terça-feira, julho 26, 2005

Grande réplica dos Moradores e Proprietários

Recebemos esta belíssima réplica, por parte de quem se assina Moradores e Proprietários, a um recente post nosso sobre um eventual reduzir de esforços na bulha em torno do PDM.
A indispensável resposta seguirá já mais acima.


Caro AV,
Há 20 dias, eu não sonhava que havia um Blog, nem 2, nem 6 nem pouco mais ou menos no Concelho.Numa frase, eu não sabia que o “Alhos Vedros ao Poder” (AV) era uma instituição.
E convosco, outros tantos, uns mais, outros menos, mas cada um com certeza com um papel positivo a desempenhar, dia após dia.
Hoje, respeito-vos, tenho mais orgulho nesta terra, preciso de vos ler para saber mais, para completar o leque dos meus contactos necessários.
Numa palavra, obrigado.
Obrigado também pela atitude de curiosidade intelectual e de abordagem simpática que vos tem sido possível dar à Várzea da Moita, e aos seus sufocos actuais.
A vossa ajuda tem sido importante.
O nosso apreço é assim sinceramente grande, como grande é a surpresa ao lermos o texto acima.
Com toda a consideração e respeito, discordamos de AV quando diz que “depois de ler com alguma atenção as recentes declarações do Presidente da CMM sobre todo este processo”, … “Não vou perder muito mais tempo... com grandes questões relacionadas com o PDM”.
Ora essa!?
Uma simples entrevista, e já sai do ringue, Caro AV?
Como então? Que é isso, Homem?
Se me permite, amistosamente lhe digo:
Assim, estávamos todos ainda a matar-nos uns aos outros numa qualquer arena, entremeando lutas de morte entre nós para gáudio do César e alienação do povo, em duelos a espaços entremeados com algum leãozito, ou pior ainda.
Bastaria que um qualquer senhor debitasse umas dicas, e anossa vontade de resistir e lutar ficaria de imediato na prateleira, sairíamos de imediato de cena.
Amigavelmente lhe digo que não creio que seja o melhor que temos a fazer, não acredito que Você o faça.
Fará?
Peço-lhe que não, por favor.
Você diz que de qualquer modo, ou será chapéu branco ou branco chapéu.
Pode ser, mas que papael jogam então aí as pessoas, Você, eu, nós, muitos de nós?
Seremos simplesmente marechais estribeiros do senhor que se segue, ou poderemos ser algo mais, antes, durante, depois, nos intervalos, nos intervalos dos intervalos, sempre que nos cheguem ou queiram fazer chegar o copo de fel à boca?
Que acha, AV?
Qual o papel das pessoas, dos cidadãos, dos lesados, dos solidários, dos que sentem as causas, dos que sentem ainjustiça, dos que sonham, dos que estão vivos?Esperar por A, e descansar?
Mudar para B, e desguarnecer?
Desesperar entre A e B, e entre B e A?
Pessoalmente, não o creio.
Diga-me o que pensa, AV, peço-lhe com muito respeito.
Você fala que se assiste a um certo desinteresse da própria CMM em defender arduamente a sua dama.
E daí, que conclusões tirar?
É contagioso, ou cada um pode correr na sua própria pista?
Seria uma táctica espectacular, assim caricaturizada:
Os geradores de factos A ou B levantariam raios e coriscos.Assustados, calavam-se, escondiam-se, eclipsavam-se.
Assistiam na sua toca ao consequente (causa gera efeito, quietinho que eles amainam) esvaziar da tormenta.
Passados os raios e os coriscos, os geradores de factos A ou B poderiam então tranquilamente executar A e empreender B.
Boa táctica, hein!?
Caro AV, não pode ser.
Ou melhor, pode, mas não deve.Assim, de facto, tudo seria mais fácil.
Mas para quem?
Para os cá de baixo, ou para os lá de cima, para citar Wallraf?Diga AV, concorda com o que escreve?
Pelos 20 dias que julgo conhecer um pouco de si, amistosamente dou a minha resposta:
Não o creio.
Você acrescenta …” tudo me parece estar a decorrer de uma forma muito distante do que deveria ser um processo democrático, participativo e transparente”.
AV:O que é democracia?
Será uma dádiva outorgada a partir de cima?
O que é participação?
Será algo que decorre de uma autorização superior?
O que é transparência?
Será um género de parede de vidro fornecida e iluminada pelos agentes da escuridão e do obscuro?
Eu pergunto-lhe, mas sei – imagino – que AV sabe.
Eu, por meu turno, não sei mais que Você.
Uma coisa eu sei:
Democracia, participação e transparência, frutos de quem quer que sejam, há-as no presente processo.
Porventura, mais que noutros.
Talvez contra a vontade de alguns.
Quiçá como muitas vezes eu e muitos de nós não somos capazes de assegurar.
Deixamos cair?
Abandonamos?
Andor?
Será essa a melhor opção?
Não creio que AV o creia.
Você conclui que “…, para esse peditório (irá) reduzir bastante a esmola, sendo que os meus meios também são parcos (não sou engenheiro, não sou arquitecto, não sou político nem aspirante a..., não sou proprietário interessado nem aspirante a...”
AV, Caro AV:
Hoje morreu-me uma cadelinha.
Saiba que senti a sua perda, sofri por ela.
Antes, havia tentado salvá-la, dias a fio.
Não consegui.
E sofri.
Não refiro este facto por lamechice, mas tão só para lhe recordar o que Você sabe melhor que eu, seguramente:
A gente sente-se, mesmo quando o assunto não nos toca directa e contundentemente.
Outro dia levaram o judeu
Depois o democrata.
Depois o intelectual.
Depois o comunista.
Hoje, estão a bater-me à porta.
Os tempos são outros, as preocupações não têm nada a ver, mas uma lição pode talvez ganhar foros de legitimidade:
Sofro por mim, e auto-defendo-me.
Sofro pelos outros, e solidarizo-me.
Mesmo que eu não seja nem judeu, nem perceba grande coisa de democracia, de livros menos ainda e de comunista tampouco.
Mas levaram o meu vizinho, e eu senti-me.
AV, meu caro:
Achei piada ao boneco da caricatura, mas também da sua lição discordo:
As formas e os conteúdos não são comparáveis.
Se fossem, o fascismo ganharia legitimidade.
Só um lírico poderia imaginar que a libertação de um jugo, seria a libertação de todos os jugos.
Mas isso não impede que resistamos.
Você deu-nos um cartoon.
Permita que lhe conte resumidamente uma das mais belas estórias que alguma vez aprendi, a da cabrinha do Senhor Blanchard (creio ser esse o nome, já lá vão tantos anos que a li), que de tanto lutar contra a corda que a prendia ‘em segurança’ no quintal do seu senhor, um dia se libertou.
Vagueou, vagueou, até dar de caras com o lobo mau, que saltou sobre ela e zás, pás, catrapás, lá vai cabrinha.
Antes de se finar, ainda conseguiu ver chegar o seu dono, que lhe rezoo o sermão:Se não tivesses fugido, cabrinha, não tinhas morrido.
E ela vá de pensar, no filme dos segundos derradeiros do seu pensar:
Antes a lutar pela liberdade, que presa a uma estaca toda vida.
AV, meu Caro AV.
Perdoe-me a ousadia, mas o meu propósito não é contestá-lo, não é ensiná-lo, não é amesquinhá-lo.
Você seguramente não o merece.
Eu não estaria à altura (à baixa altura) para o fazer.
Antes sim, procurei reflectir consigo.
A gente vê-se, estou certo disso.
Abraço deste que se assina por
Moradores e proprietários,
Mas que de seu, bem de seu, só tem a estima* de quem de mim gosta
25 julho 2005
*( e mesmo assim, não é minha, antes tenho de a ganhar e voltar a ganhar todos os dias. Vê: fracos proprietários. O nome é só um nome, concordará).

Sem comentários: