As Velhas Centralidades
Para quem conheça a evolução da ocupação humana desta zona da margem esquerda do tejo, sabe que os povoados originais se estruturaram principalmente ao longo das margens ribeirinhas, sendo excepção notável o caso de Palmela em virtude do relevo que lhe atribuía uma insubstituível posição de fortaleza defensiva.
Mas aqui mais perto, no antigo concelho de Alhos Vedros, de Coina até Sarilhos, todos os aglomerados que foram nascendo virados para o Tejo, com ele estabelecendo uma relação económica (e não só) primordial, não apenas pelos seus recursos como pelo meio de comunicação com Lisboa.
Coina, Palhais, Barreiro, Lavradio, Alhos Vedros, Moita, Gaio, Rosário, Sarilhos Pequenos, tudo foram aglomerados ribeirinhos, cuja traça urbanística original obedece, em primeira instância, ao trajecto do rio e só em seguida se desdobra para acompanhar as vias de comunicação terrestres para as zonas rurais do interior abertas para deslocação de pessoas e bens.
Isto assim foi até ao início do século XX e só com a pressão demográfica resultante da industrialização moderna do Barreiro se foi alterando. Mesmo a Baixa da Banheira, que se desenvolve principalmente a partir de meados do século XX, cresce ainda muito perto do rio em torno da linha férrea e da via terrestre que fazia a ligação do Barreiro a Alhos Vedros e a Moita.
A própria Moita deve o seu crescimento à localização ribeirinha e à ligação regular que no século XVII passa a ser feita do sul para Lisboa, em alternativa a outras antes existentes, como a que se fazia a partir de Coina.
Tudo isto para chegar ao ponto óbvio de sublinhar que as centralidades tradicionais do Barreiro, de Alhos Vedros e da Moita sempre estiveram ligadas ao rio e isso se nota nos seus bairros mais antigos.
Outro traço comum a todas estas zonas, foi o abandono ou a incúria que foram merecendo ao longo do tempo as zonas residenciais desses bairros tradicionais. Em Alhos Vedros as últimas décadas têm visto o contínuo declínio das antigas artérias que, no sentido Norte-Sul, definiam o traçado da terra, enquanto na Moita, a zona mais antiga do povoado, desde a divisória natural e administrativa constituída pela ribeira e pela zona da caldeira do moinho do Álamo, até à área próxima do actual "dique", foi progressivamente sendo subalternizada e inclusivamente barrada em certo momento, quando a Moita decidiu virar as costas ao rio e, tal como o edifício da Câmara Municipal, construir com os olhos em outros horizontes.
E assim, as velhas centralidades locais, foram sendo esquecidas e tornaram-se mesmo incómodas, tendo-se optado por desfigurá-las ou deixá-las ir caindo aos poucos.
Por isso, quando ouço e leio coisas sobre as novas centralidades, interrogo-me se não teria algum interesse dignificar as antigas visto que, apesar de tudo, estas duraram séculos enquanto as que agora se anunciam, e pela evolução e características das coisas, durarão no máximo uma ou duas gerações e dificilmente deixarão marcas identitárias que valha a pena registar.
E não me venham com a devolução do rio à população graças ao reperfilamento da marginal moiteira e com requalificações que apenas passam por mobiliário urbano de 3ª, porque sobre isso também haverei de escrever.
AV1 (com fotos do Brocas e do Oliude)
Para quem conheça a evolução da ocupação humana desta zona da margem esquerda do tejo, sabe que os povoados originais se estruturaram principalmente ao longo das margens ribeirinhas, sendo excepção notável o caso de Palmela em virtude do relevo que lhe atribuía uma insubstituível posição de fortaleza defensiva.
Mas aqui mais perto, no antigo concelho de Alhos Vedros, de Coina até Sarilhos, todos os aglomerados que foram nascendo virados para o Tejo, com ele estabelecendo uma relação económica (e não só) primordial, não apenas pelos seus recursos como pelo meio de comunicação com Lisboa.
Coina, Palhais, Barreiro, Lavradio, Alhos Vedros, Moita, Gaio, Rosário, Sarilhos Pequenos, tudo foram aglomerados ribeirinhos, cuja traça urbanística original obedece, em primeira instância, ao trajecto do rio e só em seguida se desdobra para acompanhar as vias de comunicação terrestres para as zonas rurais do interior abertas para deslocação de pessoas e bens.
Isto assim foi até ao início do século XX e só com a pressão demográfica resultante da industrialização moderna do Barreiro se foi alterando. Mesmo a Baixa da Banheira, que se desenvolve principalmente a partir de meados do século XX, cresce ainda muito perto do rio em torno da linha férrea e da via terrestre que fazia a ligação do Barreiro a Alhos Vedros e a Moita.
A própria Moita deve o seu crescimento à localização ribeirinha e à ligação regular que no século XVII passa a ser feita do sul para Lisboa, em alternativa a outras antes existentes, como a que se fazia a partir de Coina.
Tudo isto para chegar ao ponto óbvio de sublinhar que as centralidades tradicionais do Barreiro, de Alhos Vedros e da Moita sempre estiveram ligadas ao rio e isso se nota nos seus bairros mais antigos.
Outro traço comum a todas estas zonas, foi o abandono ou a incúria que foram merecendo ao longo do tempo as zonas residenciais desses bairros tradicionais. Em Alhos Vedros as últimas décadas têm visto o contínuo declínio das antigas artérias que, no sentido Norte-Sul, definiam o traçado da terra, enquanto na Moita, a zona mais antiga do povoado, desde a divisória natural e administrativa constituída pela ribeira e pela zona da caldeira do moinho do Álamo, até à área próxima do actual "dique", foi progressivamente sendo subalternizada e inclusivamente barrada em certo momento, quando a Moita decidiu virar as costas ao rio e, tal como o edifício da Câmara Municipal, construir com os olhos em outros horizontes.
E assim, as velhas centralidades locais, foram sendo esquecidas e tornaram-se mesmo incómodas, tendo-se optado por desfigurá-las ou deixá-las ir caindo aos poucos.
Por isso, quando ouço e leio coisas sobre as novas centralidades, interrogo-me se não teria algum interesse dignificar as antigas visto que, apesar de tudo, estas duraram séculos enquanto as que agora se anunciam, e pela evolução e características das coisas, durarão no máximo uma ou duas gerações e dificilmente deixarão marcas identitárias que valha a pena registar.
E não me venham com a devolução do rio à população graças ao reperfilamento da marginal moiteira e com requalificações que apenas passam por mobiliário urbano de 3ª, porque sobre isso também haverei de escrever.
AV1 (com fotos do Brocas e do Oliude)
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