"Desmascaramento da vigarice Marxista"
...Continuação do texto sobre a impossibilidade da existência do dinheiro numa sociedade comunista.
«Examinemos melhor este sistema de retribuição do trabalho recomendado pelos colectivistas franceses, alemães, ingleses e italianos. Reduz-se mais ou menos a isto: Toda a gente trabalha, seja nos campos, nas fábricas, nas escolas,. nos hospitais, etc. etc. O dia de trabalho é regulado pelo Estado ao qual pertence a terra, as fábricas,. as vias de comunicação e tudo o mais. Cada trabalhador que tenha feito um dia de trabalho recebe uma senha com, digamos, as seguintes palavras: oito horas de trabalho. Com esta senha pode obter, nos armazéns do Estado ou das diversas corporações, qualquer espécie de mercadorias. A senha é divisível,. de modo que pode comprar-se uma hora de trabalho de carne, dez minutos de fósforos ou meia-hora de tabaco. Depois da Revolução Colectivista, em vez de «dois Euros de sabão» dir-se-á «cinco minutos de sabão».
A maioria dos colectivistas, fiel à distinção estabelecida pelos economistas burgueses (e também por Marx) entre trabalho qualificado e trabalho simples, diz-nos que o trabalho qualificado, ou profissional, deverá ser pago um certo número de vezes mais do que o trabalho simples. Assim, uma hora de trabalho de um médico deverá ser considerada equivalente a duas ou três horas de trabalho de uma enfermeira ou a três horas de trabalho de um calceteiro. «o trabalho profissional, ou qualificado, será um múltiplo do trabalho simples», afirma o colectivista Groenlund, porque este tipo de trabalho requer uma aprendizagem mais ou menos longa.
Outros colectivistas, como os marxistas franceses, não fazem esta distinção. Proclamam a «igualdade de salários». O médico, o mestre-escola e o professor serão pagos em senhas de trabalho à mesma taxa que o calceteiro. Oito horas passadas a trabalhar no hospital terão o mesmo valor que oito horas passadas a trabalhar numa estrada, numa mina ou numa fábrica.
Alguns há que ainda fazem mais uma concessão: o trabalho desagradável ou prejudicial à saúde - tal como o dos esgotos - poderá ser pago a uma taxa mais elevada do que o trabalho agradável. Segundo eles, uma hora de serviço nos esgotos valerá duas horas de trabalho dum professor.
Certos colectivistas admitem ainda a retribuição em bloco por corporação. Assim, uma corporação diria: «Estão aqui cem toneladas de aço. Para produzi-las necessitámos de cem trabalhadores e trabalhámos durante dez dias. Como o nosso dia de trabalho é de oito horas, trabalhámos oito mil horas para produzir cem toneladas de aço, ou seja, oitenta horas por tonelada». Então, o Estado pagar-lhe-ia oito mil senhas de trabalho de uma hora cada e os membros da corporação reparti-las-iam entre si como entendessem.
Por outro lado, se cem mineiros tivessem trabalhado durante vinte dias para extrair oito mil toneladas de carvão, cada tonelada valeria duas horas e as dezasseis mil senhas de uma hora cada recebidas pela corporação dos mineiros seriam repartidas entre eles segundo o seu próprio critério.
Se houvesse disputa - se os mineiros protestassem e dissessem que uma tonelada de aço devia custar sessenta horas de trabalho em vez de oitenta,se o' professor quisesse receber pelo seu dia de trabalho o dobro da enfermeira então o Estado interviria e resolveria os diferendos.
Em poucas palavras, é esta a organização que os colectivistas querem fazer surgir da Revolução Social. Como se vê, os seus princípios são a propriedade colectiva dos instrumentos de trabalho e a remuneração de cada um segundo o tempo empregue na produção tendo em conta a produtividade do seu trabalho. Quanto ao regime político, seria o regime parlamentar melhorado pela mudança dos homens no poder, o mandato imperativo e o referendo, isto é, o plebiscito sim ou não sobre as questões que fossem submetidas ao voto popular.
Digamos, antes de mais, que este sistema nos parece absolutamente irrealizável.
Os colectivistas começam por proclamar um princípio revolucionário a abolição da propriedade privada - e negam-no logo a seguir ao manter uma organização da produção e do consumo que nasceu da propriedade privada.
Proclamam um princípio revolucionário e, esquecimento inconcebível, ignoram as consequências que deverá ter um princípio tão diferente do actual. Esquecem-se que o próprio facto de abolir a propriedade individual dos instrumentos do trabalho (solo, fábricas, meios de comunicação, capitais) deverá lançar a sociedade em caminhos completamente novos, deverá modificar a produção de alto a baixo tanto nos meios como nos fins: logo que as terras, as máquinas e tudo o resto sejam considerados posse comum, todas as relações quotidianas entre indivíduos deverão ser modificadas.
«Nada de propriedade privada», dizem os colectivistas, e logo a seguir mantêm a propriedade privada nas suas manifestações quotidianas. «Vocês vão constituir-se em comuna para produzir», dizem eles. «Os campos, as ferramentas, as máquinas pertencer-vos-ão em comum. O que foi feito até hoje - as fábricas, os caminhos de ferro, os portos e as minas - pertencer-vos-á a todos. Não será feita a mínima distinção relativamente à parte que anteriormente coube a cada um de vós para construir as máquinas, abrir as minas ou instalar os caminhos de ferro».
«Porém, a partir de amanhã, disputar-vos-eis minuciosamente sobre a parte que vos caberá na construção de novas máquinas, na abertura de novas minas. A partir de amanhã, procurareis calcular exactamente a parte que irá caber a cada um de vós na nova produção. Contareis os vossos minutos de trabalho e estareis alerta para que um minuto de trabalho do vosso vizinho não possa comprar mais produtos do que o vosso».
«Calculareis as horas e os minutos do vosso trabalho, e como a hora não mede nada, pois em determinada fábrica um trabalhador pode vigiar quatro teares ao mesmo tempo enquanto que noutra só vigia dois, devereis medir a força muscular, a energia cerebral e a energia nervosa empregues. Calculareis minuciosamente os anos de aprendizagem para avaliar exactamente a parte de cada um de vós na futura produção». Tudo isto depois de ter declarado que não se leva em consideração a parte que cada um forneceu no passado.
Ora bem, para nós é evidente que uma nação ou uma comuna que se entregasse a semelhante organização não chegaria a subsistir um mês. Uma sociedade não pode organizar-se com base em dois princípios absolutamente opostos, dois princípios que se contradizem a par e passo. E a nação ou a comuna que se entregasse a semelhante organização seria forçada a retornar à propriedade privada, ou, então, a transformar-se imediatamente numa sociedade comunista.
Dissemos que a maioria dos escritores colectivistas propõem que na sociedade socialista a retribuição seja feita estabelecendo uma distinção entre trabalho qualificado ou profissional e trabalho simples.
Eles pretendem que a hora de trabalho do engenheiro ou do arquitecto valha duas ou três horas de trabalho do ferreiro, do pedreiro ou da enfermeira. E a mesma distinção deve ser estabelecida, dizem eles, entre os trabalhadores cujo ofício exige uma aprendizagem mais ou menos longa e os que não passam de simples serventes.
Assim sucede na sociedade burguesa, assim deverá suceder na Sociedade colectivista.
Ora bem, estabelecer esta distinção é manter todas as desigualdades da sociedade actual. É estabelecer desde logo uma demarcação entre os trabalhadores e os que pretendem governá-los. É, de qualquer modo, dividir a sociedade em duas classes bem distintas - a aristocracia do saber, acima da plebe das mãos calejadas -, uma destinada a servir a outra, a trabalhar com os seus braços para alimentar e vestir os outros, aproveitando estes o seu lazer para aprender a dominar os que os alimentam.
É mais do que isso, é pegar numa das características da sociedade burguesa e dar-lhe o aval da Revolução Social. É erigir em princípio um abuso que hoje condenamos na velha sociedade em vias de desaparecer.»
...Continuação do texto sobre a impossibilidade da existência do dinheiro numa sociedade comunista.
«Examinemos melhor este sistema de retribuição do trabalho recomendado pelos colectivistas franceses, alemães, ingleses e italianos. Reduz-se mais ou menos a isto: Toda a gente trabalha, seja nos campos, nas fábricas, nas escolas,. nos hospitais, etc. etc. O dia de trabalho é regulado pelo Estado ao qual pertence a terra, as fábricas,. as vias de comunicação e tudo o mais. Cada trabalhador que tenha feito um dia de trabalho recebe uma senha com, digamos, as seguintes palavras: oito horas de trabalho. Com esta senha pode obter, nos armazéns do Estado ou das diversas corporações, qualquer espécie de mercadorias. A senha é divisível,. de modo que pode comprar-se uma hora de trabalho de carne, dez minutos de fósforos ou meia-hora de tabaco. Depois da Revolução Colectivista, em vez de «dois Euros de sabão» dir-se-á «cinco minutos de sabão».
A maioria dos colectivistas, fiel à distinção estabelecida pelos economistas burgueses (e também por Marx) entre trabalho qualificado e trabalho simples, diz-nos que o trabalho qualificado, ou profissional, deverá ser pago um certo número de vezes mais do que o trabalho simples. Assim, uma hora de trabalho de um médico deverá ser considerada equivalente a duas ou três horas de trabalho de uma enfermeira ou a três horas de trabalho de um calceteiro. «o trabalho profissional, ou qualificado, será um múltiplo do trabalho simples», afirma o colectivista Groenlund, porque este tipo de trabalho requer uma aprendizagem mais ou menos longa.
Outros colectivistas, como os marxistas franceses, não fazem esta distinção. Proclamam a «igualdade de salários». O médico, o mestre-escola e o professor serão pagos em senhas de trabalho à mesma taxa que o calceteiro. Oito horas passadas a trabalhar no hospital terão o mesmo valor que oito horas passadas a trabalhar numa estrada, numa mina ou numa fábrica.
Alguns há que ainda fazem mais uma concessão: o trabalho desagradável ou prejudicial à saúde - tal como o dos esgotos - poderá ser pago a uma taxa mais elevada do que o trabalho agradável. Segundo eles, uma hora de serviço nos esgotos valerá duas horas de trabalho dum professor.
Certos colectivistas admitem ainda a retribuição em bloco por corporação. Assim, uma corporação diria: «Estão aqui cem toneladas de aço. Para produzi-las necessitámos de cem trabalhadores e trabalhámos durante dez dias. Como o nosso dia de trabalho é de oito horas, trabalhámos oito mil horas para produzir cem toneladas de aço, ou seja, oitenta horas por tonelada». Então, o Estado pagar-lhe-ia oito mil senhas de trabalho de uma hora cada e os membros da corporação reparti-las-iam entre si como entendessem.
Por outro lado, se cem mineiros tivessem trabalhado durante vinte dias para extrair oito mil toneladas de carvão, cada tonelada valeria duas horas e as dezasseis mil senhas de uma hora cada recebidas pela corporação dos mineiros seriam repartidas entre eles segundo o seu próprio critério.
Se houvesse disputa - se os mineiros protestassem e dissessem que uma tonelada de aço devia custar sessenta horas de trabalho em vez de oitenta,se o' professor quisesse receber pelo seu dia de trabalho o dobro da enfermeira então o Estado interviria e resolveria os diferendos.
Em poucas palavras, é esta a organização que os colectivistas querem fazer surgir da Revolução Social. Como se vê, os seus princípios são a propriedade colectiva dos instrumentos de trabalho e a remuneração de cada um segundo o tempo empregue na produção tendo em conta a produtividade do seu trabalho. Quanto ao regime político, seria o regime parlamentar melhorado pela mudança dos homens no poder, o mandato imperativo e o referendo, isto é, o plebiscito sim ou não sobre as questões que fossem submetidas ao voto popular.
Digamos, antes de mais, que este sistema nos parece absolutamente irrealizável.
Os colectivistas começam por proclamar um princípio revolucionário a abolição da propriedade privada - e negam-no logo a seguir ao manter uma organização da produção e do consumo que nasceu da propriedade privada.
Proclamam um princípio revolucionário e, esquecimento inconcebível, ignoram as consequências que deverá ter um princípio tão diferente do actual. Esquecem-se que o próprio facto de abolir a propriedade individual dos instrumentos do trabalho (solo, fábricas, meios de comunicação, capitais) deverá lançar a sociedade em caminhos completamente novos, deverá modificar a produção de alto a baixo tanto nos meios como nos fins: logo que as terras, as máquinas e tudo o resto sejam considerados posse comum, todas as relações quotidianas entre indivíduos deverão ser modificadas.
«Nada de propriedade privada», dizem os colectivistas, e logo a seguir mantêm a propriedade privada nas suas manifestações quotidianas. «Vocês vão constituir-se em comuna para produzir», dizem eles. «Os campos, as ferramentas, as máquinas pertencer-vos-ão em comum. O que foi feito até hoje - as fábricas, os caminhos de ferro, os portos e as minas - pertencer-vos-á a todos. Não será feita a mínima distinção relativamente à parte que anteriormente coube a cada um de vós para construir as máquinas, abrir as minas ou instalar os caminhos de ferro».
«Porém, a partir de amanhã, disputar-vos-eis minuciosamente sobre a parte que vos caberá na construção de novas máquinas, na abertura de novas minas. A partir de amanhã, procurareis calcular exactamente a parte que irá caber a cada um de vós na nova produção. Contareis os vossos minutos de trabalho e estareis alerta para que um minuto de trabalho do vosso vizinho não possa comprar mais produtos do que o vosso».
«Calculareis as horas e os minutos do vosso trabalho, e como a hora não mede nada, pois em determinada fábrica um trabalhador pode vigiar quatro teares ao mesmo tempo enquanto que noutra só vigia dois, devereis medir a força muscular, a energia cerebral e a energia nervosa empregues. Calculareis minuciosamente os anos de aprendizagem para avaliar exactamente a parte de cada um de vós na futura produção». Tudo isto depois de ter declarado que não se leva em consideração a parte que cada um forneceu no passado.
Ora bem, para nós é evidente que uma nação ou uma comuna que se entregasse a semelhante organização não chegaria a subsistir um mês. Uma sociedade não pode organizar-se com base em dois princípios absolutamente opostos, dois princípios que se contradizem a par e passo. E a nação ou a comuna que se entregasse a semelhante organização seria forçada a retornar à propriedade privada, ou, então, a transformar-se imediatamente numa sociedade comunista.
Dissemos que a maioria dos escritores colectivistas propõem que na sociedade socialista a retribuição seja feita estabelecendo uma distinção entre trabalho qualificado ou profissional e trabalho simples.
Eles pretendem que a hora de trabalho do engenheiro ou do arquitecto valha duas ou três horas de trabalho do ferreiro, do pedreiro ou da enfermeira. E a mesma distinção deve ser estabelecida, dizem eles, entre os trabalhadores cujo ofício exige uma aprendizagem mais ou menos longa e os que não passam de simples serventes.
Assim sucede na sociedade burguesa, assim deverá suceder na Sociedade colectivista.
Ora bem, estabelecer esta distinção é manter todas as desigualdades da sociedade actual. É estabelecer desde logo uma demarcação entre os trabalhadores e os que pretendem governá-los. É, de qualquer modo, dividir a sociedade em duas classes bem distintas - a aristocracia do saber, acima da plebe das mãos calejadas -, uma destinada a servir a outra, a trabalhar com os seus braços para alimentar e vestir os outros, aproveitando estes o seu lazer para aprender a dominar os que os alimentam.
É mais do que isso, é pegar numa das características da sociedade burguesa e dar-lhe o aval da Revolução Social. É erigir em princípio um abuso que hoje condenamos na velha sociedade em vias de desaparecer.»
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