... neste caso do abate de sobreiros em Benavente que envolve o financiamento do CDS e o grupo Espírito Santo.
E porquê ?
Alinhavemos algumas constatações sobre as reacções acerca do que se soube nos últimos dias:
a) Os amigos e colaboradores mais próximos dos envolvidos prontificaram-se a demonstrar-lhes – e às suas famílias, que o CDS é um partido de valores familiares - a sua solidariedade pessoal, mas fugiram a pronunciar-se sobre a essência do assunto. É certo que isto deveria ser sempre assim em circunstâncias normais num país normal mas, infelizmente, nós sabemos que cá o habitual é toda a gente gritar e espernear mesmo que se saiba que estão enterrados até ao pescoço em matérias duvidosas. Para ficar na casa centrista, lembremo-no do ar martirizado do ingénuo Paulo Portas no caso Moderna, certamente incapaz de perceber o objectivo das mordomias que lhe deram como mero director de um centro de sondagens. Por isso, ou caiu-nos uma dose cavalar de civismo em cima ou a malta já está a tentar-se afastar-se da confusão.
b) Abel Pinheiro afirmou que nenhum responsável do grupo Espírito Santo contribuiu para a campanha eleitoral do CDS. Pois, pois... Este é aquele tipo de declarações que deixa um mundo por dizer. Mesmo sendo verdadeira, a afirmação não invalida que muitas outras coisas não tenham acontecido e nem a imaginação precisa de ser assim tão fértil como isso.
c) Por outro lado, aqueles que se pronunciaram sobre a matéria propriamente dita, fugiram para as habituais formalidades processuais desculpabilizadoras. Foi lindo ver ex-ministros (o último dos quais foi ontem à noite o Dias Loureiro) confessar a sua perfeita inutilidade enquanto decisores políticos ao afirmar que quando tomavam uma decisão ela já vinha cheia de pareceres e que ele nunca contrariava os pareceres dos subordinados (este argumento parece ter sido concertado com outros ex-governantes que também se ficaram por aqui). É quase poético o cinismo desta gente que finge até ao cúmulo da (ir)razoabilidade. Como se ninguém soubesse que os pareceres também são manobrados, com “estímulos” exteriores (promessa de favores materiais ou na carreira, como rápidas promoções ou lugares de assessoria) ou deslocando a responsabilidade de quem os dá para serviços mais cooperantes (que foi o que passou no caso de Benavente quando foi retirada a competência à técnica que durante 10 anos deu parecer negativo ao abate, transferindo a decisão para um serviço regional mais permeável). E claro que Dias Loureiro, nesta encarnação caricata de homem de Estado, se esqueceu de referir que o seu colega de governo Duarte Silva, em 1995, também autorizou o abate, mesmo contra o parecer dos ditos serviços.
Este argumento “formal”, desculpabilizador dos ministros – simples marionetas nas mãos dos serviços quais James Hackers nas mãos de impiedosos Sirs Humphreys – só teria, a ser verdadeiro, indirectamente uma consequência positiva que seria a admissão da completa desnecessidade de tanto Ministro e Secretário de Estado, já que são os serviços técnicos e administrativos que tomam efectivamente as decisões.
Só falta mesmo é começarem com aquele argumento de miúdo de Escola que é apontar o dedo ao parceiro e dizer com ar lamuriento, “Mas o Zézinho também fez o mesmo !” ou “O Nelito já roubou berlindes antes de mim e ninguém disse nada...”.
Por tudo isto, minhas amigas e amigos (solidariedade pessoal com o sofrimento “das famílias” às carradas e refúgio em technicalities), me parece que haverá uma réstia de fogo ainda neste caso. Agora só falta ver se não se apaga com estes ventos de final de Primavera que por aí andam.
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