Conforme prometido... eis o que é devido.
Com efeito, esta que não chega a ser uma disputa de velhos compadres pela candidatura presidencial do PS deixa-me especialmente divertido do topo à base.
No topo, porque assim se vê que as candidaturas nos dias de hoje não são meros actos volitivos de um cidadão que avança, pela tempestade afora, sem antes ter preparado o terreno e discutido com as estruturas partidárias de que se espera o apoio. Quem vai e quando é o resultado daqueles intrincados e maquiavélicos jogos de bastidores em que só o mais distraído é apanhado desprevenido.
Ainda no topo, porque se viu como as eminências pardas do actual PS (Vitorino e Coelho) fizeram os possíveis por, ao mesmo tempo, se resguardar pessoalmente, deixar um ex-adversário interno ainda pior visto do que antes e jogar uma cartada de poker de alto risco, apostando num ás contra um ás. Ou seja, lançando Soares, todos os cenários ficam prevenidos. Ninguém os pode acusar de não ter jogado forte e ter apostado tudo e, em caso de vitória, são uns génios, enquanto em caso de derrota será fácil achar álibis para o insucesso.
Ainda no topo, e é talvez a nota menos festiva, é penosamente divertida a figura que Manuel Alegre foi deixando que fizessem dele, não resistindo à vaidade de se sentir necessário, como contraponto à figura mais manhosa e calculista de Soares, também movido pela vaidade, mas neste caso de fazer História caso consiga um terceiro mandato.
Divirto-me com as bases do PS neste processo, porque não percebo a sua clivagem entre Alegre e Soares e os desamores que um e outro provocam em muitos socialistas, militantes ou meros simpatizantes.
Afinal, Alegre e Soares fizeram um percurso quase sempre em consonância nas últimas décadas, estando juntos em quase todas as lutas, com o recente desvio de Soares ter apoiado por força das circunstâncias os anseios do filho João à Presidência do PS em concorrência com Alegre.
Mesmo nos tempos que correm, Alegre e Soares ocupam substancialmente o mesmo espaço político, desde que Soares redescobriu as suas origens de esquerda e decidiu aparecer em tudo o que é iniciativa onde qualquer dirigente do PC ou do Bloco se sentem igualmente à vontade.
Acenar com Alegre como um papão todo virado à esquerda é esquecer tudo o que Soares tem feito nos últimos anos, quer em termos de opinião sobre política internacional (incluindo as suas teses sobre o terrorismo internacional e o papel dos EUA no Mundo), quer em termos de defesa de políticas internas de cariz mais social.
Acenar com Soares como sendo alguém fora de prazo, já velho para o cargo e sem ideias novas é esquecer que Manuel Alegre é o representante, no PS actual, desse mesmo ideário socialista tido como algo anacrónico pelos detractores (internos e externos) que quase todas as estruturas do partido recusaram recentemente.
Por isso, se é verdade que eleger Alegre ou Soares não é exactamente o mesmo, também é verdade que não é muito diferente.
Qualquer deles tem a possibilidade de, para evitar segundas voltas ou uma derrota logo na primeira por quase de um divisionismo na esquerda, congregar o apoio natural do PS até ao Bloco na luta contra Cavaco Silva 8a ser esse o candidato que se espera).
Qualquer deles vai tender a fazer Sócrates inclinar-se menos para o centro político.
Qualquer deles tem um perfil (e uma história pessoal) de protagonista activo e opinante por onde passa.
Por isso, sinceramente, não percebo porque os socialistas rosa-desmaiados se atemorizam com Alegre, tanto como não entendo como os rosas-avermelhados se torcem com Soares.
Eu cá por mim fazia-os decidir a coisa, entre amigos, num jogo de bisca lambida.
Quem ganhasse seguia em frente, com o apoio claro do outro.
E o resto são minudências infelizes com os nomes de Vitorino e Coelho, figuras segundas trazidas de Macau para a ribalta mas mais movidas, respectivamente, pela ganância pessoal ou pelo gosto da manobra política do que pelo serviço da causa pública e, por inerência, do seu país.
AV1
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