quarta-feira, maio 04, 2005
Chateia-me, claro que me chateia...
... o tipo de chantagem que os políticos - e não só - fazem sobre os cidadãos quando estes não concordam com as suas posições iluminadas.
Em França passa-se uma destas situações com a arraia-miúda a revoltar-se contra as ordens dos quartéis-generais partidários a propósito do referendo sobre o Tratado Constitucional europeu.
Apesar do apoio ao "sim" de forças que representam 70% ou mais do eleitorado, a tendência das sondagens é para um aumento do "não".
Jacques Chirac decidiu colocar a mão na massa, mandar calar os adversários, impedir os ineptos de falar (caso do nosso Zé Manel Europeu, desaconselhado a aparecer na televisão francesa) e dizer de sua justiça perante audiências cordatas e escolhidas a dedo.
"Quem votar não, não pode considerar-se europeu", o "A Constituição é herdeira de 1789" e outras postas de pescada deste calibre revelam a profunda desconfiança dos topos perante as bases, esquecendo-se daquela formalidade de ser o "povo" onde se diz residir a soberania.
Se há coisa que me irrita solenemente é alguém pretender debater que assunto for, colocando-se à partida numa posição de superioridade ou de legitimidade acrescida, adjectivando os adversários sem se preocupar em demonstrar claramente a justeza dos seus argumentos.
Uma outra coisa que me irrita (e são muitas...) é a desconfiança suprema quanto à consulta directa da maralha em temas concretos da governação, em especial os que colocam em causa aspectos estruturantes da vida política ou social.
Em referendos votei 100% e votarei sempre, salvo imprevisto ou batota na formulação da questão, enquanto em eleições tenho uma taxa de abstenção muitíssimo elevada.
Não tenho culpa se, por exemplo em Portugal, o hábito ainda não se instalou e - com o esfregar de mãos de alegria de muitos políticos - as taxas de participação foram baixas, suscitando já reservas à continuação do hábito (nada como despachar a "coisa" enquanto não cria raízes e "maus" hábitos").
Infelizmente, o pessoal gosta é de caras e nomes, dando muito trabalho debruçar-se sobre as questões e os problemas.
Queremos, por regra, é saber "quem" e não "o quê".
Queremos é que os "nossos" ganhem e os "outros" percam e para isso são necessários rostos.
Quanto a mim - e estou aberto a ser convencido do contrário, para ser coerente com a minha própria crítica - interessa-me saber muito mais o "que" se faz e para isso o referendo é um mecanismo essencial para a Democracia e para sentir que não ando a dar cheques em branco a meia dúzia de tipos com a cara escarrapachada nuns cartazes feitos por publicistas estrangeiros recrutados à última da hora.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário