sábado, julho 23, 2005

Aritmética eleitoral


De hoje a uma semana já espero estar de férias, bem longe daqui e com acesso reduzido à net, pelo que vou começando a adiantar algumas prosas sobre as próximas autárquicas, vistas a três meses de distância.
Olhando para a evolução dos resultados dos últimos 30 anos e combinando isso com as forças actualmente em confronto, verifica-se que, pela primeira vez, o PS está em posição de contestar a predominância da CDU, coisa que mesmo aqui no AVP, por muito críticos que sejamos, não achávamos verdadeiramente possível no início de 2005.
E o que se alterou desde então:
Principalmente o comportamento das forças políticas à esquerda da CDU e à direita do PS, o que vai levar a uma eventual alteração da cartografia eleitoral.
Eu passo a explicar:
Do lado esquerdo, em virtude da injecção de ânimo dos resultados da legislativas de Fevereiro, o Bloco pode desta vez aproximar-se de um resultado histórico no concelho, em especial no plano das eleições autárquicas, não sendo de excluir um valor entre os 7 a 10%, mesmo se a campanha do BE local demorou muito a perceber que precisava de arrancar e ir para o campo. Ora estes votos irão encurtar o espaço de manobra da CDU, porque serão transferências de votos do seu campo natural ou votos que o Bloco pode ir buscar a abstencionistas de esquerda. Atendendo ao ritmo de perda da CDU na última década, muito dificilmente este ano João Lobo conseguirá segurar 40% do eleitorado.
Do lado direito, a aliança PSD/CDS parece ter afinado por uma campanha algo caricata que irá fazer com que os seus resultados possam ser os piores de sempre (na casa dos 10%), o que permite ao PS espraiar-se por todo o centro político e atingir um resultado quase por certo acima dos 35%.
Isto significa que, a esta distância, e atendendo a muitas variáveis que ainda estão em jogo, a disputa pela CMM está quase em situação de empate técnico, apenas com uma ligeira vantagem para a CDU.
Muito vai depender do que se passar na sequência da discussão do PDM e de saber, para os mais interessados por essas coisas, se a CDU e o PS representam verdadeiramente opções diferentes para o desenvolvimento do concelho. Se a ideia que ficar é a de que no fundo as opções são iguais, a CDU tem a vantagem de estar a exercer o Poder e ter um aparelho de propaganda instalado a trabalhar para si.
Se a ideia que predominar dor a de que o PS representa uma via diferente - e não apenas crítica do que está - as hipóteses socialistas são maiores.
Para os menos atentos - e talvez para a maioria da população - vão ser fulcrais dois aspectos: a fidelidade de voto e o peso da imagem. No primeiro caso a CDU tem vantagem, embora o seu eleitorado esteja em crescente erosão e o rejuvenescimento aparente do seu pessoal político só seja isso mesmo, aparente, pois já cá andam há décadas; no segundo, o cenário é indefinido, porque a imagem que passa do PS ainda não é a melhor e perde-se entre a crítica vaga a tudo e as propostas vagas sobre quase nada.
Atendendo a tudo isto, volto a achar que muito passa pelo que o Bloco e a aliança PSD/CDS conseguirem fazer. Até ao momento, como acima escrevi, o Bloco tarda em arrancar a sério e em capitalizar a euforia da votação de Fevereiro no concelho; pelo seu lado, a campanha PSD/CDS tende a afundar-se cada vez mais, equivocada no facto de não estar a dirigir-se apenas ao público da Praça Daniel do Nascimento durante a Tourada da RTP.
No fim de tudo, é muito possível que a CMM tenha de vir a ser gerida por uma coligação pós-eleitoral. O que para um céptico nato quanto às potencialidades das maiorias absolutas como eu, poderão ser boas notícias.

AV1

(Imagem de O Rio nº 99, de 1 a 15 de Janeiro de 2002, p.8)

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