sábado, março 11, 2006

Acto de Contrição

Confesso a minha simpatia pessoal por Jerónimo de Sousa que acho o líder certo para o PCP.
Ao ponto de, perante o receio de uma maioria absoluta do Sócrates, ter votado pela primeira vez na vida no PCP/CDU, como aqui confessei à época.
Só que há coisas para mim impensáveis.
No Expresso de hoje, na longa entrevista que concede à revista Única, JS afirma aquilo que passou a inserir como imagem, para que não digam que deturpo a verdade.


Eu sei de fonte próxima e segura, que esta sempre foi uma prática comum no PCP, como em muitas outras organizações que professam uma qualquer fé, têm noções de pecado e acreditam na sua expiação, através da confissão e expiação ou de actos de contrição como o aqui referido.
Mas, minhas amigas e meus amigos, eu não concebo que, por mero delito ou desvio de opinião, um homem tenha de fazer um acto de contrição a outro.
É por isso, por esse tipo de disciplina dogmática, que exige este tipo de práticas que eu qualifico de pessoalmente degradantes para a dignidade individual, é que se me torna pouco possível aceitar que alguém depois fale em várias verdades, quando para alguns ela é só uma, mesmo quando a praticam de forma diferente em público e privado.
Desculpem lá mas, se eu nem consigo aceitar isso para com qualquer tipo de divindade, como o poderei conceber para outro indivíduo, que considere igual em direitos e deveres ?
É isto a igualdade entre os homens, é isto a liberdade que oferecem ?

AV1

5 comentários:

joao figueiredo disse...

cresci numa família com um passado de trabalho no PCP. nunca soube de tal coisa.

Anónimo disse...

Eu também cresci no mesmo ambiente.
Sempre soube disso e muito mais.
E a declaração de JS é inequívoca.
Mas não é preciso ir mais longe, basta ter atenção aos testemunhos de muitos quadros do PC que foram presos e, em plena prisão, no caso de terem cedido à tortura, terem feito esse tipo de acto perante os camaradas presos. Prática habitual nos anos 50 e também na sequência do chamado "desvio de direita" do PC que levou, com a fuga de Cunhal, muita gente a "arrepender-se".
Isto não é propaganda, está documentado e é assumido por muita gente que ainda está no próprio Partido. Falha-me até o nome de um militante muito conhecido que, há não muito tempo, também falou nisso numa entrevista.

joao figueiredo disse...

na clandestinidade, onde a rigidez era uma obrigação de sobrevivencia, estes actos ainda seriam compreensíveis. mas estas coisas dependem do modo como as pessoas se entregam às causas. nunca poderia negar que no PCP muita gente adere por fé, como não negará que o mesmo também acontece nos outros partidos, ou apenas em determinados candidatos (as televisões documentaram bem alguns casos nas ultimas presidenciais).

como lá por casa se lia marx, engels e lenine, sem que isso significasse nenhum acto de fé, nós fomos crescendo sem ouvir sermões.

Anónimo disse...

Mas isto não se trata de nosso caso pessoal mas, como bem vê, de algo que permanece.
As declarações são de JSousa, não de um qualquer detractor.
E lendo bem, percebe-se como JS acolheu esse comportamento como sinal inequívoco de estar no bom caminho.

joao figueiredo disse...

daí o primeiro parágrafo do meu comentário.

"na clandestinidade, onde a rigidez era uma obrigação de sobrevivencia, estes actos ainda seriam compreensíveis. mas estas coisas dependem do modo como as pessoas se entregam às causas. nunca poderia negar que no PCP muita gente adere por fé, como não negará que o mesmo também acontece nos outros partidos, ou apenas em determinados candidatos (as televisões documentaram bem alguns casos nas ultimas presidenciais)."