terça-feira, julho 26, 2005

Pois, pois, pois...

"If you tolerate this, your children will be next..."
Manic Street Preachers


Caro(s) Moradores e Proprietários,

Em primeiro lugar, considerem o texto que se segue um longo agradecimento e um longo elogio ao efeito que a veemência da vossa argumentação teve particularmente em mim.
Confesso que escrevi o que escrevi não como resultado de desistência de uma tomada de atitude crítica em relação aos problemas levantados pelo PDM, mas devido à combinação de duas situações: a primeira, mais importante, explicitei-a e passa pelo facto de achar que todo este processo está enviesado e me parecer que tudo pode ficar nas chamadas "águas de bacalhau". A segunda, é mais prosaica, é porque vou estar de férias três semanas e ficarei muito longe de tudo isto e com um acesso reduzido à net, pelo que postarei muito mais irregularmente. O próprio AV2 também estará a meio gás e, por isso o AVP, durante as primeiras semanas de Agosto, terá um ritmo de publicação muito menor.
Como obviamente respondeu por mim, eu não tenho estrutura para abandonar qualquer tipo de luta a meio.
Não é isso que penso fazer.
Apenas acho que existem intervenientes com um grau de conhecimento técnico superior ao meu para debaterem as questões práticas e concretas que este PDM suscita e que a minha crítica é mais global, visando principalmente a lógica que norteou a fase final deste trabalho de revisão e a aparente displiscência com que se está a proceder à discussão por parte da CMM, que afirma com facilidade não ser para cumprir à risca aquilo que apresenta como intocável.
Mas adiante.
Concentremo-nos noutros aspectos, infinitamente mais importantes:
A Democracia é algo que cada um define conforme os seus interesses e posições de circunstância, conforme está no Poder ou na Oposição, conforme se sente integrado no grupo dominante ou na classe dos dominados.
Mas, na sua essência, a Democracia passa pelo que se diz ser o governo do Povo, o que nos tempos que correm significa todos nós.
Por questões funcionais, para facilitar o seu funcionamento, foi criada a ideia do Contrato Social e o mecanismo da representação para que, na prática, a maioria sinta que delega o seu Poder através das eleições naqueles que são os seus "legítimos" representantes".
Tenho muitas dúvidas quanto a isto, não tanto teóricas como práticas, decorrentes do uso que tem sido dado a este mecanismo de Representação e ao abuso que tem sido feito da legitimidade que dela decorre.
Em termos nacionais, os últimos anos têm-me feito sentir afundar no famoso pântano guterrista, só que agora a lama já não está pelo joelho, nem pela cintura, nem pelo pescoço... correndo o risco de ficar sem meios para respirar...
A nível local, o poder autárquico que temos, grande conquista da Democracia, tem ido pelo mesmo caminho. A luta política local é uma luta de cliques pelo domínio do Poder na CMM e não um confronto de projectos.
Quem tem o poder acha-se como um conquistador que se sente cada vez mais sitiado e decide disparar indiferentemente contra quem está fora das suas muralhas.
Quem quer o poder usa todas as estratégias possíveis e imaginárias para aliciar um maior número de tropas a ajudá-los a entrar na muralha.
A pobreza de ideias e atitudes é gritante.
Pobreza semelhante só a que o nosso concelho vive, dividido entre a incompetência e incapacidade do poder político (Situação e Oposição juntas) perante o desinteresse pelo bem comum e a mera ganância de alguns poderes privados.
A nossa atitude aqui tem sido de denunciar o pouco que sabemos e de desmontar criticamente os discursos que nos dão a ouvir e a ler.
Nos primeiros tempos passámos despercebidos.
Quando deram por nós, levámos de todos os lados, desde ameaças mais ou menos veladas a insinuações sobre os nossos interesses pessoais.
A tudo isso demos resposta apropriada e, pela continuidade, demonstrámos ao que vínhamos, ou seja, reclamar o nosso direito à opinião e à intervenção cívica, em moldes mais pu menos convencionais.
Eu que me orgulho de ser independente (a sério) desde sempre e de nunca me ter candidatado a nada, não deixo contudo de achar que tenho o direito a exercer a minha cidadania mediante a expressão da minha opinião.
Até ao aparecimento dos blogs, e da liberdade que eles permitem, isso não me foi possível.
Exactamente de há dois anos para cá passei a dizer o que penso a quem me queira ler.
Em Outubro de 2003, em conjunto com um velho amigo, criei o AVP primeiro para dizer o que penso sobre a minha terra (Alhos Vedros) e o concelho envolvente e em seguida para o abrir a outros temas e para cativar outros leitores, outros olhares, de maneira a isto ser mais do que um mero ambiente claustrofóbico.
Ao contrário de muitas acusações antigas, que felizmente foram desaparecendo, não estamos ao serviço de nenhuns interesses ocultos, não apresentamos um alinhamento partidário, nem pretendemos obter vantagens pessoais.
As tentativas de ataque à nossa credibilidade por essa via foram sucessivamente fracassando.
Apenas queremos ajudar a nossa terra a respirar, a afastar o marasmo que a tolhe, a dar voz qos que se sentem sem ela (passe-se o lugar-comum rasteiro) e, principalmente, a fazer ouvir a nossa Voz.
Acredito que tivemos um êxito moderado no nosso esforço. E para esse êxito contribuiram em muito, quer a abertura de O Rio à publicação de alguns textos iniciais nossos, quer a extraordinária colaboração prestada pelo nosso cloega bloguista Brocas com as suas fotos.
Ms é óbvio que não nos damos por satisfeitos e não vamos desaparecer de um momento para o outro, como muitos blogs com agenda programada ou objectivos a cumprir.
O AVP vai continuar a ser como sempre foi, mesmo que mudando com o passar do tempo, não estando o seu destino minimamente ligado ao resultado das próximas eleições autárquicas.
Como já fomos obrigados a escrever várias vezes, vai durar enquanto nos der prazer e enquanto acharmos que temos um papel a desempenhar.
E nunca será condicionado por pressões externas.
Como bem referiu, as lutas que se travam não são só as nossas, pela imediata sobrevivência.
Às vezes, as lutas mais importantes são as que se travam para prevenir o que se adivinha puderem vir a ser males maiores.
Quantas vezes a defesa do nosso vizinho, mesmo que distante, é tão importante como a nossa defesa.
Por isso, descansai, que aqui não nos calaremos sobre o PDM ou outros assuntos que tais.
Apenas, pedimos uma pausa para retemperar umas forças (são quase 2500 posts em 21 meses). Eu próprio noto que é necessário quando verifico que os meus nívesis de humor espontâneo e intolerância à asneira começam a baixar.
Nós não iremos retirar as tropas porque sabemos bom que, parafraseando a canção do MSP em epígrafe, se tolerarmos isto, a seguir podemos ser nós...

De novo um obrigado pelo ânimo transmitido e pelo ímpeto com isso foi feito,

AV1 (com a ajuda dos Manic Street Preachers, de Edvard Munch e do seu Grito)

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