele é Pina Moura, ele é Eduardo Catroga, ele é Elisa Ferreira (?), ele é Oliveira Martins, ele é Miguel Beleza, ele é Vítor Constâncio que, com o desplante que o "prestígio" lhe confere, aparece a falar com se tivesse chegado ontem ao Banco de Portugal, ele é o próprio Santana Lopes a colocar-se de fora como se não tivesse nada com isso (e se calhar até nem teve...).
Ele é todo o jornalista da área da Economia arvorado em mais sábio que os sábios (daqui só se excluindo o Peres Metello que sempre esbracejou com tudo isto...), ele é académico da área da Economia armado em analista político-financeiro (a começar pelo actual Min. Finanças que já andou a filtrar estados de alma para a aimprensa...).
Agora todos sabem qual é o problema e, com cenho preocupado, fazem cara de caso quanto às soluções e à sua indispensável dureza.
Défice de vergonha - por oposição ao da prosápia descarada - é que não há por estes lados.
estes senhores quando aceitaram responsabilidades executivas, o que fizeram ? Quando ocuparam cargos de relevo na estrutura do Estado, o que contribuiram para melhorar a situação ?
Ou melhor, o que andam quase todos eles a fazer se não, directa ou indirectamente, andarem a mamar do Estado, como consultores, administradores, governadores, gestores públicos e tudo o mais, sem que da sua acção se vejam exemplos positivos ?
No fundo, todos eles sempre fizeram parte da vasta Irmandade que viveu à custa do défice e assim continuarão sempre, agora ainda mais irmanados pelo desejo de nos convencer a todos que o problema somos nós e que a crise quande nasce é igual para todos...
Olhem que não, doutores, olhem que não...

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