A principal razão que me tem levado a ocupar boa parte dos meus textos a desancar o que chamo de "poder moiteiro" passa pelo facto de achar que nos últimos 20 anos o concelho foi sucessivamente errando nas suas opções de desenvolvimento. Passado o período da euforia pós-revolucionária e de ajustamento a um poder local democrático, colocavam-se sérias opções quanto ao modelo preconizado e a adoptar para o futuro do concelho, o que acabou por não acontecer da forma que considero mais adequada e vantajosa para a sua população, seja por ausência de uma acção coerente, seja pela progressiva cedência a interesses vários, desde o apetite de um certo clientelismo partidário até a alguns vorazes apetites privados.
Na minha mais do que modesta opinião, os últimos 20-25 anos marcam um período de quase contínua incapacidade de delinear um rumo ou, quando esse rumo surge a querer delinear-se como nos últimos tempos, isso acontecer num sentido que qualifico como errado e, apesar dos laivos discursivos de modernidade, profundamente retrógrado e quase terceiro-mundista.
O desenvolvimento do nosso concelho - e vou deixar de parte a questão da sua sede - e a consolidação ou projecção de uma identidade própria, deveriam passar pela compreensão de três aspectos fundamentais:
a) Não adianta tentar modelos de desenvolvimento que não são (a nível económico, urbanístico, ambiental e mesmo social) auto-sustentáveis a médio-longo prazo e apenas respondem a necessidades de táctica política de curto prazo, assim como não são frutuosas para o interesse público opções insistem em jogar para outros a responsabilidade do seu sucesso, em última instância.
b) Uma identidade local vai-se criando de forma estratigráfica, mediante a sobreposição de diversas camadas e a combinação de variados elementos, sendo que a sua simplificação para efeitos de marketing só pode resultar redutora e empobrecedora.
c) A aposta em movimentos de expansão, e isso não se aplica apenas à gestão autárquica, não deve acontecer sem antes se ter consolidado o que existe. De onde decorre, a nível urbanístico por exemplo, que não faz sentido expandir periferias ou criar novos falsos-centros, se os centros históricos, aqueles que definem a identidade primária, estão em acelerada decadência e descaracterização. Tal como não tem qualquer tipo de lógica, consolidar os espaços vazios entre o que está ocupado, se o que está ocupado está em processo de corrosão.
Por fim, é muito importante para algumas criaturas mais esquisitas, embora compreenda que o não seja para muita outra gente, que o discurso produzido seja substancial e não mera coreografia retórica. Isso e ter o mesmo tipo de lógica para os níveis micro (local) e macro (nacional, global). Porque é isso que distingue uma liderança (política ou económica, tanto faz) com visão e coerência, de uma mera ocupação transitória e instrumental das cadeiras do poder.
Lá mais para a frente se concretizará o que aqui fica aflorado e se darão os nomes aos bois e se exemplificarão os pastos, passe a metáfora algo amoitada.
AV1 (ciente das suas opiniões pouco populistas e, por isso mesmo, pouco atractivas para certos comentadores)
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